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7 Livros sobre Sócrates para conhecer sua vida e pensamento

- 7 min leitura

Sócrates, a figura emblemática da filosofia antiga, permanece até hoje um dos pensadores mais influentes da história. Apesar de não ter deixado nenhum registro escrito de seu pensamento, sua influência se estende por milênios graças aos relatos de seus contemporâneos e alunos, como Platão e Xenofonte. Seu método de interrogação, conhecido como o método socrático, é uma pedra angular do pensamento crítico até hoje e sua vida, julgamento e execução foram eventos fundamentais que moldaram a filosofia ocidental.

Nessa lista de livros sobre Sócrates, selecionamos algumas obras escritas por Platão que nos mostram o filósofo dialogando com diferentes pessoas, explorando conceitos éticos e refletindo sobre a correção ou não de determinadas ações, se defendendo diante de um júri ateniense das acusações que o levariam à morte e explicando para seus amigos porque aceitar essa condenação era a coisa mais certa a fazer. Além desses,  para os que estão começando a aprender sobre Sócrates, também incluímos livros recentes que apresentam a vida, o contexto e o pensamento do filósofo de maneira didática. E para aqueles que desejam praticar o método de diálogo socrático em suas próprias reflexões ou em discussões com outras pessoas, incluímos um livro em nossa lista que poderá ser um excelente guia.

Com essa variedade de recursos, esperamos que você encontre as ferramentas necessárias para conhecer o rico legado de Sócrates, que continua a inspirar as mentes mais curiosas, mesmo depois de mais de 2000 anos de sua morte..

Laques

O primeiro diálogo de nossa lista, Laques, se situa em um contexto de discussão sobre a educação dos jovens na Atenas antiga. A conversa se inicia quando Lísímaco e Melesias, preocupados com a educação de seus filhos, pedem aconselhamento a Laques e Nicias, dois generais atenienses respeitados.

A conversa entre eles, com a intervenção de Sócrates, rapidamente se volta para a definição e o entendimento do conceito de coragem, uma das virtudes essenciais na Grécia antiga. A questão fundamental que orienta a discussão é “o que é afinal a coragem?” Ao longo desse diálogo, vemos Laques apresentar diferentes definições e, com a ajuda das perguntas feitas por Sócrates, reconhecer que não são satisfatórias.

Esse é um típico diálogo socrático e encerra com Laques reconhecendo que não sabe ao certo o que é a coragem como pensava de início. Para o leitor que buscar no diálogo uma definição de coragem, a leitura talvez desaponte. O valor de Laques reside em sua demonstração do processo socrático de questionamento. Para o leitor que deseje compreender isso e quem sabe examinar suas próprias compreensões sobre a coragem enquanto acompanha o raciocínio de Sócrates e Laques, a experiência será esclarecedora.

Eutífron

Eutífron é o segundo diálogo de nossa lista e acontece em um momento crucial na vida de Sócrates. Ele ocorre logo após Sócrates receber a acusação de corromper a juventude ateniense e de não acreditar nos deuses da cidade, acusações essas que posteriormente o levariam a julgamento.

Próximo ao tribunal ateniense, Sócrates encontra Eutífron, que pretende acusar seu próprio pai de homicídio, uma atitude que ele acredita ser correta e piedosa, demonstrando respeito aos deuses, ao menos segundo o seu pensamento.

Com essa situação como pano de fundo, Sócrates conduz Eutífron a uma discussão sobre a natureza da piedade. A questão principal que orienta a conversa é “o que é a piedade?” Durante o diálogo, Eutífron apresenta várias definições do que seria piedoso, mas, sob o escrutínio socrático, nenhuma delas se mostra aceitável.

Em um certo momento do diálogo, Sócrates formula o famoso “Dilema de Eutífron”. Este dilema coloca em questão se as ações são piedosas porque são amadas pelos deuses, ou se são amadas pelos deuses porque são piedosas. Ou, em uma formulação um pouco diferente da presente no diálogo, as ações são corretas porque os deuses mandam ou os deuses mandam porque são corretas?

Eutífron termina sem uma resposta satisfatória para o dilema, deixando o leitor com questões a ponderar. Mais uma vez, a contribuição socrática não está em fornecer respostas prontas, mas em incitar o questionamento e a reflexão.

Como em Laques, Eutífron é uma leitura preciosa para aqueles interessados em experimentar a aplicação do método socrático em primeira mão. Embora o diálogo não ofereça uma definição definitiva de piedade, ele convida o leitor a mergulhar na investigação filosófica e a examinar suas próprias crenças e suposições.

Apologia

“Apologia de Sócrates” é o terceiro diálogo da nossa lista. Ele é uma espécie de transcrição feita por Platão do discurso de defesa que o filósofo apresentou perante o tribunal de Atenas da acusação de corromper a juventude e de desrespeitar os deuses tradicionais da cidade, ambas de grande peso na sociedade ateniense.

Em sua defesa, Sócrates não pede desculpas ou se retrata de suas ações, mas, ao contrário, reafirma seus princípios e as razões pelas quais conduz sua vida da maneira como o faz. Em vez de tentar convencer o júri de sua inocência com apelos emocionais, Sócrates apela à razão e ao julgamento moral dos jurados, questionando a validade e a base das acusações que lhe são imputadas.

