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Questões sobre Mitologia Grega
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“Os poemas homéricos têm por fundamento uma visão de mundo clara e coerente. Manifestam-na quase a cada verso, pois colocam em relação com ela tudo quanto cantam de importante – é, antes de mais nada, a partir dessa relação que se define seu caráter particular. Nós chamamos de religiosa essa cosmovisão, embora ela se distancie muito da religião de outros povos e tempos. Essa cosmovisão da poesia homérica é clara e coerente. Em parte alguma ela enuncia fórmulas conceituais à maneira de um dogma; antes se exprime vivamente em tudo que sucede, em tudo que é dito e pensado. E embora no pormenor muitas coisas resultem ambíguas, em termos amplos e no essencial, os testemunhos não se contradizem. É possível, com rigoroso método, reuni-los, ordená-los, fazer lhes o cômputo, e assim eles nos dão respostas explícitas às questões sobre a vida e a morte, o homem e Deus, a liberdade e o destino (…).” (OTTO. Os deuses da Grécia: a imagem do divino na visão do espírito grego. 1ª Ed., trad. [e prefácio] de Ordep Serra. – São Paulo: Odysseus Editora, 2005 – p. 11.)
Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre a função dos mitos na Grécia arcaica, assinale a alternativa correta.
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As poesias de Homero sempre mantiveram a função de educar o homem grego para o pleno exercício da atividade racional que surgiria no século VI a.C., uma vez que, de acordo com historiadores e helenistas, não houve uma ruptura na passagem do mito para o logos, mas sim um processo gradual e contínuo de enraizamento histórico que culminou no advento da filosofia.Essa afirmação está incorreta. Embora a poesia de Homero seja interpretada como uma forma de ensinar e transmitir valores, não é correto afirmar que ela sempre manteve a função de preparar o caminho para a lógica racional do século VI a.C.. Existe um debate acadêmico sobre se houve ou não uma ruptura entre o pensamento mítico e o filosófico (logos). No entanto, muitos estudiosos sustentam que, embora tenha havido continuidade e influência, o desenvolvimento do pensamento filosófico representou um novo tipo de abordagem mais sistemática e crítica da realidade.
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O mito já era pensamento. Ao formalizar os versos de sua poesia, Homero inaugura uma modalidade literária bem singular no ocidente. As ações dos deuses e dos homens, por exemplo, sempre obedeceram a uma ordem pré-estabelecida, a qual sempre revelou uma lógica racional em funcionamento.Essa afirmação não é correta. Embora os mitos contenham elementos de pensamento sistemático e possam revelar uma forma de prelúdio à lógica racionalizada, eles não se resumem a uma lógica racional por completo. Mitos não seguem uma lógica cartesiana ou filosófica como entendida posteriormente. A ação dos deuses e homens nas epopeias de Homero segue uma tradição cultural-religiosa que integra elementos de visão de mundo, moral e explicações cosmológicas. O mito é um tipo de narração que envolve mais a interação simbólica do que uma explicação lógica per se.
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Os mitos tiveram função meramente ilustrativa na educação do homem grego, pois o caráter teórico e abstrato da cultura grega apagou em grande parte os aspectos que se revelariam relevantes na poesia grega.Essa afirmação está incorreta. Os mitos têm uma função muito mais rica e complexa na educação do homem grego do que apenas ilustrar. Eles não são meramente decorativos; ao contrário, desempenham um papel crucial na formação cultural, religiosa e ética. Os mitos fornecem narrativas que explicam a origem do mundo e dos deuses, além de transmitir valores morais e sociais importantes. Na poesia homérica, esses mitos estavam profundamente entrelaçados à visão de mundo, influenciando significativamente a cultura grega, muito além de um simples caráter teórico e abstrato.
