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Antístenes

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Antístenes foi um filósofo grego que viveu entre 445 a.C. e 365 a.C. Ele foi um dos seguidores de Sócrates, um dos muitos que tentaram dar continuidade à sua filosofia.  É considerado o fundador de uma escola filosófica muito influente na antiguidade, a escola cínica.

Antístenes era filho de um pai ateniense e mãe da Trácia — região próxima à Grécia — o que lhe rendeu uma série de preconceitos. Os atenienses não viam com bons olhos qualquer pessoa que não fosse grega. De fato, chamavam todos de bárbaros, com um sentido totalmente depreciativo. O fato de Antístenes ser meio sangue ateniense e meio sangue bárbaro lhe rendeu certa discriminação, porém parece ter sido muito inteligente nas respostas àqueles que insistiam fazer piadas com isso. A quem o ridicularizava, respondia “a mãe dos deuses também é da Frígia” ou os insultava afirmando que os atenienses “não eram mais nobres que caracóis e gafanhotos”.

Antístenes inicialmente estudou com Górgias, um dos primeiros sofistas, com quem aprendeu retórica. Em seguida encontra Sócrates e abandona seus estudos iniciais. A filosofia de Sócrates passou a exercer uma grande atração. Conta-se que caminhava diariamente cerca de oito quilômetros para ouvir Sócrates, com quem aprendeu a resistência e a impassibilidade, duas características marcantes da filosofia cínica.

Seus livros somaram dez volumes sobre os mais diversos assuntos,  a ponto de ser chamado de “tagarela prolífico”, mas todos se perderam na antiguidade. Conhecemos um pouco de seu pensamento por intermédio de fontes secundárias.

Vamos conhecer alguns temas de sua filosofia.

As convenções sociais

Os cínicos eram diretos e não faziam nenhum esforço para respeitar as convenções sociais. Diziam o que viam e pensavam, sem restrições. A língua afiada de Antístenes fez inúmeras vítimas, entre elas Platão.  Certa vez disseram que Platão falava mal sobre ele, ao que respondeu: “é um privilégio dos reis agir bem e ouvir falar mal.”

Durante uma procissão viu um cavalo que trotava de maneira solene, se virou para Platão e, ridicularizando o orgulho desse, disse “parece-me que também poderias marchar como aquele vistoso cavalo”. Outra vez, foi visitar Platão doente, e vendo uma bacia na qual havia vomitado, disse “vejo a bile aqui, mas não consigo ver o orgulho.”

Presente em uma espécie de culto religioso e ouvindo do sacerdote que aqueles que adotavam sua religião tinham muitas vantagens na vida após da morte, respondeu “então, por que não morres?”

Dizia ainda, zombando do sistema de escolha de generais usado pelos atenienses, para decretarem que os asnos são cavalos. Sua justificativa era a seguinte: “os generais não parecem ter experiência alguma e são eleitos com um simples levantar de mãos.”

Os cínicos prezavam pela liberdade, sob várias formas. Umas delas é a liberdade de palavra, ou seja, dizer o que se pensa, com sinceridade. Nesse aspecto, desafiam as convenções sociais que exigem uma certa dissimulação e não dizer tudo que se pensa, para manter as aparências.

Antístenes também não fazia questão de levar a sério as leis da cidade. O homem sábio, pensava, não é aquele que faz tudo o que as leis ordenam, mas aquele que é capaz de avaliar, através do uso de sua própria razão, o que é correto e o que é incorreto. As leis não passam de convenções sociais adotadas em uma cidade. São apenas os costumes de um povo particular. O homem sábio procurará viver de acordo com sua razão, não de acordo com a vontade da cidade.

Simplicidade voluntária

Outra característica marcante da escola cínica que inicia com Antístenes é a escolha por uma vida simples sem a necessidade de grande riqueza. É importante não confundir isso com pobreza, já que essa é uma privação involuntária de bens necessários para uma vida digna.

O que Antístenes e outros cínicos faziam era abrir mão de coisas supérfluas para viver de forma autossuficiente. O sábio é aquele que se basta a si mesmo e cuja felicidade não depende de fatores externos, sejam pessoas ou coisas. Esse ideal de independência era conhecido pela palavra grega autarquia.

Em relação a isso, Antístenes dizia, por exemplo, que a bagagem necessária em uma viagem é aquela que fica boiando quando o navio afunda.

A ética de Antístenes

O ideal de vida de Antístenes era de total independência, liberdade e autossuficiência. O sábio é aquele que se basta a si mesmo. E isso exige muito trabalho e esforço, para se desligar da riqueza, não sofrer com a dor, abrir mão dos prazeres, da fama, tudo que seja exterior. O ideal do filósofo é construir uma espécie de fortaleza psicológica de modo que não dependa de ninguém nem de nada para uma existência plena.

Nesse processo, é fundamental a prática, não a teoria. Antístenes demonstrava um certo desprezo pela filosofia especulativa, que se limitava a teorizar sobre a vida, a felicidade etc. O filósofo é como um atleta. Cabe a ele praticar sua concepção de vida para se tornar mais forte, impassível, resistente.

Embora todos os livros escritos por Antístenes tenham sido perdidos, restaram muitas máximas do filósofo que expressam seu pensamento sobre ações humanas em diversas ocasiões.

Alguém que lhe perguntou com que mulher se casar, respondeu: “se escolheres uma mulher bela não a terás somente para ti; se for feia, penará por isso.”

Dizia que era melhor cair entre os corvos do que os aduladores, porque “os primeiros devoram os mortos, e os outros devoram os vivos” e que devemos dar atenção aos inimigos, porque “são os primeiros a notar nossos erros.”

Referências e leitura adicional

Diógenes Laércio. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Brasília: Editora Universidade de Brasília.

Giovanni Reale. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média.. São Paulo: Paulus Editora.

“Antisthenes,” por Julie Piering, The Internet Encyclopedia of Philosophy, ISSN 2161-0002, https://www.iep.utm.edu/, acesso 22/05/2019.