Thomas Hobbes: biografia e ideias principais
Desenho representando Thomas Hobbes.
Thomas Hobbes é conhecido principalmente por suas ideias políticas e concepções sobre a natureza humana. Ao longo da vida, sua principal preocupação foi entender como os seres humanos podem conviver numa comunidade política sem entrar em conflitos violentos.
Biografia
Thomas Hobbes nasceu em Malmsbury, Inglaterra, em 1588. Como ele observou em sua autobiografia, “nasceu gêmeo do medo” porque sua mãe entrou em trabalho de parto prematuro por medo de que a Armada Espanhola estivesse prestes a atacar a Inglaterra. Apesar disso, sua infância foi tranquila e foi educado nas melhores escolas da Inglaterra.
Quando adulto, trabalhou como tutor, foi inclusive professor de matemática do futuro Carlos II, rei entre 1660 e 1685. Esse trabalho lhe rendeu tempo para se dedicar aos estudos e contato com intelectuais importantes da Inglaterra, como Francis Bacon.
Essa proximidade com a monarquia inglesa também lhe rendeu um exílio. Hobbes viveu durante um período tumultuado na história inglesa. No início da década de 1640, quando ficou claro que o Parlamento iria atacar o rei Carlos I, Hobbes fugiu para a França. Como um monarquista dedicado, Hobbes temia a perseguição se permanecesse em uma Inglaterra dirigida por parlamentares. Ele permaneceu na França por onze anos, durante os quais produziu grande parte de seus escritos mais importantes.
Nesse período conheceu Descartes, filósofo francês que defendia o chamado dualismo de corpo e alma, ao qual Hobbes, um defensor do materialismo, se opunha completamente.
Ao longo de sua vida profissional, Hobbes foi mais frequentemente ridicularizado do que celebrado por seus contemporâneos. Na Inglaterra, suas obras foram banidas repetidamente, e o “anti-hobbesianismo” chegou a tal ponto em 1666 que seus livros foram queimados em Oxford. Por causa de sua filosofia materialista e sua oposição à igreja estabelecida, Hobbes era muitas vezes rotulado de ateu, embora nunca tenha afirmado ser um.
A reputação de Hobbes se estendeu a vários campos. Era conhecido como cientista (em particular na óptica), como matemático (especialmente na geometria), como tradutor de livros gregos clássicos e como filósofo. Mas é sobretudo por suas ideias políticas que ainda hoje é citado e discutido.
Hobbes continuou sendo um escritor incrivelmente prolífico até a velhice, sem se deixar deter pela oposição generalizada ao seu trabalho. Ele viveu até a idade de oitenta e nove anos durante uma época em que a expectativa de vida média não era muito maior que quarenta anos. E mesmo no final de sua vida continuou escrevendo e fazendo traduções. Mesmo tendo suas ideias repudiadas ainda hoje, é um pensador extremamente respeitado. Por mais repugnante ou atraente que seus pontos de vista possam ser para os leitores, suas teorias brilhantemente articuladas são lidas por pessoas de todo o espectro político. As ideias de Hobbes podem ser adotadas ou rejeitadas, mas nunca são ignoradas.
Filosofia de Thomas Hobbes
A filosofia de Hobbes, assim como de outros filósofos de seu tempo, é uma reação à filosofia escolástica. O filósofo queria dar um fim às controvérsias estéreis e intermináveis da Idade Média e criar um sistema de pensamento sólido, tanto quanto às conclusões da nova ciência.
O modelo de conhecimento sólido de Hobbes vem sobretudo da geometria e da ciência. Da primeira ele admira o método rigoroso de dedução de verdades a partir de princípios básicos. Da segunda, o materialismo. Apesar de ser um admirador da ciência, Hobbes não via com bons olhos o método indutivo proposto por Francis Bacon.
O materialismo de Hobbes
Ao longo da história da filosofia, duas concepções metafísicas sobre o mundo estão em constante disputa: o materialismo e o idealismo. O último defende que a natureza é constituída de duas substâncias básicas, uma material e a outra não material. De acordo com essa concepção, por exemplo, o homem possui corpo e alma. Já o materialismo nega esse dualismo. De acordo com essa teoria, o universo é constituído apenas de matéria e o ser humano não possui alma, mas apenas um corpo.
Hobbes é um defensor do materialismo. No Leviatã, sua principal obra, afirma que “o universo é corpóreo, isto quer dizer, possui corpo.” Ser corpóreo, para o filósofo, significa ter “comprimento largura e profundidade” e “aquilo que não é corpo não é parte do universo”.
O que é o coração, senão uma mola; e os nervos, senão várias cordas; e as articulações, senão várias rodas, dando movimento ao corpo inteiro.
Thomas Hobbes
Natureza Humana
A base da filosofia política de Hobbes é uma visão pessimista sobre a natureza humana e a vida em sociedade. Segundo o autor, os seres humanos são bastante imperfeitos. Estão constantemente sujeitos ao erro de julgamento, movidos por ideias falsas, influências de terceiros mal intencionados, não poucas vezes agem de forma egoísta, impulsiva e com uma preocupação excessiva com ninharias como a honra.
Por tudo isso, a paz no convívio social é algo frágil. Hobbes vê a guerra civil que atingiu a Inglaterra de seu tempo como o resultado dessa natureza humana intratável.
Para ele, sempre que o Governo de uma sociedade deixa de existir, se retorna ao chamado estado de natureza. E sendo o homem o que é, um ser egoísta, medroso e preocupado com a própria imagem diante da sociedade, o único resultado pode ser uma “guerra de todos contra todos”. Citando uma expressão latina, Hobbes afirma que “o homem é o lobo do homem”. Com isso quer dizer que, na ausência de um governo poderoso que obrigue a população a respeitar uma série de normas de convivência, o homem destrói o próprio homem.
Com isto se torna manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens.
Thomas Hobbes
O contrato social
Para Hobbes, a sociedade política é uma criação humana para resolver o problema da guerra de todos contra todos que prevalece no estado de natureza. A única forma de acabar com esse conflito generalizado é todos os homens concordando em transferir seus direitos, através de um contrato social, para uma única pessoa ou grupo que tenha poderes absolutos. Esse será o governo, responsável por garantir a paz na sociedade.
Hobbes foi um defensor da monarquia de seu tempo, que vinha sofrendo com os ataques dos parlamentaristas defensores da limitação do poder do rei. Porém, ao contrário de outros pensadores que defendiam a monarquia absolutista, Hobbes não apela a um suposto direito divino dos reis governar. Ao contrário, baseia sua defesa no fato alegado de que a única forma de garantir uma paz duradoura é através de um governo com poderes absolutos.