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Tales de Mileto

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Tales de Mileto é um filósofo pré-socrático que nasceu na cidade de Mileto, na Grécia Antiga, provavelmente em 624 a.C., e morreu em 546 a.C. Ele é considerado o pai da filosofia por ser o primeiro a responder a questão sobre do que são feitas as coisas e explicar uma série de fenômenos naturais utilizando o raciocínio e a observação ao invés de criar mitos e histórias fantasiosas para isso.

Ele também é considerado um dos sete sábios da antiguidade. Sua reputação se deve ao fato de ter uma grande variedade de interesses: filosofia, matemática, astronomia e engenharia. Essa ampla gama de conhecimentos permitiu-lhe desenvolver ideias inovadoras e influentes em cada uma dessas áreas, tornando-se um verdadeiro pioneiro do pensamento filosófico e científico.

Astronomia

Tales fez contribuições significativas no campo da astronomia. Ele é famoso por ter previsto um eclipse solar que ocorreu em 585 a.C., o que foi um marco na história da ciência. Se supõe que ele chegou a essa conclusão através da observação dos ciclos da natureza e do estudo das regularidades astronômicas. Ele teria analisado registros anteriores de eclipses e, a partir deles, percebeu um padrão que lhe permitiu fazer a previsão.

Além disso, Tales foi capaz de determinar os solstícios, ou seja, os momentos em que o sol atinge seu ponto mais alto (solstício de verão) ou mais baixo (solstício de inverno) no céu. Ele conseguiu isso observando o movimento aparente do sol ao longo do ano e percebendo que havia dois pontos em que o sol parecia “parar” antes de mudar de direção. Dessa forma, ele estabeleceu uma base para a compreensão dos ciclos sazonais e da duração dos dias e noites ao longo do ano.

Tales também propôs um método para medir o tamanho do sol e da lua. Ele acreditava que a lua estava a uma distância fixa da Terra e que seu tamanho aparente era proporcional à sua distância. Com base nessa suposição, utilizou a geometria e os ângulos formados durante um eclipse lunar total para calcular a proporção entre o diâmetro do sol e da lua e suas respectivas distâncias à Terra. Embora suas estimativas não fossem totalmente precisas, seu método demonstrou a importância da observação e do raciocínio matemático na busca pelo conhecimento científico.

Sua preocupação com a astronomia lhe rendeu não só conhecimento, mas também alguns momentos de distração e embaraço. Conta-se que uma vez, enquanto caminhava absorto na observação das estrelas, não percebeu um obstáculo em seu caminho e caiu em uma vala, ficando preso e tendo que pedir socorro. Uma velha que o acompanhava, ao testemunhar o incidente, zombou dele com sarcasmo e disse: “Como pretendes, Tales, tu, que não podes sequer ver o que está à sua frente, conhecer tudo acerca do céu?”. 

Ideias sobre a Terra

Também são atribuídas a Tales várias teorias sobre o planeta Terra, seu formato e as causas de alguns fenômenos como os terremotos.

Ele acreditava que a Terra repousava sobre a água, uma ideia que ele explicou através da analogia de que a Terra está em repouso porque é da natureza da madeira e de substâncias semelhantes, que têm a capacidade de flutuar na água, embora não no ar. Tales provavelmente chegou a essa conclusão observando os navios no porto de Mileto e comparando sua flutuação com a de troncos de árvores. Ele pode ter imaginado que a Terra possuía alguma qualidade semelhante que lhe permitia flutuar na água. Embora essa teoria esteja em desacordo com o conhecimento atual, ela demonstra o pensamento racional e as observações empíricas do filósofo.

Aristóteles atribuiu a Tales o conhecimento da esfericidade da Terra. Se supõe que ele pode ter chegado a essa conclusão observando fenômenos astronômicos, como eclipses solares, o movimento das estrelas e a forma como objetos desaparecem no horizonte. Essas observações teriam sido difíceis de explicar se a Terra fosse plana e, portanto, podem ter levado Tale a propor a ideia de uma Terra esférica.

Consistente com sua hipótese de que a Terra flutua na água, Tales propôs que os terremotos ocorriam quando a Terra oscilava devido à agitação das águas sobre as quais repousava. Embora a teoria esteja incorreta, demonstra um avanço em relação à visão tradicional de que os terremotos eram causados por Poseidon, um deus irritado que sacudia a Terra com seus passos rápidos, pois fornece uma explicação que não envolve entidades ocultas, deuses e mitos.

