Recursos para ensinar filosofia
Questões do ENEM sobre racionalismo e empirismo
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Considero apropriado deter-me algum tempo na contemplação deste Deus todo perfeito, ponderar totalmente à vontade seus maravilhosos atributos, considerar, admirar e adorar a incomparável beleza dessa imensa luz. DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1980. TEXTO II
Qual será a forma mais razoável de entender como é o mundo? Existirá alguma boa razão para acreditar que o mundo foi criado por uma divindade todo-poderosa? Não podemos dizer que a crença em Deus é “apenas” uma questão de fé. RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.
Os textos abordam um questionamento da construção da modernidade que defende um modelo:
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configurado na percepção etnocêntrica.Esta alternativa não está correta porque o etnocentrismo é uma visão que julga outras culturas a partir dos critérios da própria cultura, e não é o foco dos textos apresentados. Os textos tratam mais sobre a relação entre a crença em Deus e a razão humana, algo mais universal do que específico de uma cultura.
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centrado na razão humana.Esta é a alternativa correta. A modernidade se caracteriza pela valorização da razão como forma de entender o mundo. Os textos refletem sobre a existência de Deus e a compreensão do mundo através do questionamento racional, uma característica central do pensamento moderno. O uso da razão para ponderar sobre a fé e a realidade mostra essa ênfase na racionalidade.
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focado na legitimação contratualista.A alternativa que menciona a legitimação contratualista está incorreta porque o contratualismo é uma teoria política sobre o surgimento do estado a partir de um contrato social. Os textos em questão não tratam sobre sistemas políticos nem sobre a formação de sociedades humanas, mas sim sobre a relação entre razão e crença.
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baseado na explicação mitológica.Os textos não defendem uma explicação mitológica. A mitologia se baseia em narrativas tradicionais que explicam o mundo através de fatos sobrenaturais e seres divinos. Na modernidade, um dos pilares é justamente a busca por explicações racionais e científicas, como nos textos que questionam e refletem sobre a existência de Deus de uma perspectiva filosófica.
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fundamentado na ordenação imanentista.Esta alternativa está incorreta pois 'ordenamento imanentista' se refere à visão onde todas as forças e inteligências que regem o universo são ditadas por leis internas ao próprio universo, sem elementos transcendentes, como deuses. Os textos mencionam discussões teológicas e filosóficas sobre a razão e a divindade, o que não se alinha completamente com a ideia imanentista.
O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação?
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Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas.Incorreto. Embora Platão privilegie a razão sobre a sensação, ele não afirma que existe um abismo intransponível entre razão e sensação. Na verdade, ele reconhece que os sentidos podem ter um papel limitado, como um ponto de partida para se alcançar o conhecimento verdadeiro através da razão. Assim, a relação não é de uma completa separação, mas de subordinação.
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Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles.Incorreto. Platão não privilegia os sentidos; ele os vê como enganosos e pouco confiáveis para gerar conhecimento verdadeiro. Em sua Doutrina das Ideias, ele prioriza a razão, pois é através dela que se pode alcançar o conhecimento das Formas, que são a verdadeira realidade.
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Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão.Incorreto. Não é uma posição de Platão que Parmênides considera a sensação superior à razão. Parmênides, como Platão, favorece a razão, mas Platão desenvolve essa ideia ao considerar a sensação como insuficiente para o conhecimento verdadeiro, sem partir do pressuposto de que a sensação é vista como superior por Parmênides.
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Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis.Incorreto. Platão não adota a posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis. Parmênides, de fato, enfatiza a importância da razão, mas Platão acredita que a sensação é incapaz de fornecer acesso ao conhecimento verdadeiro por si só. Ele estabelece uma hierarquia em que a razão é superior à sensação.
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Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não.Correto. De acordo com Platão, o verdadeiro conhecimento não pode ser baseado nas sensações, pois elas são enganosas e mudam constantemente. O conhecimento verdadeiro deve tratar das Ideias ou Formas, que são perfeitas e eternas, e só podem ser alcançadas pela razão. Assim, Platão considera a razão como a fonte do conhecimento verdadeiro, enquanto a sensação é insuficiente.