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De acordo com os poemas homéricos, os deuses em nada poderiam interferir no destino dos humanos e, assim, a determinação divina (ananque) se colocava em segundo plano, uma vez que era o acaso (tykhe) quem governava, isto é, possuía a função de ensinar ao homem o que este deveria escolher no momento de sua livre ação.Essa alternativa está incorreta. Nos poemas homéricos, os deuses têm um papel ativo e importante no destino dos humanos. Embora Homero apresente momentos de reflexão sobre a liberdade humana, a interferência divina através do conceito de ananke (necessidade) é uma parte integral da cosmovisão homérica. Os deuses frequentemente alteram ou determinam o curso dos eventos humanos, e o acaso (tykhe) não é ressaltado como o ponto central da existência humana ou da educação cívica ao contrário do que é sugerido.
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Os mitos homéricos serviram de base para a educação, formação e visão de mundo que o homem grego arcaico possuía. Em seus cânticos, Homero justapõe conceitos importantes como harmonia, proporção e questionamentos a respeito dos princípios, das causas e do porquê das coisas. Embora todas essas instâncias apresentavam-se como tal, os mitos não deixaram de lado o caráter mágico, fictício e fabular em que eram narrados.Essa alternativa está correta. A poesia de Homero ocupou uma posição central na educação e cultura gregas arcaicas. Sua narrativa não apenas entrelaçava harmonia e proporção, mas também instigava reflexões sobre o papel do destino ou do arbítrio, dos valores éticos, e da conduta esperada na vida. Ao mesmo tempo, como é desenvolvido no texto de Otto, esses mitos não perdiam o caráter mágico e narrativo, misturando fatos fictícios com grandes verdades sociais e culturais relevantes para o contexto da Grécia antiga.
“Dividiu-se em três partes o Universo, e cada qual logrou sua dignidade. Coube-me habitar o mar alvacento, quando se tiraram as sortes, a Hades couberam as brumosas trevas e coube a Zeus o vasto Céu, no éter, e as nuvens. A terra ainda é comum a todos, assim como o vasto Olimpo”
Segundo o texto de Homero, a origem do Universo é explicada pela divisão feita por Cronos entre seus três filhos: Poseidon, Hades e Zeus. A visão mítica revelada por relatos como esse permeou as sociedades gregas e romanas da Antiguidade e atribuiu um caráter religioso a seu legado artístico e cultural. As religiões e as mitologias são formas de explicar os mistérios do mundo que tiveram grande importância para a formação dos povos da Antiguidade. A mitologia grega, por exemplo, criou narrativas sobre a natureza, os sentimentos humanos presentes no imaginário do mundo ocidental. Dessa perspectiva, analise os enunciados a seguir:
I. O mito de Prometeu continua sendo lembrado na atualidade, representando a possibilidade do ser humano de desafiar os deuses e construir a cultura.
II. O mito de Édipo tem relação com a ideia de destino e com a dificuldade dos seres humanos diante das dificuldades da vida.
III. Os deuses gregos eram poderosos e imortais, não tinham as fraquezas humanas e dominavam o mundo com sua astúcia.
IV. Muitas obras da literatura grega se inspiraram nas histórias vividas pelos mitos, com destaque especial para as obras de Homero.
V. A mitologia grega se desenvolveu sem vínculos com a religião da época; os mitos e os deuses eram cultuados de forma totalmente independente.
Segundo o texto de Homero, a origem do Universo é explicada pela divisão feita por Cronos entre seus três filhos: Poseidon, Hades e Zeus. A visão mítica revelada por relatos como esse permeou as sociedades gregas e romanas da Antiguidade e atribuiu um caráter religioso a seu legado artístico e cultural. As religiões e as mitologias são formas de explicar os mistérios do mundo que tiveram grande importância para a formação dos povos da Antiguidade. A mitologia grega, por exemplo, criou narrativas sobre a natureza, os sentimentos humanos presentes no imaginário do mundo ocidental. Dessa perspectiva, analise os enunciados a seguir:
I. O mito de Prometeu continua sendo lembrado na atualidade, representando a possibilidade do ser humano de desafiar os deuses e construir a cultura.
