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As emoções são inatas ou aprendidas? O que mostram os estudos de Paul Ekman sobre emoções em diferentes culturas
Quando uma criança nasce, ela não sabe falar nenhuma língua. Para aprender português, inglês ou qualquer outro idioma, é necessário ouvir as palavras, observar como as pessoas as usam e praticar. Sem essa exposição, a linguagem não se desenvolve. Essa é uma ideia intuitiva: algumas capacidades humanas precisam ser aprendidas na cultura em que a pessoa cresce.
Até os anos 1960, muitos pesquisadores acreditavam que o mesmo acontecia com as emoções. A ideia predominante era que, para manifestar sentimentos como alegria, raiva ou medo, uma pessoa precisava aprender com aqueles ao seu redor. Cada cultura ensinaria seus membros como expressar suas emoções, o que explicaria as grandes diferenças entre povos em relação a gestos, expressões faciais e modos de demonstrar sentimentos. Isso fazia parte de uma visão mais ampla chamada relativismo cultural, segundo a qual as emoções não eram naturais ou universais, mas construídas socialmente.
Foi nesse contexto que o psicólogo Paul Ekman decidiu testar se as emoções eram realmente aprendidas ou se, ao contrário, tinham uma base biológica universal. Para isso, ele planejou um experimento simples, mas engenhoso: observar como pessoas de uma cultura isolada, sem contato com a mídia ocidental, reconheciam e expressavam emoções.
Ekman viajou até a Nova Guiné para estudar o povo Fore, um grupo que vivia de forma tradicional e não tinha acesso a fotografias, filmes ou qualquer outra influência da cultura ocidental. Se as expressões emocionais fossem realmente aprendidas, os Fore deveriam demonstrar emoções de forma diferente dos ocidentais. Mas, se houvesse algo universal nas emoções, então mesmo sem nunca ter visto um rosto ocidental expressando alegria, medo ou raiva, os Fore deveriam ser capazes de reconhecer essas expressões em pessoas de outras culturas.
O experimento de Ekman consistia em mostrar fotografias de rostos ocidentais expressando emoções como alegria, raiva e medo e pedir que os Fore identificassem o que aquelas pessoas estavam sentindo. Além disso, ele pedia que eles mesmos expressassem determinadas emoções e registrava essas expressões. O objetivo era ver se havia semelhanças entre as expressões faciais dos Fore e as dos ocidentais.
Os resultados foram surpreendentes para a época: os Fore não apenas reconheceram corretamente as emoções expressas nas fotografias ocidentais, como também exibiram expressões faciais muito semelhantes ao demonstrar suas próprias emoções. Isso contrariava a ideia de que as expressões emocionais eram aprendidas exclusivamente na cultura e sugeria que, pelo menos em certo nível, as emoções tinham uma base biológica universal.

Mas se as emoções são universais, como explicar o fato de que diferentes culturas demonstram sentimentos de maneiras tão distintas? Algumas sociedades expressam emoções de forma intensa e aberta, enquanto outras incentivam a contenção e o autocontrole.
Um exemplo disso pode ser observado no Japão. Podemos perceber que as pessoas, em geral, evitam expressões faciais exageradas em público e tendem a manter um semblante neutro, especialmente em situações formais.
Isso mostra que povos como os japoneses realmente sentem de forma diferente?
Para investigar isso, Paul Ekman e Wallace Friesen realizaram um experimento comparando japoneses e norte-americanos. Os participantes assistiam a vídeos com cenas perturbadoras enquanto suas reações eram filmadas. Quando estavam sozinhos, tanto os americanos quanto os japoneses demonstravam emoções semelhantes, especialmente expressões de nojo e desconforto. Mas quando um entrevistador estava presente, os japoneses rapidamente mascaravam essas expressões, adotando uma postura mais neutra.
O detalhe mais revelador surgiu quando os pesquisadores analisaram os vídeos em câmera lenta. Foi possível perceber que, por frações de segundo, os japoneses realmente exibiam expressões de nojo, mas logo as suprimiam para se adequar às normas sociais de sua cultura.
A partir desse experimento, Ekman reforçou a ideia de que as emoções básicas são universais, mas sua expressão pode ser modulada por normas culturais, chamadas de regras de exibição. Essas regras são aprendidas desde a infância e determinam quais emoções podem ser demonstradas em público e de que maneira. Em algumas culturas, como a japonesa, há uma forte valorização do autocontrole, o que leva as pessoas a esconder ou suavizar certas emoções, especialmente diante de figuras de autoridade. Já em culturas ocidentais, como no Brasil, expressões emocionais mais abertas e espontâneas costumam ser socialmente aceitáveis. Esse estudo mostrou que, apesar dessas variações, as emoções em si permanecem as mesmas: a forma como as expressamos depende das normas sociais, mas a base emocional é compartilhada por toda a humanidade.
Referência
EVANS, Dylan. Emotion: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, 2001.