O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que
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refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas recusadas por Kant.Esta alternativa está incorreta. Kant não refuta mutuamente ambas as posições tradicionais acerca do conhecimento; ao contrário, ele transforma e reequilibra essas posições. Kant não descarta o empirismo e o racionalismo completamente, mas oferece uma nova abordagem que combina elementos deles, articulando uma nova maneira de compreender o conhecimento como resultado da interação entre estruturas mentais e experiências sensoriais.
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revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão filosófica.Esta alternativa está incorreta. Apesar de Kant indicar uma relação entre a experiência e o conhecimento, o foco aqui é a precedência que ele dá às estruturas internas do conhecimento sobre os objetos externos. Não é uma questão de interdependência simples, mas de uma priorização em que o conhecimento organiza a experiência. A reflexão filosófica não apenas acompanha os dados da experiência, mas determina como esses dados são compreendidos e organizados.
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apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos.Esta alternativa está incorreta. Kant argumenta que, apesar de nossa experiência do mundo ser estruturada pelas nossas formas de conhecimento, ele não coloca as ideias isoladamente como primazia sobre os objetos. Ele critica exatamente a ideia de que o conhecimento seja apenas uma questão de ideias internas sobrepostas aos objetos, como no idealismo radical. Para ele, existe uma interação em que nem os objetos, nem as ideias assumem primazia absoluta de forma isolada.
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defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo.Esta alternativa está incorreta. Kant não defende que o conhecimento é impossível, nem que o ceticismo é o único caminho. Embora Kant tenha apontado os limites do conhecimento humano, ele também propôs que, dentro desses limites, é possível ter conhecimento seguro. Portanto, ele não promove o ceticismo absoluto, mas sim uma compreensão crítica da capacidade de conhecimento.
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assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento.Esta alternativa está correta. A citação refere-se à mudança proposta por Kant em relação ao conhecimento. Antes, pensava-se que nosso conhecimento deveria se ajustar ao mundo dos objetos, como se estivéssemos apenas tentando espelhar fielmente a realidade externa. Kant, no entanto, sugere que é o mundo dos objetos que se ajusta ao nosso conhecimento, ou seja, nós elaboramos ativamente a nossa experiência do mundo por meio de nossas estruturas mentais. Portanto, há dois pontos de vista opostos: um baseado na tradição empírica, onde os objetos moldam o conhecimento, e outro, proposto por Kant, onde o conhecimento organiza a experiência dos objetos.
Depreende-se deste excerto da obra de Hume que o conhecimento tem a sua gênese na
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percepção dos sentidos.Esta alternativa está correta. Hume é um filósofo empirista que acredita que todas as ideias têm sua origem nas percepções dos sentidos. Ele faz uma distinção entre impressões, que são experiências sensoriais diretas, e ideias, que são cópias menos vívidas dessas impressões. Portanto, quando Hume fala sobre pensamentos ou ideias como cópias de uma sensação ou sentimento anterior, ele refere-se à percepção como a gênese do conhecimento.
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elaboração do intelecto.Hume defende que toda ideia ou pensamento complexo tem origem em ideias simples que, por sua vez, são cópias de sensações ou sentimentos anteriores. Portanto, a elaboração do intelecto não é a gênese do conhecimento, mas sim um processo subsequente. O conhecimento, para Hume, começa com as impressões que recebemos do mundo ao nosso redor, que são imediatas e vívidas, antes de passarem pelo intelecto.
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realidade trascendental.A ideia de realidade transcendental remete mais uma vez à filosofia de Kant, que fala de uma realidade que existe além de nossas percepções sensoriais. Hume, como empirista, argumenta que nosso conhecimento é derivado da experiência sensorial e que não podemos conhecer nada além do que os sentidos nos apresentam. Assim, falar de uma realidade transcendental não está de acordo com a deixa de Hume que apoia a percepção sensorial como a origem do conhecimento.
