Argumento indutivo
Imagine que você observou inúmeros cachorros e então chegou à conclusão de que todos os cachorros do universo, não apenas os que observou, têm quatro patas. Você usou, sem saber, um raciocínio indutivo.
Um argumento indutivo é aquele no qual se parte de experiências sobre fatos particulares e se infere daí conclusões gerais. Quando dizemos que todos os homens que nascerem irão morrer porque até hoje ninguém deixou de morrer, estamos usando um argumento indutivo. Tais argumentos se baseiam na experiência passada para sustentar uma conclusão.
O primeiro passo para compreender o que é um raciocínio indutivo é não associá-lo à “indução”, “induzir”. Um dos significados de induzir é “ser causa ou motivo de; inspirar, provocar”. Nesse sentido, podemos dizer “a pessoa x foi induzida a cometer um ato de violência”. Porém, quando falamos de argumento indutivo, o significado de “indutivo” não tem nada a ver com “influenciar, inspirar, provocar”. Portanto, para compreender o que é um raciocínio indutivo é importante deixar de lado esse significado mais comum da palavra “indução”.
Chalmers, define assim um argumento indutivo:
“Se um grande número de As foi observado sob ampla variedade de condições, e se todos esses As observados possuíam sem exceção a propriedade B, então todos os As têm a propriedade B.”
Tomemos como exemplo o ponto de ebulição da água doce ao nível do mar. Sempre que observamos a água ferver nessa condição (A), isso aconteceu a 100 graus centígrados (propriedade B). Portanto podemos concluir que a água (A), e qualquer água encontrada na terra ou outro planeta, ferve a 100 graus centígrados (propriedade B) na condição estipulada.
Indução é generalização
Esse tipo de raciocínio também é chamado de generalização indutiva. O uso da palavra “generalização” faz referência ao fato de em um argumento indutivo “generalizarmos”, o que significa passar de premissas particulares para conclusões gerais.
Consideremos mais um exemplo. Imagine que um grupo de pesquisadores está desenvolvendo um remédio para cura da AIDS. Depois de ser testado em animais e se mostrar promissor, os pesquisadores convidam uma série de pacientes com AIDS para serem voluntários nos testes do medicamento em humanos. Inicialmente, cinco pacientes aceitam ser voluntários. Realizando os testes, os cientistas observam o seguinte:
Premissa 1: O remédio R curou a AIDS do paciente A.
Premissa 2: O remédio curou a AIDS do paciente B.
Premissa 3: O remédio R curou a AIDS do paciente C.
Premissa 4: O remédio R curou a AIDS do paciente D.
Premissa 5: O remédio R curou a AIDS do paciente E.
Conclusão: O remédio R cura a AIDS.
Note que as premissas são particulares: elas se referem a apenas um paciente que foi curado. A conclusão, por outro lado, é geral: ao dizer que “o remédio R cura a AIDS”, se aplica a qualquer eventual paciente. Significa o mesmo que “todo paciente que tomar o remédio R será curado da AIDS”. Todo argumento indutivo tem essa característica: se parte de premissas particulares e se chega a conclusões gerais.
Argumento indutivo forte e fraco
O exemplo apresentado acima é uma generalização fraca. É um pouco precipitado concluir que “o remédio R cura a AIDS” com base em apenas cinco casos. O ideal seria fazer uma investigação mais aprofundada, testar em mais pacientes, numa diversidade maior de situações.
Um argumento indutivo pode ser mais ou menos forte. A força de um argumento indutivo depende do grau de apoio que as premissas oferecem para a conclusão. Suponha que o remédio R do exemplo anterior tenha sido testado em dez mil pacientes ao redor do mundo e em praticamente todos os casos levou à cura da AIDS. Dado o número de vezes em que o remédio foi avaliado, a conclusão de que “o remédio R cura a AIDS” é muito forte. Ou seja, sendo as premissas verdadeiras, é improvável que a conclusão seja falsa.
Argumento indutivo com conclusão falsa
Embora seja muito utilizado e fundamental, um argumento indutivo não pode garantir totalmente a verdade da conclusão. Mesmo as premissas sendo verdadeiras e o argumento forte, a conclusão poderá ser falsa.
Para ilustrar isso, lembremos da história do peru indutivista, contada por Bertrand Russell. Diz ele que em certo lugar havia um peru que dedicava seu tempo à elaboração de argumentos indutivos. Depois de um tempo sendo alimentado sempre às nove horas da manhã, o peru indutivista passou a observar e anotar de forma sistemática o horário em que era alimentado. Observou que este não variava, fizesse chuva ou sol, frio ou calor, fosse feriado, fim de semana, sempre era alimentado às nove horas da manhã.
Depois de reunir essas informações de forma cuidadosa, sem precipitação, considerou que poderia concluir com segurança a seguinte afirmação “serei alimentado todos os dias às nove horas da manhã”. E foi com essa expectativa que no dia vinte quatro de dezembro, véspera de natal, o peru foi degolado para servir de alimento no dia seguinte.
A conclusão à qual chegou o peru indutivista depois de muitas observações é legítima. Trata-se de um bom argumento indutivo. No entanto, como um argumento indutivo não garante a verdade da conclusão mesmo que as premissas sejam verdadeiras, esta acabou se mostrando falsa, e o peru teve um fim trágico.
Referências
Chalmers, Alan. O que é a ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993.
Douglas Walton. Lógica Informal: manual de argumentação crítica. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.