No dia 20 de junho de 2012, a estudante Brittany Trilford, neozelandesa de 17 anos, fez um apelo aos chefes de Estado e governo que se reuniram na Rio+20. Dizia ela: “Estamos todos conscientes de que o relógio está batendo e o tempo passando rapidamente. Vocês têm 72 horas para decidir o futuro de suas crianças, minhas crianças e netos. E eu dou a partida no relógio agora...tic tac, tic tac...” Fonte: http://imguol.com/2012/06/20/20jun2012. Acesso em 24 de junho de 2012.
Considere a declaração da estudante e o pensamento dos filósofos abaixo indicados. Marque, em seguida, a alternativa CORRETA.
Da afirmação de Brittany Trilford infere-se que o que está sendo feito para modificar a realidade ambiental é suficiente para garantir o futuro sustentável das próximas gerações.
Ao se preocupar com a passagem do tempo a estudante faz lembrar Rousseau. Segundo este filósofo, a bondade do homem se deteriora com o tempo.
O apelo feito pela estudante se aproxima da ideia do filósofo Hans Jonas, que, em sua obra O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica defende uma ação ética que sempre deve levar em consideração as futuras gerações.
A estudante se reconhece capaz de transformar a vida das futuras gerações, o que equivale à afirmação de Sócrates de que a sabedoria está no reconhecimento da ignorância.
Não existe nenhuma relação entre o apelo da estudante e as teorias filosóficas dos autores indicados, pois sistemas filosóficos em nada têm a ver com o meio ambiente e responsabilidade sobre ele.
Na obra O princípio responsabilidade, Hans Jonas propõe um ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Entre as principais teses defendidas pelo autor destacam-se:
I. Todas as éticas até hoje partilharam de alguns pressupostos em comum, tais como: a natureza humana e extra-humana eram consideradas imodificáveis pelo agir; todas as éticas foram essencialmente antropocêntricas; e a responsabilidade da ação humana limitava-se ao tempo presente.
II. Enquanto no passado a natureza humana e extrahumana eram invioláveis pela capacidade do poder tecnológico, a técnica moderna coloca em perigo a autenticidade da vida futura.
III. Ninguém pode ser responsabilizado pelos efeitos involuntários posteriores de um ato bem intencionado.
IV. A natureza deve, sobretudo, ser protegida porque, sem ela, o homem não poderá assegurar a sua sobrevivência.
V. O homem, com o poder da técnica moderna, passou a figurar como um objeto da própria técnica, perdendo sua autonomia, ou seja, o homo faber passou a dominar o homo sapiens.
Estão corretas APENAS as assertivas:
I, II e V.
III, IV e V.
I, III e V.
I, II e IV.
I, II e III.
Leia o texto a seguir.
A civilização tecnológica é definitivamente paradoxal e pensá-la como tal implica estar atento ao duplo sentido imposto pela questão: em primeiro lugar, entender que, efetivamente, as “maravilhas” proporcionadas pela técnica são tanto deslumbrantes como úteis à vida civilizada atual; em segundo, considerar que este deslumbramento, fruto da inteligência humana e impulsionado pela economia de mercado, tem um preço a ser contabilizado, ou seja, o excesso de sucesso da civilização da técnica é problemático, pois nos expõe a riscos imponderáveis, o que levou Hans Jonas a eleger a “heurística do temor” como o sentimento fundador da responsabilidade e essa com força capaz de moldar um imperativo ético para este novo tempo. (FONSÊCA, F. O. Hans Jonas: a tecnologia na senda da responsabilidade ética. In: SANTOS, R; OLIVEIRA, J; ZANCANARO, L. Ética para a civilização tecnológica: em diálogos com Hans Jonas. São Paulo: Centro Universitário São Camilo, 2011. p.250.)
Com base no texto e nos conhecimentos acerca de Hans Jonas, assinale a alternativa correta.
A base teórica da ética da responsabilidade é o utopismo desenvolvido pelo marxismo, que evoca a fé no homem do futuro em detrimento do atual, para poder com ele concretizar o projeto utópico através da revolução.
A ética da responsabilidade, para superar as contradições da civilização da tecnologia, move-se a partir do sentimento de esperança da ética da perfectibilidade de Ernst Bloch, bem como da ética racional despreocupada com a aplicabilidade.
O projeto técnico da modernidade assenta-se na ideia de que a técnica é fraca diante da necessidade, isso significa que o ciclo da natureza é imodificável pelos seres humanos, sendo as normas construídas sob a égide da natureza.
A ética tradicional e a técnica moderna, que se relacionam com a ideia de progresso e com o ideal de dominação da natureza de Francis Bacon, servem de fundamentação filosófica e epistemológica à ética de responsabilidade.