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convicção inata.A teoria de Hume não admite a existência de ideias inatas, ou seja, ideias com as quais nascemos. Pelo contrário, ele é um defensor do empirismo, que postula que todas as ideias vêm da experiência. Então dizer que o conhecimento surge de uma convicção inata não está alinhado com o pensamento de Hume. Ele refuta essa ideia ao argumentar que até mesmo as ideias mais complexas se baseiam em experiências sensíveis.
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dimensão apriorística.O termo 'dimensão apriorística' está mais associado com a filosofia de Kant, que argumenta sobre conhecimentos que são independentes da experiência. Hume, no entanto, argumenta a partir de uma perspectiva empirista, ou seja, que o conhecimento começa com a experiência sensorial. Portanto, esta alternativa não está correta pois não representa a visão de Hume, que não acreditava em conhecimentos que existam antes da experiência.
A proposição “eu sou, eu existo” corresponde a um dos momentos mais importantes na ruptura da filosofia do século XVII com os padrões da reflexão medieval, por:
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questionar a relação entre a filosofia e o tema da existência de Deus.A posição de Descartes quanto à existência de Deus é um passo posterior em suas meditações. Ele primeiro estabelece sua própria existência e, somente depois, trata da questão da existência de Deus como parte do fundamento do conhecimento e do mundo. A proposição "eu sou, eu existo" não é diretamente sobre Deus, mas sobre a certeza da própria existência. Portanto, essa alternativa é incorreta.
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utilizar silogismos linguísticos como prova ontológica.Descartes não utiliza silogismos linguísticos como prova de sua existência; ele emprega uma introspecção direta ao afirmar sua certeza de existir toda vez que pensa. Silogismos são formas de argumentação dedutiva, diferente do caminho que ele desenvolve em suas meditações. Portanto, essa alternativa é incorreta.
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estabelecer um princípio indubitável para o conhecimento.A afirmação "eu sou, eu existo" vem do raciocínio de Descartes que busca encontrar uma base sólida para o conhecimento, algo que seja absolutamente indubitável. Essa certeza é alcançada porque, ao tentar duvidar de tudo, ele percebe que a própria dúvida já confirma a existência do eu que pensa ou duvida. Assim, ele estabelece um princípio fundamental sobre o qual pode basear todo o conhecimento. Logo, essa alternativa é correta.
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inaugurar a posição teórica conhecida como empirismo.O empirismo é a teoria que considera a experiência sensorial como a fonte principal do conhecimento, o que é o oposto do racionalismo cartesiano. Descartes é conhecido por ser um dos fundadores do racionalismo, que valoriza a razão como base do conhecimento, em vez da experiência empírica. Logo, essa alternativa está incorreta.
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estabelecer o ceticismo como opção legítima.Embora Descartes discuta o ceticismo ao longo de suas Meditações, seu objetivo não é estabelecer o ceticismo como opção legítima, mas superá-lo. Ele utiliza o ceticismo metodológico provisoriamente, para encontrar algo que não possa ser questionado (o "cogito"). Portanto, essa alternativa está incorreta.
Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao considerar que
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o espírito é capaz de classificar os dados da percepção sensível.Essa alternativa está incorreta. Hume não sugere que o espírito classifica ativamente os dados da percepção sensível. Ele acredita que as ideias vêm das impressões que recebemos, mas não menciona um processo de classificação dessas percepções como um papel primordial do espírito. Seu enfoque é mais sobre a origem das ideias nos sentidos do que sobre a operação da mente sobre essas ideias.
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as ideias fracas resultam de experiências sensoriais determinadas pelo acaso.Essa alternativa está incorreta. Embora Hume fale sobre a origem das ideias a partir das experiências sensoriais, ele não afirma que as ideias fracas resultam de experiências determinadas pelo acaso. Hume destaca que todas as ideias, sejam fortes ou fracas, derivam de impressões sensoriais, mas ele não atribui a fraqueza das ideias ao acaso.
