Fragmento de Empédocles sobre as forças e elementos que originam todas as coisas
Uma dupla narrativa empreenderei. Em determinado instante tornaram-se uno a partir de muitos e, em outro, voltaram a dispersar-se para ser muitos a partir do uno.
Dupla é a gênese das coisas mortais e duplo é o seu desaparecimento: uma é gerada e destruída pela agregação de tudo, a outra é criada e se dissipa quando tornam a dispersar-se as coisas.
E nunca cessa esta sua contínua transformação, ora convergindo todas num todo por obra do Amor, ora tornando a afastar-se por obra do ódio da discórdia.
Assim, conquanto tenham aprendido a formar um uno a partir da pluralidade e a novamente tornarem-se múltiplas à medida que se desagrega o uno, nessa medida são engendradas, e efêmera é sua existência; porém, conquanto jamais cessa sua contínua transformação, nessa medida existem para sempre, imóveis em um circulo.
Mas vem, atenta em minhas palavras; pois o aprendizado à mente alarga.
Conforme antes já disse ao revelar os limites de minhas palavras, dupla é a narrativa que empreenderei. Em determinado instante, tornaram-se uno a partir de muitos e, em outro, voltaram a dispersar-se para ser muitos a partir do uno o fogo, a água, a terra e as infindáveis alturas do ar, e a funesta Discórdia à parte eles, em toda parte equilibrada, e entre eles o Amor, igual em comprimento e largura.
Osborne, Catherine. Filosofia pré-socrática. Porto Alegre: LP&M, 2013.