II. O mito de Édipo tem relação com a ideia de destino e com a dificuldade dos seres humanos diante das dificuldades da vida.
III. Os deuses gregos eram poderosos e imortais, não tinham as fraquezas humanas e dominavam o mundo com sua astúcia.
IV. Muitas obras da literatura grega se inspiraram nas histórias vividas pelos mitos, com destaque especial para as obras de Homero.
V. A mitologia grega se desenvolveu sem vínculos com a religião da época; os mitos e os deuses eram cultuados de forma totalmente independente.
Assinale a alternativa correta:
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I, II, III são verdadeiras; IV e V são falsas.Essa alternativa é incorreta. Vamos analisar uma a uma. I está correta, pois o Mito de Prometeu é mesmo lembrado como um símbolo do desafio humano frente ao divino, mostrando Prometeu roubando o fogo dos deuses para dar aos humanos, representando a busca pelo conhecimento e avanço cultural. II também é correta, visto que o Mito de Édipo explora fortemente a ideia de destino e as tribulações da condição humana, com Édipo tentando escapar de uma profecia inevitável. III, no entanto, é incorreta. Os deuses gregos, embora poderosos e imortais, tinham muitas fraquezas e defeitos semelhantes aos dos humanos, incluindo inveja, raiva e ciúmes. IV está correta, já que obras como "A Ilíada" e "A Odisseia" de Homero são grandes exemplos de como a literatura grega se inspirou nas histórias mitológicas. V é falsa, pois a mitologia grega não estava desvinculada da religião; os deuses e mitos faziam parte integral da prática religiosa na Grécia Antiga.
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apenas I é verdadeira.Esta alternativa está incorreta, pois outras afirmações além de I também são verdadeiras. Como mencionado anteriormente, II também é verdadeira por conta da associação correta do Mito de Édipo com a questão do destino, e IV é verdadeira devido ao impacto literário da mitologia grega. Portanto, afirmar que apenas I é verdadeira é impreciso tendo em vista esclarecer o relacionamento de Édipo e da literatura homérica com a mitologia grega.
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todas são verdadeiras.Esta alternativa está incorreta pois não reconhece que V é falsa. Como expliquei nas alternativas anteriores, a mitologia grega estava profundamente ligada à religião na Grécia Antiga, diferentemente do que a afirmação V sugere. Apenas porque qualquer outra alternativa tem elementos verdadeiros, isso não valida V. Reconhecer a interação entre mitologia e religião é essencial para entender como esses dois elementos não estavam separados na cultura grega.
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apenas V é falsa.Esta alternativa está correta. O enunciado afirma que apenas a afirmação V é falsa. Conforme discutimos, I está correta pois fala do Mito de Prometeu, II está correta ao abordar a relação do Mito de Édipo com a ideia de destino, III está incorreta ao afirmar que os deuses não tinham fraquezas humanas mas não de forma a invalidar V estar falsa, pois V claramente erra ao afirmar que a mitologia grega era independente da religião quando, de fato, os mitos e religião estavam profundamente interligados na cultura grega antiga.
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todas são falsas.Esta alternativa está incorreta porque existem várias afirmações verdadeiras, como já visto. As afirmações I e II são verdadeiras devido às suas correlações diretas com os conceitos e personagens mitológicos apresentados na cultura grega antiga. Além disso, como discutido, IV é verdadeira, pois há um legado literário significativo inspirado pelas mitologias gregas, como as obras de Homero.
Texto 1
Eis aqui, portanto, o princípio de quando se decidiu fazer o homem, e quando se buscou o que devia entrar na carne do homem.
Havia alimentos de todos os tipos. Os animais ensinaram o caminho. E moendo então as espigas amarelas e as espigas brancas, Ixmucaná fez nove bebidas, e destas provieram a força do homem. Isto fizeram os progenitores, Tepeu e Gucumatz, assim chamados.