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os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser processados na memória.Essa alternativa está incorreta. Hume não sugere que os sentimentos ordenam os pensamentos na memória. Para Hume, os sentimentos e as ideias são diferentes, e ele não atribui um papel organizador aos sentimentos em relação aos pensamentos. Existe uma distinção no modo como percebemos diferentes tipos de ideias, mas isso não se relaciona com uma organização feita por sentimentos.
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as ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados são colhidos na empiria.Esta alternativa está incorreta. Na filosofia de Hume, as ideias não têm como fonte específica os sentimentos. Embora os sentimentos possam influenciar ideias, Hume distingue sentimentos de impressões sensoriais, que são a verdadeira fonte das ideias. As ideias originam-se de impressões sensoriais diretas, enquanto os sentimentos são mais uma resposta emocional ligada a essas impressões e ideias.
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os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação.Esta é a alternativa correta. Hume defende que todas as ideias são cópias enfraquecidas de impressões, que são recebidas pelos nossos sentidos. Ele fala sobre duas espécies de percepções da mente: impressões, que são percepções vívidas quando experimentamos algo, e ideias, que são reflexões dessas impressões. Assim, as ideias têm origem nas impressões, ou seja, na sensação.
O instrumento intelectual empregado por Descartes para analisar os seus próprios pensamentos tem como objetivo
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estabelecer uma base cognitiva para assegurar a valorização da memória.Esta alternativa está incorreta. A proposta de Descartes nas Meditações não é estabelecer uma base cognitiva para assegurar a valorização da memória. Sua preocupação é muito mais fundamental e diz respeito à busca de certeza e solidez no conhecimento humano. Ele busca uma verdade inabalável que não possa ser questionada, como ponto de partida para o conhecimento verdadeiro, não uma valorização da memória.
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investigar totalidades estruturadas para dotá-las de significação.Esta alternativa está incorreta. Descartes, em suas Meditações, não está investigando totalidades estruturadas para dotá-las de significação. Seu objetivo não é explorar estruturas complexas ou significados intrínsecos na maneira que um estruturalista faria, mas sim buscar a certeza e a fundamentação do conhecimento. Ele quer chegar a um ponto de certeza absoluta que funcione como base inabalável para todo o seu sistema de conhecimento posterior.
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identificar um ponto de partida para a consolidação de um conhecimento seguro.Esta alternativa está correta. O propósito de Descartes, utilizando o método da dúvida, é identificar um ponto de partida seguro para o conhecimento. Ao duvidar de tudo que pode ser questionado, ele busca encontrar algo que seja absolutamente certo e inquestionável. Na segunda meditação, ele chega a essa certeza ao perceber que, enquanto pensa e duvida, ele certamente existe – famoso "Cogito, ergo sum" (Penso, logo existo). A partir daí, ele reconstrói o conhecimento sobre bases seguras.
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analisar as necessidades humanas para a construção de um saber empírico.Esta alternativa está incorreta. Descartes não está interessado em analisar necessidades humanas para construir um saber empírico. O conhecimento empírico se baseia na observação e na experiência, enquanto Descartes está baseando sua filosofia na dúvida metódica, que questiona a validade das experiências sensoriais e busca verdades que não possam ser negadas através do uso da razão, como a própria existência do "eu" pensante.
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observar os eventos particulares para a formação de um entendimento universal.Esta alternativa está incorreta. Descartes não está observando eventos particulares para formar um entendimento universal através de uma generalização indutiva, como um empirista faria. Pelo contrário, ele inicia seu raciocínio duvidando de tudo que vem dos sentidos, que seriam responsáveis por observações particulares, e busca o conhecimento através da razão, chegando inicialmente à certeza de sua própria existência como um ponto de partida confiável.
