Sentimos que toda satisfação de nossos desejos advinda do mundo assemelha-se à esmola que mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas as preocupações. SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradição filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade se mostra indissociavelmente ligada à
liberdade de expressão religiosa.
busca de prazeres efêmeros.
administração da independência interior.
fugacidade do conhecimento empírico.
consagração de relacionamentos afetivos.
Nossa felicidade depende daquilo que somos, de nossa individualidade; enquanto, na maior parte das vezes, levamos em conta apenas a nossa sorte, apenas aquilo que temos ou representamos. Pois, o que alguém é para si mesmo, o que o acompanha na solidão e ninguém lhe pode dar ou retirar, é manifestamente mais essencial para ele do que tudo quanto puder possuir ou ser aos olhos dos outros. Um homem espiritualmente rico, na mais absoluta solidão, consegue se divertir primorosamente com seus próprios pensamentos e fantasias, enquanto um obtuso, por mais que mude continuamente de sociedades, espetáculos, passeios e festas, não consegue afugentar o tédio que o martiriza. (Schopenhauer. Aforismos sobre a sabedoria de vida, 2015. Adaptado.)
Com base no texto, é correto afirmar que a ética de Schopenhauer
realiza um elogio à fé religiosa e à espiritualidade em detrimento da atração pelos bens materiais.
valoriza preferencialmente a simplicidade e a humildade, em vez do cultivo de qualidades intelectuais.
prioriza a condição social e a riqueza material como as determinações mais relevantes da vida humana.
valoriza o aprimoramento formativo do espírito como campo mais relevante da vida humana.
corrobora os padrões hegemônicos de comportamento da sociedade de consumo atual.
Manipulando as palavras, é possível construir falácias e sofismas a fim de superar nossos adversários no campo da argumentação. Adotando certas atitudes que desestabilizam emocionalmente nossos antagonistas, parecemos estar cobertos de razão. São expedientes que muitas vezes, até por instinto, acabamos por utilizar em conversas e discussões. Por uma questão de honestidade intelectual, porém, precisamos tomar consciência de que somos algozes e vítimas nesse jogo sujo.
O pensador alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), apoiando-se em sua observação e inspirando-se nas lições de Aristóteles, denunciou várias estratégias que, com maior ou menor brilhantismo, nós empregamos todos os dias, não propriamente para descobrir e divulgar a verdade, mas neutralizar e desmerecer o discurso do nosso interlocutor.
O que Maquiavel (1469-1527) pretendeu com O Príncipe, ao descrever o que se deve fazer para conquistar e preservar o poder político, assim Schopenhauer fez com relação às disputas verbais. O objetivo é defender-se das ameaças externas e ganhar a briga na base da palavra e da instauração de um clima emocional perturbador, deixando claro quem tem a mente mais arguta e a língua mais afiada, mesmo que seja necessário atropelar os escrúpulos e esmagar a ética.
(...) (Gabriel Perissé, prof. da Universidade Católica de Santos, revista Língua, set.2014)
Depreende-se do texto que:
usar falácias e sofismas passa necessariamente pela manipulação de palavras o que compensaria a falta de argumentação convincente.
lançar mão de sofismas e falácias é um jogo desonesto que vitima as pessoas sem idoneidade.
manipular palavras é a forma mais racional para derrotar o adversário num debate ou discussão.
desestabilizar o adversário emocionalmente é um recurso instintivo que acaba ganhando âmbitos de honestidade intelectual.
utilizar-se de falácias e sofismas seria um instrumento válido para provocar raiva no adversário e desestabilizá-lo numa discussão.
Pensar por si mesmo
A mais rica biblioteca, quando desorganizada, não é tão proveitosa quanto uma bastante modesta, mas bem ordenada. Da mesma maneira, uma grande quantidade de conhecimentos, quando não foi laborada por um pensamento próprio, tem muito menos valor do que uma quantidade bem mais limitada, que, no entanto, foi devidamente assimilada. Pois é apenas por meio da combinação ampla do que se sabe, por meio da comparação de cada verdade com todas as outras, que uma pessoa se apropria de seu próprio saber e o domina. Só é possível pensar com profundidade sobre o que se sabe, por isso se deve aprender algo; mas também só se sabe aquilo sobre o que se pensou com profundidade.
A leitura não passa de um substituto do pensamento próprio. Trata-se de um modo de deixar que seus
pensamentos sejam conduzidos em andadeiras por outra pessoa. Além disso, muitos livros servem apenas para mostrar quantos caminhos falsos existem e como uma pessoa pode ser extraviada se resolver segui-los. Mas aquele que é conduzido pelo gênio, ou seja, que pensa por si mesmo, que pensa por vontade própria, de modo autêntico, possui a bússola para encontrar o caminho certo.
Assim, uma pessoa só deve ler quando a fonte dos seus pensamentos próprios seca, o que ocorre com bastante frequência mesmo entre as melhores cabeças. Por outro lado, renegar os pensamentos próprios, originais, para tomar um livro nas mãos é um pecado contra o Espírito Santo. É algo semelhante a fugir da natureza e do ar livre seja para visitar um herbário, seja para contemplar belas regiões em gravuras. (Adaptado de: SCHOPENHAUER, A. A arte de escrever. Trad. de Pedro Süssekind. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 35-38.) De acordo com o filósofo Schopenhauer:
I. a leitura é o meio mais eficaz para adquirir e fixar o conhecimento.
II. não se deve substituir os próprios pensamentos pela leitura.
III. a leitura é uma forma de pensar conduzida por outra pessoa.
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