Leia a fábula de La Fontaine, uma possível explicação para a expressão ”o amor é cego”.
No amor tudo é mistério: suas flechas e sua aljava, sua chama e sua infância eterna. Mas por que o amor é cego? Aconteceu que num certo dia o Amor e a Loucura brincavam juntos. Aquele ainda não era cego. Surgiu entre eles um desentendimento qualquer. Pretendeu então o Amor que se reunisse para tratar do assunto o conselho dos deuses. Mas a Loucura, impaciente, deu-lhe uma pancada tão violenta que lhe privou da visão. Vênus, mãe e mulher, pôs-se a clamar por vingança, aos gritos. Diante de Júpiter, de Nêmesis – a deusa da vingança – e de todos os juízos do inferno, Vênus exigiu que aquele crime fosse reparado. Seu filho não podia ficar cego. Depois de estudar detalhadamente o caso, a sentença do supremo tribunal celeste consistiu em declarar a loucura a servir de guia ao Amor. Fonte: LA FONTAINE, Jean de. O amor e a loucura. In: Os melhores contos de loucura. Flávio Moreira da Costa (Org.). Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
A fábula traz uma explicação oriunda dos deuses para uma realidade humana. Esse tipo de explicação classifica-se como
estética.
científica.
filosófica.
crítica.
mitológica.
A cultura grega marca a origem da civilização ocidental e ainda hoje podemos observar sua influência nas ciências, nas artes, na política e na ética.
Dentre os legados da cultura grega para o Ocidente, destaca-se a ideia de que
nosso pensamento também opera obedecendo a emoções e sentimentos alheios à razão, mas que nos ajudam a distinguir o verdadeiro do falso.
as práticas humanas, a ação moral, política, as técnicas e as artes dependem do destino, o que negaria a existência de uma vontade livre.
as ações humanas escapam ao controle da razão, uma vez que agimos obedecendo aos instintos como mostra hoje a psicanálise.
a natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais que podem ser plenamente conhecidos pelo nosso pensamento.
O ser humano, desde sua origem, em sua existência cotidiana, faz afirmações, nega, deseja, recusa e aprova coisas e pessoas, elaborando juízos de fato e de valor por meio dos quais procura orientar seu comportamento teórico e prático. Entretanto, houve um momento em sua evolução histórico-social em que o ser humano começa a conferir um caráter filosófico às suas indagações e perplexidades, questionando racionalmente suas crenças, valores e escolhas.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a filosofia
existe desde que existe o ser humano, não havendo um local ou uma época específica para seu nascimento, o que nos autoriza a afirmar que mesmo a mentalidade mítica é também filosófica e exige o trabalho da razão.
surge quando o ser humano começa a exigir provas e justificações racionais que validam ou invalidam suas crenças, seus valores e suas práticas, em detrimento da verdade revelada pela codificação mítica.
é algo inerente ao ser humano desde sua origem e que, por meio da elaboração dos sentimentos, das percepções e dos anseios humanos, procura consolidar nossas crenças e opiniões.
inicia sua investigação quando aceitamos os dogmas e as certezas cotidianas que nos são impostos pela tradição e pela sociedade, visando educar o ser humano como cidadão.
No início do século XX, estudiosos esforçaram-se em mostrar a continuidade, na Grécia Antiga, entre mito e filosofia, opondo-se a teses anteriores, que advogavam a descontinuidade entre ambos.
A continuidade entre mito e filosofia, no entanto, não foi entendida univocamente. Alguns estudiosos, como Cornford e Jaeger, consideraram que as perguntas acerca da origem do mundo e das coisas haviam sido respondidas pelos mitos e pela filosofia nascente, dado que os primeiros filósofos haviam suprimido os aspectos antropomórficos e fantásticos dos mitos.
Ainda no século XX, Vernant, mesmo aceitando certa continuidade entre mito e filosofia, criticou seus predecessores, ao rejeitar a ideia de que a filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo que o mito. Assim, a discussão sobre a especificidade da filosofia em relação ao mito foi retomada.
Considerando o breve histórico acima, concernente à relação entre o mito e a filosofia nascente, assinale a opção que expressa, de forma mais adequada, essa relação na Grécia Antiga.
O mito fundamenta-se no rito, é infantil, pré-lógico e irracional, e a filosofia, também fundamentada no rito, corresponde ao surgimento da razão na Grécia Antiga.
O mito descreve nascimentos sucessivos, incluída a origem do ser, e a filosofia descreve a origem do ser a partir do dilema insuperável entre caos e medida.
O mito é a expressão mais acabada da religiosidade arcaica, e a filosofia corresponde ao advento da razão liberada da religiosidade.
O mito é uma narrativa em que a origem do mundo é apresentada imaginativamente, e a filosofia caracteriza-se como explicação racional que retoma questões presentes no mito.
A passagem do Mito ao Logos na Grécia antiga foi fruto de um amadurecimento lento e processual. Por muito tempo, essas duas maneiras de explicação do real conviveram sem que se traçasse um corte temporal mais preciso.
Com base nessa afirmativa, é correto afirmar:
A economia grega estava baseada na industrialização, e isso facilitou a passagem do Mito ao Logos.
O povo grego antigo, nas viagens, se encontrava com outros povos com as mesmas preocupações e culturas, o que contribuiu para a passagem do Mito ao Logos.
O modo de vida fechado do povo grego facilitou a passagem do Mito ao Logos.
A passagem do Mito ao Logos, na Grécia, foi responsabilidade dos tiranos de Siracusa.
A atividade comercial e as constantes viagens oportunizaram a troca de informações/conhecimentos, a observação/assimilação dos modos de vida de outros povos, contribuindo, assim, de modo decisivo, para a construção da passagem do Mito ao Logos.
Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de “vidência”, privilégio que tiveram de pagar pelo preço dos seus olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os inspira mostra-lhes, em uma espécie de revelação, as realidades que escapam ao olhar humano. Sua visão particular age sobre as partes do tempo inacessíveis às criaturas mortais: o que aconteceu outrora, o que ainda não é. (Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos, 1990. Adaptado.)
O texto refere-se à cultura grega antiga e menciona, entre outros aspectos,
a forma como a história era escrita e lida entre os povos da península balcânica.
a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos períodos de seca ou de infertilidade da terra.
o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a difusão dos cultos aos deuses da tradição clássica.
o papel exercido pelos poetas, responsáveis pela transmissão oral das tradições, dos mitos e da memória.
Comparando-se mito e filosofia, é correto afirmar o seguinte:
A autoridade do mito depende da confiança inspirada pelo narrador, ao passo que a autoridade da filosofia repousa na razão humana, sendo independente da pessoa do filósofo.
Mito e filosofia dedicam-se à busca pelas verdades absolutas e são, em essência, faces distintas do mesmo processo de conhecimento que culminou com o desenvolvimento do pensamento científico.
A filosofia é a negação do mito, pois não aceita contradições ou fabulações, admitindo apenas explicações que possam ser comprovadas pela observação direta ou pela experiência.
Tanto o mito quanto a filosofia se ocupam da explicação de realidades passadas a partir da interação entre forças naturais personalizadas, criando um discurso que se aproxima do da história e se opõe ao da ciência.
Enquanto a função do mito é fornecer uma explicação parcial da realidade, limitando-se ao universo da cultura grega, a filosofia tem um caráter universal, buscando respostas para as inquietações de todos os homens.
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