Apesar de questionar os conceitos da tradição, a dúvida radical da filosofia cartesiana tem caráter positivo por contribuir para o (a):
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recuperação dos antigos juízos.Esta alternativa está incorreta. O objetivo de Descartes não era recuperar os antigos juízos, mas sim duvidar deles para encontrar novas certezas. A dúvida cartesiana foi uma ferramenta crítica para superar estes juízos, que poderiam ser baseados em suposições errôneas ou aceitáveis sem questionamento no contexto de sua época. Descartes queria estabelecer um novo fundamento para o pensamento rigoroso e não apenas reencontrar ou reafirmar as opiniões antigas.
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fortalecimento dos preconceitos religiosos.Essa alternativa está incorreta. Descartes não tinha a intenção de fortalecer preconceitos religiosos por meio de sua dúvida radical. Ao contrário, a dúvida radical foi usada para desafiar todas as certezas, inclusive as religiosas, na busca de uma base de conhecimento que pudesse ser assegurada além de qualquer dúvida racional. Ele até encontrou um lugar para Deus em sua filosofia, mas não foi com o intuito de simplesmente fortalecer preconceitos religiosos, e sim de integrar esta ideia a um sistema de pensamento mais amplo e fundamentado.
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surgimento do conhecimento inabalável.Esta alternativa está correta. Descartes utilizou a dúvida metódica como uma maneira de descartar qualquer certeza que pudesse ser posta em questão e, assim, encontrar uma verdade que fosse absolutamente certa e inabalável. O famoso "Cogito, ergo sum" (Penso, logo existo) é um exemplo disso. Ele considerou este ponto como uma verdade fundamental e inquestionável, demonstrando, portanto, como a dúvida leva ao surgimento de um conhecimento confiável e difícil de ser contestado.
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dissolução do saber científico.Essa alternativa está incorreta. Descartes aplicou a dúvida radical para fundamentar um novo tipo de conhecimento. Enquanto a dúvida radical removeu certas crenças sobre o mundo, o objetivo subjacente de Descartes era, na verdade, fortalecer um novo tipo de conhecimento, não dissolvê-lo. Ele queria encontrar bases sólidas e inabaláveis para a ciência, e o método científico de Descartes foi parte importante no desenvolvimento da ciência moderna.
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exaltação do pensamento clássico.Essa alternativa está incorreta. Descartes foi, na verdade, uma figura central no movimento de questionar o pensamento clássico. Em vez de exaltar, ele usou a dúvida para desafiar e substituir muitas ideias aceitas na tradição anterior pela busca de novas certezas. Portanto, ele não tentou exaltar o pensamento clássico; o que ele fez foi seguir um caminho para verificar quais fundamentos ainda eram válidos e quais poderiam surgir de sua análise crítica.
Segundo o autor, qual é a origem do conhecimento humano?
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A revelação da inspiração divina.Incorreta. Hume, um empirista, não apoia a ideia de que o conhecimento verdadeiro vem da inspiração divina ou revelação. Ele argumenta que nosso conhecimento do mundo é baseado na experiência sensorial e na observação, não em insights divinos ou espirituais.
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O estudo das tradições filosóficas.Incorreta. Embora o estudo de tradições filosóficas possa enriquecer nosso entendimento, Hume não vê isso como a origem do conhecimento. Ele distingue entre "relações de ideias" (verdades necessárias conhecidas por raciocínio) e "questões de fato" (conhecimento do mundo empírico), sendo o último derivado da experiência direta do mundo, e não de tradições ou estudos filosóficos.
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O desenvolvimento do raciocínio abstrato.Essa alternativa está incorreta. Segundo Hume, o conhecimento humano não se origina meramente do raciocínio abstrato. Embora o raciocínio seja uma capacidade importante da mente humana, Hume argumenta que ele não é suficiente para formar conhecimento sobre o mundo. Ele enfatiza a experiência como a principal fonte de conhecimento, não a abstração ou dedução a priori.
