Subjetivismo moral
Para o subjetivismo, julgamentos morais não são verdadeiros nem falsos, eles apenas expressam sentimento de aprovação ou desaprovação.
O subjetivismo moral é uma teoria filosófica muito comum, pois várias pessoas, mesmo sem saber, a adotam em determinadas situações. Se você já participou de algum debate envolvendo questões morais, em temas como pena de morte ou aborto, certamente já ouviu ou pensou, depois do debate não ter resultado em consenso, que não existe certo e errado nessas questões como existe na ciência ou na matemática. Nesses casos, tudo é uma questão de opinião pessoal, cada um tem a sua e está correto em seu modo de pensar. Ao concluir isso, está adotando uma teoria metaética chamada de subjetivismo.
Vamos fazer uma comparação entre duas afirmações de domínios diferentes para colocar em contexto o que defende o subjetivismo moral. Imagine que uma pessoa qualquer afirme que “a Terra é plana”. Tal afirmação é um juízo de fato que procura descrever como é um determinado aspecto do mundo. Como ela não descreve adequadamente como o mundo é, acaba sendo uma afirmação falsa. Em se tratando de afirmações descritivas como essa, portanto, existe uma verdade e a pessoa que afirma algo diferente disso está cometendo um erro.
Compare esse primeiro exemplo com a afirmação “o roubo é imoral”. Nesse segundo caso, está sendo atribuído um valor a um fato, o roubo, ao invés de simplesmente descrever essa ação. A imoralidade é um valor e, de acordo com o subjetivismo, essa não é uma característica que existe de fato nas ações, mas é a manifestação de nossos desejos. Quando digo que algo é imoral, quero dizer que isso me desagrada, contraria meu desejo. Os juízos morais, portanto, são expressões de desejos pessoais.
Ao dizer que “o roubo é imoral” quero manifestar meu desejo de não ser roubado ou de não querer roubar. Sendo assim, estou falando de mim mesmo ao proferir um juízo moral, estou falando de um desejo pessoal. Outra pessoa poderia afirmar “o roubo é moral”, se referindo ao seus sentimentos em relação à essa prática.
Por outro lado, ao afirmar um juízo de fato como “a terra é plana”, estou dizendo algo não sobre mim mesmo, mas sobre o mundo externo. A primeira afirmação é subjetiva, pois fala do sujeito; já a segunda, é objetiva, pois fala de um objeto externo ao sujeito. No primeiro caso, a verdade depende apenas de quem afirma; no segundo, do objeto do qual se afirma algo.
A partir disso podemos dizer que o subjetivismo pode ser definido a partir de suas teses relacionadas:
- Não existe certo e errado universal;
- Juízos morais apenas expressam sentimentos de aprovação ou desaprovação.
Uma consequência importante dessa concepção é as divergências morais são apenas diferenças de preferências. Dizer que “o roubo é errado” ou “o roubo é certo” equivale a dizer “gosto de pizza” ou “não gosto de pizza”. Nos dois casos há apenas uma divergência de gostos pessoais e não há qualquer possibilidade de dizer que um está certo e outro errado.
Argumentos subjetivistas
O que leva alguém a pensar que não existe certo e errado e que os juízos morais não passam de manifestações de desejos pessoais?
Um dos filósofos subjetivas foi Jean Paul Sartre (1905 – 1980). Usando a frase de um grande escritor russo, afirmou que “se Deus não existe, tudo é permitido” e que isso criava a liberdade para o indivíduo definir que é certo ou errado a partir de seu próprio pensamento e desejo. Nas suas palavras
Você é livre, então escolha – ou seja, invente. Nenhuma regra de moralidade geral pode mostrar o que você deve fazer.
A frase “se Deus não existe, tudo é permitido” pressupõe a ideia de que, se ele existisse, nem tudo seria permitido. Ou seja, se ele existisse, existiria um certo e um errado e a moralidade não seria dependente do desejo dos indivíduos. Mas como não existe, não há qualquer padrão independente que defina como os seres humanos deveriam agir. Sendo a sim, cabe a cada um definir para si o que é certo e errado.
Então, a principal razão que leva ao subjetivismo moral é a ausência de um padrão que defina o que é certo ou errado. Ao contrário do que ocorre quando estamos diante de afirmações como “2 + 2 = 4” ou “o Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes”, cuja verdade é possível constatar, quando se trata de afirmações morais como “o aborto é errado” ou “é certo praticar a eutanásia”, não há qualquer forma conclusiva de dizer que um é certo e outro errado. A única conclusão que resta disso, aparentemente, é que não há verdade moral.
O subjetivismo moral está certo?
Mas será verdade que não certo e errado? Será que não existe um padrão que defina o que é isso?
Algumas pessoas pensam que existe verdade moral pois acreditam em Deus e esse ser superior criou as normas morais. Há nesse caso, uma definição clara de verdade moral e assim temos uma saída para o subjetivismo moral. No entanto, essa teoria, conhecida como teoria do comando divino, também tem seus problemas.
Desde Platão pelo menos, a há uma corrente de pensamento na filosofia que acredita existir certo e errado e que esse é definido pela natureza ou pela razão humana. Entre as várias tentativas no sentido de identificar a verdade moral, algumas se destacam, entre elas a ética kantiana, a teoria utilitarista, a ideia de direitos humanos, a teoria da justiça de Rawls etc.
Portanto, o fato de não haver consenso em alguns debates morais cotidianos ou a crença em Deus como fonte de valor moral ter declina, há outras possibilidades que devem ser consideradas antes de se afirmar que não existe certo e errado. De qualquer forma, essa é uma perspectiva possível e importante sobre o assunto.
Referências consultadas
Lawhead, William. The Philosophical Journey: An Interactive Approach. New York, McGraw-Hill Education, 2013.
Russel, Bertrand. Religião e ciência. São Paulo, Funpec Editora, 2009.