A ciência e a tecnologia contemporâneas podem ameaçar a sobrevivência da vida humana em caso de descontrole; neste sentido a responsabilidade como paradigma ético pode reeducar a civilização tecnológica, aconselhando seu agir.
Leia o trecho abaixo sobre o pensamento de Hans Jonas e assinale a alternativa correlata quanto ao seu sentido e implicações.
“A marca distintiva do ser humano, de ser o único capaz de ter responsabilidade, significa igualmente que ele deve tê-la pelos seus semelhantes, eles próprios, potenciais sujeitos de responsabilidade, e que realmente ele sempre a tem, de um jeito ou de outro: a faculdade para tal é a condição suficiente para a sua efetividade. Ser responsável efetivamente por alguém ou por qualquer coisa em certas circunstâncias (mesmo que não assuma e nem reconheça tal responsabilidade) é tão inseparável da existência do homem quanto o fato de que ele seja genericamente capaz de responsabilidade da mesma maneira que lhe é inalienável a sua natureza falante, característica fundamental para a sua definição, caso deseje empreender essa duvidosa tarefa” (JONAS, 2006, p. 175-176).
Entende-se que a Heurística do Medo não é um medo paralisante e nem um medo patológico, mas sim, um medo que desperta para o pensar e para o agir.
Percebe-se que existe um Dever implícito de forma muito concreta no Ser, com obrigações objetivas sob a responsabilidade externa, como, por exemplo, a Responsabilidade Paterna.
Nota-se que não devemos ver a destruição física da humanidade como sendo algo mais catastrófico. Se chegamos a esse ponto é porque houve uma morte essencial, uma grande desconstrução e crise do ser com o meio.
Entende-se que a Heurística do Medo não é um medo paralisante e nem um medo patológico, mas sim, um medo que desperta para o pensar e para o agir.
Fica claro que o imperativo de Kant é um caso extremo da ética da intenção, obedecendo à ação individual, válido no plano individual.
Compreende-se que Hans Jonas nega as premissas da ética tradicional e busca uma ponderação sobre o significado das mudanças sociais e econômicas para a nossa condição moral.
Leia o fragmento a seguir:
“O imperativo categórico de Kant dizia: ‘Aja de modo que tu também possas querer que tua máxima se torne lei geral’. Aqui, o ‘que tu possas’ invocado é aquele da razão e de sua concordância consigo mesma: a partir da suposição da existência de uma sociedade de atores humanos (seres racionais em ação), a ação deve existir de modo que possa ser concebida, sem contradição, como exercício geral da comunidade. Chame-se atenção aqui para o fato de que a reflexão básica da moral não é propriamente moral, mas lógica: o ‘poder’ ou ‘não poder’ querer expressa autocompatibilidade ou incompatibilidade, e não aprovação moral ou desa-provação. Mas não existe nenhuma contradição em si na ideia de que a humanidade cesse de existir, e des-sa forma também nenhuma contradição em si na ideia de que a felicidade das gerações presentes e seguin-tes possa ser paga com a infelicidade ou mesmo com a não-existência de gerações pósteras – tampouco, afinal, com a ideia contrária, de que a existência e a felicidade das gerações futuras seja paga com a infelici-dade e mesmo com a eliminação parcial da presente. O sacrifício do futuro em prol do presente não é logi-camente mais refutável do que o sacrifício do presente a favor do futuro”. (JONAS, Hans. O Princípio Responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006, p. 47).
Considerando esta passagem, é CORRETO afirmar que Hans Jonas:
preserva o imperativo categórico de Kant, pois a ética deve tratar exclusivamente de seres humanos.
preserva o imperativo categórico de Kant, uma vez que o imperativo da responsabilidade é voltado apenas para o momento.
modifica o imperativo categórico de Kant porque, segundo Kant, a ética trata exclusivamente da civi-lização tecnológica.
preserva o imperativo categórico de Kant, pois o imperativo da responsabilidade assume a caracte-rística de universalidade de forma hipotética, não prática.
modifica o imperativo categórico de Kant, considerando que podemos arriscar a nossa própria vida para proteger a humanidade futura.
Hans Jonas, na obra “O Princípio Responsabilidade”, formulou um novo e característico imperativo categórico, relacionado a um novo tipo de ação humana: “Age de tal forma que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autêntica sobre a terra” (JONAS, 2006, p. 48).
A este respeito, assinale a alternativa CORRETA.
Podemos deduzir que Hans Jonas propõe que o importante é o bem do indivíduo e não a coletividade futura.
O imperativo proposto por Hans Jonas é de ordem racional, para um agir coletivo como um bem público e não individual.
Podemos deduzir que não é importante a permanência da vida humana sobre a terra.
O importante é viver o presente sem se importar com o futuro da humanidade.
A ação de cada indivíduo não influencia na coletividade.
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