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A vivência dos fenômenos do mundo.Esta é a alternativa correta. Na visão de Hume, a origem do conhecimento humano é a vivência dos fenômenos do mundo, ou seja, a experiência. Ele acredita que todas as ideias derivam das impressões, que são nossas experiências diretas e sensíveis. Esse é o cerne do seu empirismo, que coloca a experiência sensorial no centro da aquisição de conhecimento.
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A potência inata da mente.Incorreta. Hume é conhecido por criticar a ideia de conhecimento inato — ou seja, conhecimentos e ideias que já estariam presentes na mente no nascimento. Para ele, o conhecimento vem principalmente da experiência sensorial. Ele acreditava que sem a experiência empírica, a mente não poderia formar ideias ou compreender causas e efeitos no mundo.
HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.
O problema descrito no texto tem como consequência a
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correspondência entre afirmações singulares e afirmações universais.Incorreto. A correspondência entre afirmações singulares e universais refere-se ao problema de inferir regras gerais a partir de casos particulares. Isso está relacionado com o problema da indução que Hume discute. No entanto, não é especificamente a consequência imediata que ele descreve no texto. A principal consequência abordada é a dificuldade em bases sólidas para as leis científicas quando se baseiam na indução.
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universalidade do conjunto das proposições de observação.Incorreto. A universalidade do conjunto das proposições de observação implica que quaisquer proposições de observação podem ser feitas em qualquer contexto e tempo, mas isso não é o que Hume está questionando aqui. O foco de Hume é no raciocínio indutivo, sobre como justificamos a passagem de observações particulares para generalizações universais, e não a simples existência de um conjunto universal de observações.
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normatividade das teorias científicas que se valem da experiência.Incorreto. Quando falamos sobre a 'normatividade' das teorias científicas, estamos discutindo como elas devem ser formuladas e verificadas, muitas vezes na forma de um método científico. Hume, em seu texto, está mais focado no problema de justificar a transição do particular para o universal através da indução, e não nas normas ou padrões que devemos seguir ao fazer ciência.
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inviabilidade de se considerar a experiência na construção da ciência.Incorreto. Hume não está sugerindo que é inviável considerar a experiência na construção da ciência, mas sim que há um problema lógico ao tentar estender conclusões a partir do que foi experenciado até então para deduções futuras. A experiência ainda é essencial na ciência, mas Hume nos alerta sobre as limitações da indução.
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dificuldade de se fundamentar as leis científicas bases empíricas.Correto. David Hume está abordando o que ficou conhecido como o "problema da indução". Ele argumenta que não há justificativa lógica para extrapolar experiências passadas para prever eventos futuros. Ou seja, só porque algo sempre ocorreu de uma maneira no passado, não podemos ter certeza se seguirá ocorrendo da mesma forma no futuro. Essa questão é crítica nas bases das leis científicas que dependem de evidências empíricas e da proposição de que podemos extrapolar observações passadas para prever resultados futuros. Portanto, a dificuldade de fundamentar leis científicas em bases empíricas está diretamente ligada ao problema descrito por Hume.
Em busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico, como resultado da
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retomada da tradição intelectual.Essa alternativa está errada. Descartes propõe um método de pensamento que, apesar de usar a tradição como ponto de partida, busca renovar e questionar o conhecimento estabelecido, em vez de simplesmente retomá-lo. Ele acredita na formulação de julgamentos sólidos, novos e independentes, o que não se alinha com uma simples retomada da tradição intelectual.
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autonomia do sujeito pensante.Esta está correta. Descartes está defendendo a importância da razão e da capacidade do sujeito de pensar de forma independente e autônoma. Ele acredita que o verdadeiro conhecimento vem da nossa própria capacidade de resolver problemas e formular juízos, e não apenas de absorver informações de outras pessoas, por mais autoritativas que sejam. Essa ideia de autonomia do sujeito pensante é central em suas obras.
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imposição de valores ortodoxos.Essa está incorreta, pois Descartes não fala de imposição de valores ortodoxos, mas sim de pensar de forma independente e crítica. Ele criticava, na verdade, a aceitação passiva de conhecimentos e valores tradicionais, incentivando um espírito investigativo mais livre e questionador.