O tema central da “Apologia de Sócrates” é a defesa da filosofia e da vida filosófica, representada pelo próprio Sócrates como um caminho de busca incessante pela verdade e pela virtude. Sócrates argumenta que sua missão filosófica, longe de ser uma corrupção da juventude, é na verdade um serviço valioso à cidade de Atenas, incentivando seus cidadãos a viverem vidas mais reflexivas e moralmente conscientes.

A leitura da “Apologia” oferece uma visão íntima das convicções de Sócrates e de suas motivações. Para aqueles interessados não apenas no pensamento e no método socrático, mas também na pessoa que ele foi, essa é uma leitura essencial.

Críton

O diálogo Críton se desenvolve após o julgamento de Sócrates, quando ele foi condenado à morte pelos atenienses e está aguardando sua execução na prisão.

No meio desse cenário, Sócrates recebe a visita de Críton, um amigo, que propõe um plano para sua fuga da prisão. 

Diante dessa proposta, Sócrates conduz Críton a uma discussão sobre a natureza da justiça e da obrigação moral. A questão principal que orienta a conversa é “o que é o justo?” e “devemos sempre agir justamente, mesmo quando tratados injustamente?” Durante o diálogo, Críton apresenta diversos argumentos para justificar a fuga de Sócrates, mas, sob o escrutínio socrático, nenhum deles se mostra válido.

Sócrates acreditava que era melhor sofrer uma injustiça do que cometê-la e que não deveria desrespeitar as leis sob as quais viveu a vida toda. A conclusão do diálogo é que ele deve aceitar sua pena de morte, pois fugir seria cometer uma injustiça.

Críton termina com uma lição profunda sobre o compromisso com a justiça, mesmo quando essa justiça parece estar contra o indivíduo.

Sócrates em 90 minutos

Os próximos diálogos são leituras contemporâneas do pensamento e da vida de Sócrates.

Sócrates em 90 minutos, de Paul Strathern, é um breve e acessível resumo do pensamento e da vida de Sócrates. Este livro faz parte de uma série de biografias escrita pelo mesmo autor, dedicada a oferecer um vislumbre da vida e dos pensamentos dos filósofos mais influentes da história.

Com uma linguagem clara, Strathern guia o leitor através das contribuições socráticas para a filosofia. Ele apresenta conceitos centrais como o método socrático, um método de questionamento utilizado para examinar conceitos morais e identificar contradições nas crenças de um indivíduo. Ele também aborda a visão de Sócrates sobre o conhecimento humano, destacando sua famosa declaração “só sei que nada sei”, e sua crença na importância da virtude e do autoconhecimento.

O livro também traz um panorama do julgamento e condenação de Sócrates, eventos que marcaram sua vida e pensamento. Portanto, Sócrates em 90 minutos é uma excelente leitura introdutória para aqueles que buscam entender melhor Sócrates e suas contribuições para a filosofia de forma rápida.

O julgamento de Sócrates

O Julgamento de Sócrates, escrito por I.F. Stone, é um fascinante mergulho no momento mais dramático da vida do filósofo grego: seu julgamento e condenação à morte. Diferentemente dos diálogos de Platão, este livro é uma investigação histórica detalhada que procura lançar uma nova luz sobre os eventos que cercam esse famoso julgamento.

Com um olhar analítico, Stone apresenta um Sócrates bastante diferente do representado por Platão. Baseando-se em diversas fontes históricas e literárias da época, o autor oferece um relato crítico, tanto do próprio Sócrates e suas motivações quanto do clima político e social em Atenas que levou à sua condenação.

Stone dá atenção especial ao desdém de Sócrates pela democracia ateniense e a sua preferência por uma forma de governo mais elitista. Ao mesmo tempo, discute os aspectos do processo judicial que foram determinantes para o veredito.

O Julgamento de Sócrates é uma leitura recomendada para quem deseja conhecer melhor o Sócrates histórico, não apenas o retratado por Platão, e começar a explorar o vasto debate em torno de quem foi e o que realmente pensou Sócrates.

The Socratic Method: A Practitioner’s Handbook

Por fim, o último livro de nossa lista, The Socratic Method: A Practitioner’s Handbook, de Ward Farnsworth, serve como um guia prático para quem deseja entender e aplicar o método socrático. Em vez de focar na vida de Sócrates ou nas questões filosóficas de seus diálogos, este livro adota uma abordagem mais pragmática e educacional.

Farnsworth fornece um panorama completo do método socrático, desde suas origens históricas até suas aplicações contemporâneas. Ele descreve como as técnicas de questionamento de Sócrates podem ser usadas para estimular o pensamento crítico, incentivar o debate construtivo e aprofundar a compreensão dos conceitos. 

Este livro é ideal para educadores, advogados e qualquer pessoa interessada em desenvolver habilidades de argumentação, pensamento crítico e ensino. Através de sua leitura, temos a oportunidade de se aproximar da prática do método socrático e descobrir como aplicá-lo em diferentes contextos do dia a dia.