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Górgias e o poder das palavras

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Introdução

O texto abaixo é um excerto do Elogio de Helena, escrito por Górgias (485 — 380 a.C). Nele o autor tenta nos convencer que Helena não tem nenhuma culpa pelo que aconteceu porque foi forçada por aquele com quem fugiu. Helena era casada com Menelau, rei de Esparta. Contudo, fugiu com Páris, filho do rei de Tróia, o que deu origem à longa Guerra de Tróia. Acontece que Helena não não foi raptada por Páris, na melhor das hipóteses, foi seduzida. Aí que está o desafio de Górgias. Mostrar que, mesmo se deixando seduzir, Helena não é culpada. O tema do discurso do filósofo era “escrever um discurso em defesa da mulher mais perversa da história”. Através dele, ilustra o poder corruptor das palavras.

Texto de Górgias

Se por força foi raptada, legitimamente violentada e injustamente ultrajada, é claro que o raptor, porque ultrajou, foi injusto, e que a raptada, ultrajada, foi infeliz. 

Então, que causa impede que também a Helena hinos tenham encantado semelhantemente, embora não sendo jovem, como se por força dos violentos tivesse sido raptada? O efeito da persuasão domina, mas a mente, embora não tenha a forma da necessidade, tem o mesmo poder. Pois o discurso que persuadiu a alma, a que ela persuadiu, força-a a confiar no que é dito e a aprovar o que é feito. Quem portanto persuade, pelo fato de forçar, comete injustiça, mas a alma persuadida, enquanto forçada pelo discurso, sem razão tem má reputação.

A mesma palavra tem o poder do discurso perante a disposição da alma e a disposição dos remédios para a natureza dos corpos. Com efeito, como os diferentes remédios expulsam diferentes humores do corpo, e uns cessam a doença, outros a vida, assim os discursos, uns afligem, outros deleitam, outros atemorizam, outros dispõem os ouvintes à confiança, e outros por meio de uma persuasão maligna envenenam e enfeitiçam a alma. Que ela, então, se pelo discurso foi persuadida, não cometeu injustiça, mas foi infeliz, está dito.

Referência

Górgias, Elogio de Helena. In: Osborne, Catherine. Filosofia Pré-socrática. Porto Alegre: LP&M, 2013, pp. 145-146.