Como as emoções influenciam os pensamentos segundo Aristóteles

Você já percebeu como seus sentimentos mudam a forma como você pensa sobre as pessoas ou situações à sua volta? Imagine o seguinte: você está na escola e recebe uma mensagem de um amigo que diz: “Precisamos conversar depois.” Se você estiver de bom humor, talvez pense que ele tem algo legal para contar, como uma ideia para o fim de semana. Agora, e se você estiver irritado ou ansioso? Talvez imagine que ele está bravo com você, ou que algo ruim aconteceu. O que mudou nesse caso? A mensagem é a mesma, mas o modo como você a interpreta pode ser completamente diferente dependendo do que você está sentindo no momento.
Aristóteles, um filósofo grego da Antiguidade, já tinha percebido algo parecido: ele dizia que nossas emoções influenciam diretamente o que pensamos e como julgamos o mundo. Quando estamos com raiva, vemos as situações de um jeito; quando estamos calmos ou esperançosos, enxergamos de outro.
No livro chamado Retórica, Aristóteles escreveu o seguinte:
As emoções são os movimentos da alma, sempre acompanhados por sofrimento ou prazer, que afetam os homens, alterando seus julgamentos. Assim acontece quando eles estão zangados, com pena de alguém, ou com medo.
O que ele quer dizer aqui? Basicamente, que as emoções — como a raiva, a pena ou o medo — não são apenas sentimentos que sentimos "por dentro". Elas influenciam diretamente o modo como pensamos sobre as pessoas, os acontecimentos e as decisões que tomamos.
Dois exemplos
Raiva e tolerância
No mesmo livro, Retórica, Aristóteles escreve:
Quando as pessoas têm sentimentos favoráveis ao sujeito que lhes é apresentado para julgamento, elas o veem como autor de um mal pequeno, se tanto. Mas quando têm sentimentos de hostilidade, formam uma opinião oposta.
O que ele quer dizer aqui? Imagine que você e um colega de classe têm uma boa relação, e ele, sem querer, esbarra em você e derruba seus materiais no chão. Provavelmente, você pensará algo como: "Ah, foi um acidente, ele não fez por mal." Agora, e se fosse uma pessoa com quem você já teve uma briga recente, alguém que você não gosta muito? Nesse caso, talvez você interprete o mesmo acontecimento de outra maneira, pensando: "Ele fez isso de propósito!"
Veja como o julgamento sobre a mesma ação — esbarrar em você — pode ser completamente diferente dependendo do sentimento que você tem em relação à pessoa. Se você está em um estado de tolerância ou boa disposição, tende a minimizar o impacto do que aconteceu. Mas, se está irritado ou sente hostilidade, a mesma ação parece muito mais grave.
Essa ideia de Aristóteles nos ajuda a perceber como as emoções podem nos levar a ser injustos em nossas avaliações, especialmente em momentos de raiva ou conflito.
Ansiedade e aborrecimento
Aristóteles também escreveu sobre como nossos estados emocionais afetam nossas expectativas em relação ao futuro:
Se as pessoas estão ansiosas e alimentam grandes esperanças em relação a algo que lhes será agradável, elas pensam que isso certamente vai acontecer e que seus efeitos serão bons. Mas quando estão indiferentes ou aborrecidas, não pensam assim.
Um exemplo ajuda a esclarecer isso. Imagine que você está esperando o resultado de uma entrevista para algo muito importante, como participar de um programa de intercâmbio ou conseguir um estágio dos sonhos. Se você estiver ansioso e cheio de expectativas, pode começar a pensar: "Com certeza vou ser escolhido, acho que tudo deu certo! Vai ser incrível!" Sua emoção gera um otimismo exagerado, que pode até levar a conclusões precipitadas.
Agora, imagine o contrário: você está em um estado de indiferença ou até mesmo desânimo. Nesse caso, talvez pense: "Tenho certeza de que não deu certo. Não faz diferença, porque essas coisas nunca acontecem comigo mesmo."
Note como a emoção (ansiedade ou indiferença) altera completamente a forma como você avalia a situação. Para Aristóteles, essas mudanças mostram como os nossos sentimentos não só afetam o que pensamos, mas também influenciam nossas decisões e comportamentos. A ansiedade pode nos levar a criar expectativas irreais, enquanto a indiferença pode nos fazer desistir de algo antes mesmo de tentar.
Como as emoções afetam seus pensamentos?
Como vimos, nossas emoções têm um impacto profundo na forma como julgamos o mundo e as pessoas à nossa volta. Aristóteles nos ensina que as emoções não são apenas sentimentos internos: elas afetam diretamente nossos pensamentos e decisões. Isso significa que, para pensarmos de forma mais justa e equilibrada, precisamos estar atentos ao que sentimos. Será que estamos sendo influenciados pela raiva de forma exagerada? Pela ansiedade? Pela indiferença? Pela alegria ou pela tristeza?
Referência
ARISTÓTELES. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996.