A seguir decidiram sobre a criação e formação de nossa primeira mãe e pai. De milho amarelo e de milho branco foi feita sua carne; de massa de milho foram feitos seus braços e as pernas do homem. Unicamente massa de milho entrou na carne de nossos pais. (Adaptado: SUESS, P. Popol Vuh: Mito dos Quiché da Guatemala sobre sua origem do milho e a criação do mundo. In: A conquista espiritual da América 0Espanhola: 200 documentos – Século XVI. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 32-33.) Texto 2
“Se você é o que você come, e consome comida industrializada, você é milho”, escreveu Michael Pollan no livro O Dilema do Onívoro, lançado este ano no Brasil. Ele estima que 25% da comida industrializada nos EUA contenha milho de alguma forma: do refrigerante, passando pelo Ketchup, até as batatas fritas de uma importante cadeia de fast food – isso se não contarmos vacas e galinhas que são alimentadas quase exclusivamente com o grão.
O milho foi escolhido como bola da vez ao seu baixo preço no mercado e também porque os EUA produzem mais da metade do milho distribuído no mundo. (Adaptado: BURGOS, P. Show do milhão: milho na comida agora vira combustível.Super Interessante. Edição 247, 15 dez. 2007, p.33.)
Eis aqui, portanto, o princípio de quando se decidiu fazer o homem, e quando se buscou o que devia entrar na carne do homem.
Havia alimentos de todos os tipos. Os animais ensinaram o caminho. E moendo então as espigas amarelas e as espigas brancas, Ixmucaná fez nove bebidas, e destas provieram a força do homem. Isto fizeram os progenitores, Tepeu e Gucumatz, assim chamados.
A seguir decidiram sobre a criação e formação de nossa primeira mãe e pai. De milho amarelo e de milho branco foi feita sua carne; de massa de milho foram feitos seus braços e as pernas do homem. Unicamente massa de milho entrou na carne de nossos pais. (Adaptado: SUESS, P. Popol Vuh: Mito dos Quiché da Guatemala sobre sua origem do milho e a criação do mundo. In: A conquista espiritual da América 0Espanhola: 200 documentos – Século XVI. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 32-33.) Texto 2
“Se você é o que você come, e consome comida industrializada, você é milho”, escreveu Michael Pollan no livro O Dilema do Onívoro, lançado este ano no Brasil. Ele estima que 25% da comida industrializada nos EUA contenha milho de alguma forma: do refrigerante, passando pelo Ketchup, até as batatas fritas de uma importante cadeia de fast food – isso se não contarmos vacas e galinhas que são alimentadas quase exclusivamente com o grão.
O milho foi escolhido como bola da vez ao seu baixo preço no mercado e também porque os EUA produzem mais da metade do milho distribuído no mundo. (Adaptado: BURGOS, P. Show do milhão: milho na comida agora vira combustível.Super Interessante. Edição 247, 15 dez. 2007, p.33.)
Com base nos textos 1 e 2 e nos conhecimentos sobre as relações entre organização social e mito, é correto afirmar.
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Na busca de um princípio fundante e ordenador de todas as coisas, como ocorre na mitologia grega, a narrativa mítica justifica as bases da legitimação de organização política e de coesão social.Esta é a alternativa correta. Os mitos, tanto nas culturas maias quanto gregas, frequentemente servem para explicar a origem e estrutura do mundo, proporcionando uma base para a compreensão e organização social e política. Na mitologia grega, por exemplo, relatos de deuses e heróis estabelecem valores sociais e legitimam a ordem política.
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Para certas tradições de pensamento, como a da escola de Frankfurt, o iluminismo representa a superação completa do mito.Esta alternativa está incorreta. A escola de Frankfurt, através de pensadores como Adorno e Horkheimer, critica o iluminismo por não superar completamente o mito, mas sim por transformá-lo. Eles argumentam que o iluminismo carrega consigo um 'mito racional' em que a razão instrumentaliza e domina o mundo, não alcançando uma verdadeira liberdade do pensamento mítico.
