Sem negar que Deus prevê todos os acontecimentos futuros, entretanto, nós queremos livremente aquilo que queremos. Porque, se o objeto da presciência divina é a nossa vontade, é essa mesma vontade assim prevista que se realizará. Haverá, pois, um ato de vontade livre, já que Deus vê esse ato livre com antecedência. SANTO AGOSTINHO. O livre-arbítrio. São Paulo: Paulus, 1995 (adaptado).
Essa discussão, proposta pelo filósofo Agostinho de Hipona (354-430), indica que a liberdade humana apresenta uma
autonomia irrestrita.
utilização facultativa.
competência absoluta.
aplicação subsidiária.
natureza condicionada.
Se os nossos adversários, que admitem a existência de uma natureza não criada por Deus, o Sumo Bem, quisessem admitir que essas considerações estão certas, deixariam de proferir tantas blasfêmias, como a de atribuir a Deus tanto a autoria dos bens quanto dos males. Pois sendo Ele fonte suprema da Bondade, nunca poderia ter criado aquilo que é contrário à sua natureza. AGOSTINHO. A natureza do Bem. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2005 (adaptado).
Para Agostinho, não se deve atribuir a Deus a origem do mal porque:
por ser bom, Deus não pode criar o que lhe é oposto, o mal.
o surgimento do mal é anterior à existência de Deus
Deus apenas transforma a matéria, que é, por natureza, má.
Deus se limita a administrar a dialética existente entre o bem e o mal.
o mal, enquanto princípio ontológico, independe de Deus.
De fato, não é porque o homem pode usar a vontade livre para pecar que se deve supor que Deus a concedeu para isso. Há, portanto, uma razão pela qual Deus deu ao homem esta característica, pois sem ela não poderia viver e agir corretamente. Pode-se compreender, então, que ela foi concedida ao homem para esse fim, considerando-se que se um homem a usar para pecar, recairão sobre ele as punições divinas. Ora, isso seria injusto se a vontade livre tivesse sido dada ao homem não apenas para agir corretamente, mas também para pecar. Na verdade, por que deveria ser punido aquele que usasse da sua vontade para o fim para o qual ela lhe foi dada? AGOSTINHO. O livre-arbítrio. In: MARCONDES, D. Textos básicos de ética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
Nesse texto, o filósofo cristão Agostinho de Hipona sustenta que a punição divina tem como fundamento o(a)
distanciamento das práticas de sacrifício.
violação dos preceitos do Velho Testamento.
afastamento das ações de desapego.
insuficiência da autonomia moral.
desvio da postura celibatária.
Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Se estava ocioso e na realizava”, dizem eles, “por que não ficou sempre assim no decurso dos séculos, abstendo-se, como antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento, uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criar, como pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele aparece uma vontade que antes não existia?” AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Abril Cuitural, 1984.
A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, é um exemplo de reflexão filosófica sobre a(s)
certezas inabaláveis da experiência.
interpretação da realidade circundante.
essência da ética cristã.
abrangência da compreensão humana.
natureza universal da criação.
Não posso dizer o que a alma é com expressões materiais, e posso afirmar que não tem qualquer tipo de dimensão, não é longa ou larga, ou dotada de força física, e não tem coisa alguma que entre na composição dos corpos, como medida e tamanho. Se lhe parece que a alma poderia ser um nada, porque não apresenta dimensões do corpo, entenderá que justamente por isso ela deve ser tida em maior consideração, pois é superior às coisas materiais exatamente por isso, porque não é matéria. É certo que uma árvore é menos significativa que a noção de justiça. Diria que a justiça não é coisa real, mas um nada? Por conseguinte, se a justiça não tem dimensões materiais, nem por isso dizemos que é nada. E a alma ainda parece ser nada por não ter extensão material? (Santo Agostinho. Sobre a potencialidade da alma, 2015. Adaptado.)
No texto de Santo Agostinho, a prova da existência da alma
desempenha um papel primordialmente retórico, desprovido de pretensões objetivas.
serviu como argumento antiteológico mobilizado contra o pensamento escolástico.
antecipa o empirismo moderno ao valorizar a experiência como origem das ideias.
é fundamentada no argumento metafísico da primazia da substância imaterial.
é acompanhada de pressupostos relativistas no campo da ética e da moralidade.
Agostinho, em Confissões, diz: “Mas após a leitura daqueles livros dos platônicos e de ser levado por eles a buscar a verdade incorpórea, percebi que ‘as perfeições invisíveis são visíveis em suas obras’ (Carta de Paulo aos Romanos, 1, 20)”. Agostinho de Hipona. Confissões, livro VII, cap. 20, citado por: MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000. Tradução do autor.
Nesse trecho, podemos perceber como Agostinho
se utilizou da Bíblia para conhecer melhor a filosofia platônica.
separa nitidamente os domínios da filosofia e da religião.
foi despertado para o conhecimento de Deus a partir da filosofia platônica.
utiliza a filosofia platônica para refutar os textos bíblicos.
Este é um recurso exclusivo para assinantes. Assinantes podem copiar e modificar mais de 500 textos e 2000 questões disponíveis no nosso banco de questões de Filosofia, além de milhares de questões de Sociologia, Geografia e História.