Diferença entre verdade e validade
Para analisar um argumento e verificar se ele é bom ou não, é útil compreender algumas distinções feitas pela lógica. Uma delas é a diferença entre verdade e validade.
Para um argumento ser bom, ou seja, para que seja capaz de provar o que pretende provar, são necessárias duas condições: que tenha premissas verdadeiras e que seja válido.
Inicialmente, podemos dizer que verdadeiro ou falso são valores que reservamos para qualificar as premissas ou a conclusão de um argumento. Ou seja, são usados para se referir às partes do argumento. Válida ou inválida, por outro lado, é a inferência feita no argumento, ou seja, a passagem das premissas para a conclusão.
A melhor maneira de compreender o significado de verdade e validade é através da análise de alguns exemplos de seus usos. Então, vamos considerar alguns argumentos para perceber isso.
Primeiro exemplo
Todo homem é mortal.
Pelé é homem.
Portanto, Pelé é mortal.
Uma rápida análise desse argumento nos permite dizer que é bom, porque satisfaz as duas condições que apresentamos acima. As premissas do argumento (“todo homem é mortal” e “Pelé é homem”) são verdadeiras. Além disso, oferecem razões suficientes para chegarmos à conclusão de que ele é mortal, por isso podemos dizer que o argumento é válido. Sendo assim, a conclusão é verdadeira.
Segundo exemplo
A maioria dos meus amigos irá votar no candidato X.
Portanto, esse será o candidato vencedor da eleição.
Suponha que a premissa é verdadeira. Nesse caso, umas das condições para termos um bom argumento foi satisfeita. No entanto, essa premissa oferece garantia suficiente para dizer que a conclusão também é verdadeira? A resposta é não, pois, mesmo ela sendo verdadeira, é possível que a conclusão seja falsa. Geralmente nossos amigos tendem a possuir características parecidas com as nossas, sendo assim o fato de meus amigos votarem no candidato X não pode significar apenas que minha preferência política tem influenciado bastante minhas escolhas de amizade.
Vimos que o primeiro exemplo é um argumento válido, pois as premissas ofereciam razões suficientes para justificar a conclusão de que Pelé é mortal é verdadeira. Porém, nesse segundo exemplo, mesmo as premissas sendo verdadeiras, não temos razões suficientes para afirmar que a conclusão é verdadeira. Portanto, o argumento é inválido.
Agora vamos considerar um último exemplo, no qual as premissas são falsas e o argumento é válido.
Terceiro exemplo
Todos os gatos voam.
Gertrudes é um gato.
Portanto, Gertrudes voa.
Esse argumento também não é muito bom, pois certamente você não ficou convencido de que poderia encontrar por aí a Gertrudes voando naturalmente. Ele não foi capaz de provar sua conclusão, mas por uma razão diferente do argumento anterior. Nesse caso, a culpa é das premissas, que são falsas. Isso compromete já de largada toda a argumentação. Ninguém aceitaria uma conclusão baseada em premissas flagrantemente falsas.
Se é evidente que as premissas são falsas, o que dizer da validade do argumento? É importante notar que o fato de as premissas serem falsas não torna o argumento automaticamente inválido, pois verdade e validade são coisas diferentes. Para observar isso, suponha por um instante que as premissas são verdadeiras, ou seja, que gatos de fato voam e que existe uma gata chamada Gertrudes. Nesse caso, poderíamos concluir com segurança que nossa Gertrudes voa. Isso mostra que as premissas oferecem razões suficientes para mostrar que a conclusão é verdadeira.
Para concluir a análise desses três argumentos podemos dizer o seguinte:
- Para um argumento ser bom, deve ter premissas verdadeiras e que seja válido.
- Um argumento pode ser ruim tendo premissas falsas e sendo válido;
- Ou tendo premissas verdadeiras e sendo inválido.
Ao observar a maneira como os conceitos de “verdadeiro” e “válido” foram usados na análise do argumento acima, é possível notar uma diferença fundamental.
“Verdadeiro” e “falso” são valores usados na análise de argumentos para qualificar proposições. E nesse sentido têm um significado comum. Uma proposição é verdadeira quando se refere a um fato real e falsa quando não.
“Válido” e “inválido” são valores usados para qualificar o processo de inferência. Quando uma conclusão é tirada de uma ou mais premissas, ela pode ser considerada válida ou inválida. Nesse sentido, validade se refere à capacidade que as premissas têm de justificarem ou não a conclusão, independente de serem verdadeiras ou falsas.
Conclusão
Verdade e validade são conceitos úteis para organizar o processo de análise de argumentos. Para avaliar se uma premissa é verdadeira, o processo usado é diferente daquele usado para saber se o argumento é válido.
No primeiro caso, temos que fazer geralmente algum tipo de observação sobre como o mundo é. Se a premissa em questão é “todo gato voa”, avaliar sua verdade significa observar gatos e testar se são capazes de voar.
No segundo caso, avaliar a validade de um argumento envolve analisar a relação lógica entre premissas e conclusão. Mesmo sem nem saber o que é um gato ou se existe uma gata chamada Gertrudes, podemos dizer que o segundo argumento é válido.
Use essa distinção entre verdade e validade para analisar argumentos de outras pessoas ou seus, isso fará com que entenda com mais clareza, quando for o caso, onde está o erro e como criticar ou melhorar o argumento em questão.