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Os deuses maias criaram os homens dotados de livre arbítrio para, a partir dos princípios da razão e da liberdade, ordenarem igualitariamente a sociedade.Esta alternativa está incorreta. Embora no mito maia os deuses tenham criado a humanidade a partir do milho, isso não implica necessariamente que os homens foram dotados de livre arbítrio com a finalidade de criar uma sociedade igualitária baseada na razão e liberdade. O mito reflete mais uma visão cosmológica e antropológica ligada à origem e substância divina do ser humano, sem necessariamente falar sobre a organização política ou liberdade individual.
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Assim como nos povos Quiché da Guatemala, também os mitos gregos procuram explicar a arché, a origem, a partir de um elemento originário onde está presente o milho.Esta afirmação está incorreta. A arché é um conceito grego que se refere ao princípio original ou substância primordial do universo, mas não necessariamente se relaciona ao milho. Nos mitos gregos, essa substância poderia ser água, ar, ou algo mais abstrato, conforme filósofos como Tales, Anaxímenes, etc. O milho é um elemento específico da mitologia dos povos da Guatemala e não aparece como arché nos mitos gregos.
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A exemplo das narrativas que predominavam no período homérico da Grécia antiga, os mitos expressam uma forma de conhecimento científico da realidade.Também incorreta. Os mitos, incluindo os gregos, não são formas de conhecimento científico na compreensão moderna. Eles são narrativas que explicam fenômenos naturais, sociais e humanos de maneira simbólica e cultural. A ciência, por sua vez, baseia-se em observação e evidências empíricas, enquanto o mito baseia-se em narrativa e tradição oral.
O mito é parte integrante da história da humanidade.
“Cada indivíduo deve encontrar um aspecto do mito que se relacione com sua própria vida. Os mitos têm basicamente quatro funções. A primeira é a função mística – e é disso que venho falando, dando conta da maravilha que é o universo, da maravilha que é você, e vivenciando o espanto diante do mistério. Os mitos abrem o mundo para a dimensão do mistério, para a consciência do mistério que subjaz a todas as formas. Se isso lhe escapar, você não terá uma mitologia. Se o mistério se manifestar através de todas as coisas, o universo se tornará, por assim dizer, uma pintura sagrada. Você está sempre se dirigindo ao mistério transcendente, através das circunstâncias da sua vida verdadeira. A segunda é a dimensão cosmológica, a dimensão da qual a ciência se ocupa, mostrando qual é a forma do universo, mas fazendo-o de uma tal maneira que o mistério, outra vez, se manifeste. Hoje, tendemos a pensar que os cientistas detêm todas as respostas. Mas os maiores entre eles dizem-nos: “Não, não temos todas as respostas. Podemos dizer-lhe como a coisa funciona, mas não o que é”. Você risca um fósforo. O que é o fogo? Você pode falar de oxidação, mas isso não me dirá nada. A terceira função é sociológica – suporte e validação de determinada ordem social. E aqui os mitos variam tremendamente, de lugar para lugar. Você tem toda uma mitologia da poligamia, toda mitologia da monogamia. Ambas satisfatórias. Depende de onde você estiver. Foi essa função sociológica do mito que assumiu a direção do nosso mundo – e está desatualizada. A quarta função do mito, aquela, segundo penso, com que todas as pessoas deviam tentar se relacionar – a função pedagógica, como viver uma vida humana sob qualquer circunstância. Os mitos podem ensinar-nos isso.” (CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athenas, 1990. P. 32).