Matemática

Na história da geometria, Tales é conhecido por ter descoberto um teorema que leva seu nome e é amplamente utilizado até hoje. Ele foi capaz de provar que, em um conjunto de linhas paralelas cortadas por uma transversal, os segmentos interceptados na transversal são proporcionais.

Além disso, ele foi um dos primeiros a medir a altura das pirâmides do Egito, o que foi uma grande conquista na época. Para medir a altura das pirâmides, utilizou um método bastante engenhoso: ele mediu a sombra da pirâmide em um determinado momento do dia, quando a sua própria sombra tinha o mesmo comprimento que sua altura. Usando proporções, ele foi capaz de calcular a altura da pirâmide com base no comprimento da sombra. Esse feito demonstrou as habilidades matemáticas de Tales e sua capacidade de aplicar a geometria em problemas do mundo real.

Com base em seu conhecimento sobre a natureza, Tales quis mostrar aos que duvidavam da importância dos seus estudos em filosofia o quanto eles realmente valiam. Ele conseguiu prever uma safra farta de azeitonas e, com essa informação, alugou todos os moinhos da região que eram usados para produzir azeite. Com essa estratégia, ganhou um bom dinheiro e provou que o estudo da filosofia pode ser bastante útil na vida prática.

Tudo surge da água

Tales foi o primeiro a buscar uma explicação racional para a questão “do que são feitas todas as coisas?” Entre os filósofos pré-socráticos que vieram depois dele, essa se tornou uma questão importante. Todos eles buscaram um princípio a partir do qual todo que existe à nossa volta foi criado. Em grego isso se chama de arché.

O que ele pretendia ao perguntar qual o princípio ou arché de todas as coisas era encontrar um elemento fundamental do qual todas as coisas se originam e no qual todas se tornam no momento que deixam de existir. E qual sua resposta? Para ele, esse elemento era a água. Ou seja,  ele acreditava que todas as coisas eram geradas a partir da água e que voltavam a ser água depois que deixassem de existir.

Não restou nenhum texto escrito por Tales, de modo que não sabemos ao certo porque ele acreditava que a água era o princípio de todas as coisas. Alguns intérpretes posteriores fizeram algumas suposições para explicar essa concepção.

Uma delas é a versatilidade da água. Esse elemento pode passar por mudanças, como evaporação e condensação, se tornar líquida, sólida ou gasosa e, apesar de todas essas transformações de estado, ela permanece sempre a mesma substância. Ora, é justamente isso que precisa um elemento básico: que permaneça inalterado mesmo com as transformações pelas quais passa aquilo que compõe.  Além disso, está presente nas mais diferentes coisas da natureza. Ela é essencial para as plantas e animais e está presente em muitos fenômenos naturais.

O legado de Tales

Se olharmos para as contribuições de Tales, veremos que muita coisa já não faz mais sentido. Sabemos que a substância básica da natureza não é a água, mas os átomos, sabemos que a Terra não flutua sobre a água e que a causa dos terremotos não é a oscilação do mares. 

Ainda assim, ao abandonar os mitos e adotar uma abordagem baseada na observação e no raciocínio lógico para pensar sobre a natureza, Tales fez uma contribuição inestimável para a filosofia e a ciência. Ao questionar a natureza das coisas e buscar explicações lógicas, ele abriu caminho para uma nova forma de pensar, que influenciou não apenas os filósofos pré-socráticos que o seguiram, mas também o desenvolvimento da ciência e da filosofia ao longo da história. Sua busca por um princípio único e natural, no caso a água, como origem de tudo, e suas teorias baseadas na observação e no raciocínio, fizeram dele um pioneiro na maneira como entendemos e investigamos o mundo à nossa volta. 

Referências

LAÉRCIO, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1988.

O’GRADY, Patricia. Thales of Miletus. Internet Encyclopedia of Philosophy. Disponível em: <https://iep.utm.edu/thales/>.

OSBORNE, Catherine. Filosofia pré-socrática. Porto Alegre: L&PM, 2013.

REALE, Giovanni ; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Filosofia Pagã Antiga. São Paulo: Paulus, 2007.