O que são as emoções segundo os estoicos e como controlá-las
Você já se pegou gritando ou dizendo algo que nem queria, no calor de um momento de raiva? Ou já se arrependeu profundamente por uma atitude agressiva? A raiva é uma emoção intensa e poderosa, que pode tomar conta de nós rapidamente e nos levar a fazer coisas que depois gostaríamos de ter evitado.
Os estoicos também pensavam assim. Sêneca, um filósofo romano que nasceu em 4 a. C., escreveu um livro sobre a ira no qual descreve a raiva como uma “pequena loucura”, pois uma pessoa tomada por ela é
“desprovida de autocontrole[...], obstinadamente absorta no que quer que comece a fazer, surda à razão e ao conselho, excitada por causas insignificantes, estranha em perceber o que é verdadeiro e justo, e muito como uma rocha que se desfaz em pedaços sobre a mesma coisa que esmaga”.
Diante de um fenômeno tão poderoso, é natural nos perguntarmos: por que sentimos essas emoções fortes? E mais importante: será que podemos controlar essas emoções e evitar suas consequências prejudiciais? Vamos ver o que os estoicos têm a dizer.
Como os estoicos definem emoção
Para os estoicos, as emoções, incluindo a raiva, não são reações automáticas ou inevitáveis. Na verdade, elas surgem como resultado de um processo que envolve a participação da nossa mente. Sêneca, em seu livro Sobre a Ira, explica que a formação de uma emoção passa por diferentes estágios, começando por um movimento inicial involuntário até chegar ao descontrole total.
O primeiro movimento é o estágio inicial, quando a mente reage de forma involuntária ao que aconteceu. É como um reflexo. Imagine que alguém esbarra com força em você no corredor da escola, de maneira brusca e aparentemente rude. Na hora, seu corpo responde automaticamente: talvez você sinta um impacto físico, seus músculos tensionem, ou seu coração acelere. Nesse momento, ainda não houve uma análise racional do que aconteceu – é apenas uma reação natural e imediata ao evento.
O segundo estágio acontece quando a mente começa a interpretar o que acabou de acontecer. É aqui que você começa a pensar: "Isso que aconteceu foi errado? Foi uma ofensa? Eu preciso reagir?". Nesse momento, o julgamento acontece. Você pode concluir, por exemplo, que a pessoa esbarrou sem querer porque estava distraída, ou pode pensar que o gesto foi intencional, talvez até um desrespeito. "Será que essa pessoa não gosta de mim?", "Será que ela quis me provocar ou me desrespeitar?". Em muitas situações, esse tipo de pensamento passa pela cabeça, especialmente se achamos que estamos sendo "zombados" ou desafiados.
É em função desse julgamento que o terceiro estágio pode surgir: a emoção descontrolada. Se você decide que o esbarrão foi uma provocação ou um gesto ofensivo, sua mente dá total assentimento a esse pensamento, e a raiva se instala. Esse é o momento em que a emoção toma conta e, muitas vezes, acabamos agindo de forma impulsiva: devolvendo o empurrão, gritando ou partindo para uma discussão. Para os estoicos, é nesse estágio que a emoção deixa de ser uma reação e se torna um problema, pois ela domina a razão e nos leva a atitudes das quais podemos nos arrepender depois.
Como “controlar” as emoções
Quando pensamos em "controlar as emoções", muitas vezes imaginamos que isso significa lutar contra algo instintivo ou selvagem, como se houvesse um animal feroz dentro de nós que precisa ser domesticado. Essa ideia é comum, mas para os estoicos, ela não representa o que realmente acontece. Segundo eles, as emoções não são forças irracionais que surgem do nada e precisam ser reprimidas ou contidas. Pelo contrário, elas são o resultado direto de como pensamos e avaliamos as situações ao nosso redor.
É importante lembrar que a emoção para os estoicos não é apenas uma reação involuntária. O movimento inicial – aquele arrepio ou aceleração do coração diante de algo que nos surpreende – é apenas o começo. A verdadeira emoção surge quando associamos a esse movimento um julgamento, um pensamento sobre o que aconteceu. Sempre que sentimos uma emoção, como raiva, tristeza ou medo, existe um pensamento por trás dela que a sustenta.
Vamos considerar o exemplo que vimos antes: alguém esbarra com força em você no corredor da escola. De início, seu corpo reage automaticamente ao impacto – você sente a tensão nos músculos e talvez um leve incômodo. Esse é o movimento inicial, que acontece de forma involuntária. Mas o que acontece depois é o que realmente importa. É nesse momento que a mente começa a avaliar a situação: "Foi de propósito?", "Essa pessoa está me provocando?", "Será que ela está tentando me desrespeitar?"
Se você interpretar o gesto como uma provocação intencional, a raiva rapidamente se instala, levando a uma reação impulsiva. Por outro lado, você também pode avaliar a situação de outra maneira: "Talvez tenha sido um acidente", "Ela pode estar distraída ou com pressa." Esse tipo de pensamento diminui o impacto emocional, e a raiva não se desenvolve.
É por isso que, para os estoicos, "controlar as emoções" significa aprender a avaliar as situações de maneira diferente. Se as emoções nascem dos pensamentos, podemos mudá-las ao mudar o modo como interpretamos o que acontece ao nosso redor. Assim, controlar as emoções não é reprimir o que sentimos, mas sim transformar os pensamentos que alimentam essas emoções, usando a razão como guia.
Os estoicos acreditavam que, embora o primeiro movimento seja inevitável, nós temos o poder de intervir durante o julgamento e definir que tipo de emoção irá surgir de um determinado acontecimento. Afinal, o que realmente importa não é o que acontece, mas o que pensamos sobre o que aconteceu.
Referências
SÊNECA. Sobre a Ira. São Paulo: Montecristo Editora, 2018.