“Cada indivíduo deve encontrar um aspecto do mito que se relacione com sua própria vida. Os mitos têm basicamente quatro funções. A primeira é a função mística – e é disso que venho falando, dando conta da maravilha que é o universo, da maravilha que é você, e vivenciando o espanto diante do mistério. Os mitos abrem o mundo para a dimensão do mistério, para a consciência do mistério que subjaz a todas as formas. Se isso lhe escapar, você não terá uma mitologia. Se o mistério se manifestar através de todas as coisas, o universo se tornará, por assim dizer, uma pintura sagrada. Você está sempre se dirigindo ao mistério transcendente, através das circunstâncias da sua vida verdadeira. A segunda é a dimensão cosmológica, a dimensão da qual a ciência se ocupa, mostrando qual é a forma do universo, mas fazendo-o de uma tal maneira que o mistério, outra vez, se manifeste. Hoje, tendemos a pensar que os cientistas detêm todas as respostas. Mas os maiores entre eles dizem-nos: “Não, não temos todas as respostas. Podemos dizer-lhe como a coisa funciona, mas não o que é”. Você risca um fósforo. O que é o fogo? Você pode falar de oxidação, mas isso não me dirá nada. A terceira função é sociológica – suporte e validação de determinada ordem social. E aqui os mitos variam tremendamente, de lugar para lugar. Você tem toda uma mitologia da poligamia, toda mitologia da monogamia. Ambas satisfatórias. Depende de onde você estiver. Foi essa função sociológica do mito que assumiu a direção do nosso mundo – e está desatualizada. A quarta função do mito, aquela, segundo penso, com que todas as pessoas deviam tentar se relacionar – a função pedagógica, como viver uma vida humana sob qualquer circunstância. Os mitos podem ensinar-nos isso.” (CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athenas, 1990. P. 32).
Podemos afirmar que
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o mito morreu e não diz mais nada para a sociedade.Essa alternativa está incorreta. O texto de Campbell mostra que o mito ainda tem uma função vital na sociedade moderna. Ele nos explica que os mitos fornecem uma maneira de entender o mistério e a maravilha da nossa existência. Portanto, afirmar que o mito "morreu" é um entendimento equivocado do papel contínuo que os mitos desempenham em dar sentido à existência humana.
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os mitos pertencem somente a comunidades pouco evoluídas.Essa alternativa também está incorreta. Campbell não sugere que os mitos pertencem ou são relevantes apenas para comunidades "pouco evoluídas". Pelo contrário, ele destaca que os mitos têm funções importantes e universais que se aplicam a todas as sociedades, independentemente do estágio de desenvolvimento. Eles oferecem orientação espiritual, cosmológica, social e pedagógica, mostrando-se essenciais para uma compreensão mais profunda da vida e da natureza humana, inclusive em sociedades avançadas.
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o mito é uma experiência singular que continua dando sentido à existência humana.Essa alternativa está correta. Campbell destaca que o mito continua sendo uma experiência singular e essencial que dá sentido à existência humana. Ele descreve várias funções dos mitos, como a função mística, que nos faz perceber a maravilha do universo, e a função pedagógica, que nos ensina como viver uma vida humana. Estas funções demonstram que os mitos ainda desempenham um papel significativo tanto em nível pessoal quanto coletivo.
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não necessitamos dos mitos e que eles são ultrapassados.Essa alternativa está incorreta. Enquanto Campbell reconhece que alguma função dos mitos pode estar desatualizada, como a sociológica em aspectos específicos dependendo da cultura, ele enfatiza a importância contínua do mito em suas outras funções, especialmente a mística e pedagógica. Elas são vistas como fundamentais para a experiência humana e para a compreensão do mistério da vida.
Para a mitologia grega […] “Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Alguns deuses disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo que havia de ruim no céu etéreo foi expulso, ou para a prisão do tártaro ou para a terra, entre os mortais. E os homens, o que aconteceu com eles? Quem são eles?” VERNANT, Jean Pierre. O universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras, 2000 A ordem, em todas as suas acepções, é o grande objeto do espanto filosófico. Causam maravilhamento a ordem das leis naturais que a ciência descobre, a ordem manifesta nas proporções e harmonias da obra de arte e a ordem das ações justas na vida moral e política da sociedade. Antes da filosofia, os mitos já expressavam esse maravilhamento, porém com diferenças importantes.