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investigação da natureza empírica.Essa alternativa também está incorreta. A investigação da natureza empírica se refere a uma abordagem que enfatiza a experiência e a observação sensorial como base para o conhecimento. Descartes, na verdade, é conhecido por sua abordagem racionalista, onde a razão e o pensamento crítico desempenham um papel central na busca pelo conhecimento verdadeiro, mais do que a mera observação empírica.
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liberdade do agente moral.Essa está incorreta. A liberdade do agente moral está mais associada a questões éticas e morais, enquanto Descartes, nesta citação, está se referindo à busca da verdade e ao conhecimento científico e filosófico. Ele está falando mais sobre a capacidade de pensar e julgar por si mesmo, o que vai além da simples liberdade moral.
Os meus pensamento são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca. PESSOA, F. O guardados de rebanhos - IX. In: GOLHOZ, M. A. (Org.). Obras poéticas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999 (fragmento). TEXTO II
Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999 (adaptado).
Os textos mostram-se alinhados a um entendimento acerca da ideia de conhecimento, numa perspectiva que ampara a
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confirmação da existência de saberes inatos.Esta alternativa está incorreta. A confirmação da existência de saberes inatos remete a ideias de que certas verdades ou conhecimentos são inerentes ao ser humano, sem a necessidade de experiência externa. Este não é o foco dos textos, que sugerem que o conhecimento é obtido através das experiências sensoriais e subjetivas. Portanto, não sustentam a ideia de saberes inatos, mas sim da construção do conhecimento a partir da percepção sensorial.
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verificabilidade de proposições no campo da lógica.Essa alternativa está incorreta. Verificabilidade de proposições no campo da lógica refere-se à capacidade de se determinar se uma afirmação é verdadeira ou falsa através de métodos lógicos e empíricos, o que está relacionado a uma concepção mais racionalista e analítica do conhecimento. Nos textos citados, o foco não é na lógica ou na razão, mas sim na experiência sensorial e concreta como base do conhecimento.
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anterioridade da razão no domínio cognitivo.Esta alternativa está incorreta. A anterioridade da razão no domínio cognitivo é uma definição tipicamente racionalista, que valoriza a razão como primária e fundamental na aquisição de conhecimento. Textos de Merleau-Ponty e do heterônimo de Pessoa (Alberto Caeiro) valorizam a percepção sensorial e a experiência do mundo como fundamentais para o conhecimento, não a razão como anterior ou superior.
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possibilidade de contemplação de verdades atemporais.Essa alternativa está incorreta. A possibilidade de contemplação de verdades atemporais sugere que certas verdades são universais e independem de contexto. No entanto, os textos enfatizam o papel da experiência e a percepção subjetiva na construção do conhecimento, o que está em desacordo com a ideia de que há verdades imutáveis e abstratas conhecíveis sem contexto ou experiência sensorial específica.
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valorização do corpo na apreensão da realidade.Esta alternativa está correta. A valorização do corpo na apreensão da realidade é a perspectiva que mais se alinha aos textos apresentados. O texto de Pessoa fala sobre pensar com os sentidos, e Merleau-Ponty destaca a percepção e experiência como base para o conhecimento. Isso indica uma valorização do corpo e da experiência sensorial na construção do conhecimento, em vez de uma primazia da razão ou lógica.
Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez. DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979. TEXTO II
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita. HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume
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entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica.Essa alternativa está incorreta. Descartes, no texto, expressa uma desconfiança em relação aos sentidos, afirmando que eles podem enganar. Isso é um alerta para sermos críticos com as ideias que temos. Hume também sugere uma metodologia crítica ao questionar de onde as ideias derivam. Ambos, portanto, falam sobre a importância de suspeitar e questionar a origem e significado das ideias, e não indicam que isso seja desnecessário.
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são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento.Essa alternativa está incorreta. O criticismo é um termo mais especificamente associado a Kant, que desenvolveu a ideia de que conhecemos o mundo através de categorias a priori do entendimento. Descartes e Hume têm suas próprias abordagens críticas, mas elas não se enquadram no criticismo kantiano. Descartes é um racionalista que desconfia dos sentidos, e Hume é um empirista que defende a importância dos dados sensoriais.
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concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos.Essa alternativa está incorreta. Apesar de Descartes e Hume reconhecerem dificuldades e limitações no conhecimento humano, ambos apresentam perspectivas afirmativas sobre como o conhecimento pode ser obtido, seja pela razão (Descartes) ou pelas impressões sensoriais (Hume). Eles não concluem que o conhecimento humano é impossível, mas sim que devemos ser cautelosos e críticos em sua obtenção.
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defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo.Essa alternativa está incorreta. Descartes desconfia dos sentidos, afirmando que eles podem enganar. Sua abordagem é mais racionalista, contando com a razão para alcançar verdades. Hume, por outro lado, enfatiza a importância das impressões sensoriais na formação das ideias, alinhando-se mais ao empirismo. Portanto, eles não defendem de maneira uniforme os sentidos como critério originário do conhecimento.
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atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento.Essa alternativa está correta. Descartes e Hume têm posturas distintas sobre o papel dos sentidos no conhecimento. Descartes é célebre por sua dúvida metódica, desconfiando dos sentidos e acreditando que a razão é o caminho para o conhecimento seguro. Hume, inversamente, enfatiza o papel das experiências e impressões sensoriais como origem das ideias, sendo um representante do empirismo. Assim, eles atribuem diferentes papéis aos sentidos no processo de conhecimento.
Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável. DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado). TEXTO II
É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida. SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do conhecimento, deve-se
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investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos.Esta alternativa está incorreta, pois não é o que Descartes propõe. Embora ele esteja interessado na investigação dos conteúdos da consciência, seu foco nunca é dirigido especificamente aos menos esclarecidos. Descartes considera a consciência de todos passível de dúvida, independentemente do nível de esclarecimento anterior. Seu método não faz distinções de instrução, mas sim estabelece uma crítica universal das crenças.
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buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados.Essa escolha está incorreta porque Descartes não quer simplesmente eliminar os saberes antigos, mas sim questioná-los e examiná-los profundamente. O objetivo não é esquecer ou apagar o que veio antes, mas sim avaliar o que pode ser mantido após uma análise crítica e o uso da dúvida metódica. A memória e o conhecimento precisam ser examinados com rigor, mas não apagados indiscriminadamente.
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encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados.Essa alternativa está incorreta pelo fato de que Descartes não parte de ideias ou pensamentos que poderiam dispensar questionamento prévio. O próprio método cartesiano se baseia em questionar absolutamente tudo que possa ser duvidado, até encontrar algo que seja indubitavelmente verdadeiro, como o famoso "Penso, logo existo" (Cogito, ergo sum). Portanto, não há ideias preexistentes que ele encara como evidentes sem questioná-las.
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retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade.Essa afirmação está incorreta porque vai contra o objetivo central de Descartes, que é precisamente o de romper com a tradição. Ele quer criar um novo método, não se basear nos velhos conceitos que julga duvidosos e problemáticos. Ele acredita que o conhecimento legado pela tradição está cheio de erros e incertezas, e portanto, não serve como base para o novo edifício do saber que deseja construir.
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questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções.A resposta está correta porque reflete exatamente o projeto de Descartes. Ele advoga pelo uso da dúvida metódica, que é uma ferramenta para questionar sistematicamente todas as crenças anteriores. Esta abordagem é radical no sentido de que pretende verificar a base de todo o conhecimento, rejeitando tudo o que não é absolutamente certo e evidente. A ideia é que, somente ao questionar de forma abrangente e profunda, é possível reconstruir o conhecimento sobre bases sólidas.
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