Sobre esse assunto, é correto afirmar que o mito:
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Estabelece parâmetros de abordagem dos fenômenos naturais sobre bases estritamente lógicas, como o princípio de não contradição.A proposta aqui é que o mito trata de fenômenos naturais com lógica estrita e princípios filosóficos, como o princípio da não contradição. Isso não é verdadeiro para os mitos. Os mitos frequentemente contêm elementos que seriam contraditórios segundo a lógica filosófica ou científica, justamente porque eles operam em um domínio simbólico e narrativo, não submetido às mesmas regras da razão lógica. Portanto, esta alternativa está incorreta.
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Busca explicações suficientes sobre o lugar do homem no mundo, apelando ao sagrado.Esta alternativa está correta. Mitos frequentemente buscam explicar o lugar do homem no universo e fazer sentido dos fenômenos do mundo apelando ao sagrado, aos deuses e forças sobrenaturais. Eles oferecem narrativas que colocam a realidade e a experiência humana em perspectiva, trazendo respostas que incorporam o divino e o transcendente, ao invés de explicações puramente racionais ou científicas.
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Possui uma grande densidade teológico-moral, dando a cada membro do grupo autonomia para decidir e atuar sem limites objetivos.A alternativa sugere que mitos oferecem autonomia moral ilimitada aos indivíduos, mas isso é um equívoco. Mitos muitas vezes servem como mecanismo de perpetuação dos valores e normas sociais, estabelecendo precisamente limites e moralidade transmitidos pela coletividade, não incentivando uma autonomia sem limites. As histórias míticas geralmente funcionam para reforçar normas culturais e sociais, e não para promover liberdade irrestrita. Logo, esta alternativa está incorreta.
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Enuncia de modo argumentativo a escala de valores de uma sociedade pré-crítica.A alternativa afirma que o mito expressa valores de uma sociedade pré-crítica de maneira argumentativa. Contudo, mitos não são, geralmente, formulados de modo argumentativo. Eles não seguem a mesma lógica estruturada e racional que encontramos na filosofia ou na argumentação científica. Os mitos contam histórias simbólicas que transmitem valores, crenças e explicações sagradas sobre o mundo, mas não de forma argumentativa. Logo, esta alternativa está incorreta.
“(…) Assim, a magia e a mitologia ocupam a imensa região exterior do desconhecido, englobando o pequeno campo do conhecimento concreto comum. O sobrenatural está em todas as partes, dentro ou além do natural; e o conhecimento do sobrenatural que o homem acredita possuir, não sendo da experiência direta comum, parece ser um conhecimento de ordem diferente e superior. É uma revelação acessível apenas ao homem inspirado ou (como diziam os gregos) ‘divino’ — o mágico e o sacerdote, o poeta e o vidente”. CORNFORD, F.M. Antes e Depois de Sócrates. Trad. Valter Lellis Siqueira. São Paulo: Martins Fontes, 2001, pp.14-15.
A partir do texto acima, é correto afirmar que
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a magia e a mitologia não se confundem com o conhecimento concreto comum.Correto! Esta alternativa está de acordo com o trecho, pois Cornford argumenta que a "magia e a mitologia" ocupam um espaço exterior ao do conhecimento concreto comum. O sobrenatural transcende o natural, sugerindo que a mitologia e a magia estão além das verdades comuns e concretas que experimentamos diariamente.
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o mito não distingue o plano natural do sobrenatural, sendo o conhecimento do sobrenatural superior.Correto! Segundo o texto de Cornford, o mito não faz distinção clara entre o plano natural e o sobrenatural. Na visão mitológica, o sobrenatural não é separado do natural, mas é, sim, entendido como englobando este último. Além disso, o conhecimento do sobrenatural é visto como superior, como algo além do conhecimento concreto e comum. Ele é acessível apenas àqueles considerados inspirados ou especiais, como mágicos, sacerdotes ou poetas, que são vistos como detentores de uma percepção superior.
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o campo do conhecimento mítico limita-se ao que se manifesta no campo concreto comum.Incorreto. O mito não se limita ao campo concreto comum, como sugere a alternativa. O texto nos diz que a magia e a mitologia ocupam "a imensa região exterior do desconhecido", o que envolve e vai além do conhecimento concreto comum. Portanto, o campo do conhecimento mítico não se limita ao campo concreto, mas inclui o que está além dele, no território do desconhecido.
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o conhecimento no mito, por ser uma revelação, é acessível igualmente a todos os homens.Incorreto. O texto afirma que o conhecimento do sobrenatural, por ser uma revelação, não é acessível a todos os homens de forma igual. Pelo contrário, Cornford escreve que este tipo de conhecimento é exclusivo daqueles considerados "inspirados" ou "divinos", como os mágicos, sacerdotes e poetas. Portanto, não é uma revelação disponível universalmente, mas reservada a certos indivíduos com capacidades ou dons especiais.
“O mito é uma narrativa. É um discurso, uma fala. É uma forma de as sociedades espelharem suas contradições, exprimirem seus paradoxos, dúvidas e inquietações. Pode ser visto como uma possibilidade de se refletir sobre a existência, o cosmos, as situações de ‘estar no mundo’ ou as relações sociais”. Everado Rocha.
Mediante essa definição geral de mito é correto afirmar que
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Platão, um dos filósofos mais estudados e influentes do pensamento ocidental, não recorria aos mitos em seus diálogos, apesar de ter sido o primeiro a utilizar o termo mitologia.Essa afirmação está incorreta. Platão, na verdade, fazia uso dos mitos em seus diálogos. Ele frequentemente utilizava histórias mitológicas para ilustrar conceitos filosóficos complexos, como o mito da caverna na "República", que é uma famosa alegoria sobre a percepção, a realidade e o conhecimento. Portanto, Platão não só usava mitos, como os incorporava deliberadamente em seus pensamentos filosóficos.
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alguns mitos oferecem modelos de vida e podem servir como referências para a vida de muitas pessoas mesmo no século XXI.Essa alternativa está correta. Muitos mitos transcendem o tempo e o espaço e continuam a oferecer modelos de vida ou lições morais no século XXI. Eles frequentemente tratam de temas universais como coragem, moralidade, os desafios da existência humana, e podem inspirar e orientar as vidas de muitas pessoas, como observado em mitos reinterpretados em livros, filmes e na própria cultura popular.
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as sociedades antigas, ocidentais e orientais, foram fundadas sobre o mesmo mito primitivo, variando, apenas, os nomes de seus personagens.Essa afirmação está incorreta. Embora existam semelhanças em mitos de diferentes culturas, não é verdade que sociedades antigas, tanto ocidentais quanto orientais, tenham sido todas fundadas sobre o mesmo mito primitivo. Mitologias variam amplamente em suas narrativas, simbolismos e mensagens, refletindo as distintas histórias, geografias e contextos culturais de cada sociedade.
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as sociedades com conhecimentos científico, tecnológico e filosófico complexamente constituídos não possuem mitos, pois eliminaram as duvidas e os paradoxos.Essa afirmação também está incorreta. Mesmo que uma sociedade tenha conhecimentos científicos, tecnológicos e filosóficos altamente desenvolvidos, ela ainda pode ter mitos. Os mitos não são apenas histórias antigas que são substituídas pela ciência; eles desempenham papéis na cultura, simbolizam valores e expressam ideias que podem não ser diretamente mensuráveis ou verificáveis pela ciência. Em algumas culturas, mitos modernos surgem na forma de narrativas culturais populares, como filmes, super-heróis e contos modernos.
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todas as afirmações acima estão corretas.Essa alternativa está incorreta porque apenas a afirmação sobre mitos oferecendo modelos de vida (a terceira proposta) está correta de acordo com a análise já feita. As outras alternativas apresentadas são incorretas por razões discutidas e, portanto, dizer que todas estão corretas seria um erro.
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