Filosofia da Mente
Uma das questões fundamentais da filosofia da mente é saber se basta um cérebro para que seja possível a consciência ou também é necessário algo como uma alma.
O que a filosofia da mente estuda?
A filosofia da mente é uma área da filosofia que procura entender o que significa ter uma mente, do que ela é constituída e se é possível que outros seres não-humanos, como máquinas e animais, por exemplo, também possuam mente.
Essas questões existem e são bastante complexas porque a mente é algo especial. Ninguém se pergunta, por exemplo, qual a natureza do coração, do que ele é constituído e se outros seres não-humanos poderiam ter um. A resposta, nesse caso, parece simples: o coração é feito de uma combinação de células, outros animais possuem um coração e é possível conceber máquinas usando algo que tenha a função de um coração ou então o transplante de um coração artificial para um ser humano. Por essa razão é que não temos uma “filosofia do coração”.
Do que é feita a mente?
Para entender como surgem os problemas discutidos pela filosofia da mente, basta prestar atenção a alguns fatos simples. Se olhar para si mesmo e tentar fazer uma lista de características que o definem, poderia chegar a coisas como: tenho um metro e setenta, cabelo preto e curto, gosto de cultivar amizades, penso que a política é importante e acredito que depois da morte não há mais nada.
Nessa pequena descrição, temos características que chamaríamos de físicas (altura, cor e tamanho do cabelo) e mentais (desejos, pensamentos e crenças). Esses dois tipos de características, além disso, parecem ser totalmente diferentes. De um lado, coisas físicas ocupam um lugar no espaço, têm extensão, têm cor e forma e por isso podem ser observadas, tocadas etc. De outro lado, coisas mentais não ocupam lugar no espaço, não têm extensão, cor ou forma. Não podemos perceber ideias ou desejos caminhando por aí. É através da introspecção, olhando pra dentro de nós mesmo, que percebemos essas coisas mentais.
Pelo fato de desejos, ideias, sentimentos terem uma natureza tão especial, surgem algumas questões que são discutidas pela filosofia da mente:
- Do que é feita a mente? A mente é o cérebro, feita de matéria como o restante do corpo, ou algo diferente e independente desse? A mente é uma alma imaterial que habita o corpo durante um determinado tempo e, com sua morte, passa a existir em um lugar separado?
- Como mente e corpo interagem? Apesar de serem coisas completamente distintas, mente e corpo interagem um com o outra. Por exemplo, se você quiser usar o mouse para clicar em um link dessa página (um evento mental) fará com que seu braço se movimente para executar esse desejo (um evento físico). Essa interação também ocorre no sentido inverso: lembre da última vez em que comeu um pouco além da conta (evento físico) e ficou se sentindo sem disposição para fazer qualquer coisa (um evento mental). O problema é entender como isso acontece, já que mente e corpo são tão diferentes. Como algo que não é material pode afetar algo material e vice-versa?
A filosofia da mente é um campo bastante fértil na filosofia. Várias respostas diferentes foram propostas para essas questões centrais da filosofia da mente e, para ficar mais fácil de compreender, podemos agrupar essas ideias em quatro abordagens diferentes: dualismo, fisicalismo ou materialismo, idealismo e funcionalismo.
Dualismo mente-corpo
O dualismo mente-corpo é a afirmação de que a mente e o corpo (que inclui o cérebro) são entidades separadas e distintas. O corpo é uma coisa física, enquanto a mente é uma coisa não-física (imaterial ou espiritual).
A versão mais comum do dualismo é chamada de interacionismo. O interacionismo acrescenta à tese dualista a afirmação de que a mente e o corpo, embora diferentes, interagem causalmente entre si. Essa versão do dualismo foi defendida pelo filósofo francês do século XVII Descartes e representa a visão de senso comum sobre o assunto. Outro filósofo clássico que apresentou uma concepção dualista como essa foi Platão. Muitas religiões também adotam concepção semelhante, ao afirmar que o ser humano, além do corpo possui uma alma e que essa é imaterial e imortal.
Fisicalismo
O fisicalismo é a alegação de que a mente é idêntica ou produto das atividades do cérebro e que não há nenhum aspecto não físico em uma pessoa. Ou seja, mente e corpo são compostos da mesma matéria, têm a mesma natureza.
Existem também diferentes variedades de fisicalismo. As duas versões mais comuns são a teoria da identidade (ou reducionismo) e o eliminativismo. Mesmo que os teóricos da identidade neguem que existe uma mente separada, não-física, eles acham que é significativo falar sobre a mente porque afirmam que toda a conversa sobre a mente pode ser traduzida em conversa sobre estados cerebrais. Por outro lado, o eliminativista acha que nosso vocabulário mental deveria ser eliminado totalmente em favor de um vocabulário fisiológico.
Portanto, para os eliminativistas, falar sobre se a mente é ou não física, ou se interage com o corpo é como perguntar: “os duendes são a favor do desarmamento nuclear?” Ou “os fantasmas gostam de arte moderna? Quando você decide que duendes e fantasmas não existem, essas questões não têm sentido. Da mesma forma, os eliminativistas querem descartar toda linguagem que se refere a eventos mentais porque acreditam que não existem tais coisas.
Idealismo
O idealismo é o contrário exato do fisicalismo. Enquanto o fisicalista diz que os seres humanos não são nada além da matéria, o idealista diz que os seres humanos (e toda a realidade) não é nada além de substâncias mentais. O idealista resolve o problema mente-corpo acreditando que a mente e o corpo não são realmente dois tipos diferentes e irredutíveis de realidade. Pelo contrário, ambos são, em certo sentido, “mentais”. Um dos defensores desse tipo de idealismo é George Berkeley.
Computadores podem pensar?
Ninguém duvida da possibilidade de criarmos um pulmão ou coração artificial para ser usado em ser humanos. No entanto, é possível criarmos uma mente artificial? Um computador que possua inteligência artificial e estamos mentais como o dos seres humanos?
Com o desenvolvimento da informática e de uma série de tecnologias, como softwares capazes de conversar com pessoas, dirigir um veículo pelas ruas sem a ajuda de um humano, fazer diagnósticos médicos, é natural que nos perguntemos onde isso pode levar.
Muitas pessoas que trabalham com o desenvolvimento de inteligência artificial (IA) acreditam que máquinas poderão ter uma mente. Que no futuro, com computadores mais poderosos e os programas apropriados, isso irá acontecer. Essas pessoas acreditam que a inteligência, a consciência, o pensamento é o resultado de uma espécie de programa de computador instalado no cérebro.
Alguns acreditam que isso irá acontecer quando computadores forem capazes de passar no Teste de Turing. Ou seja, quando computadores forem capazes de dialogar com seres humanos sem que estes percebam que se trata de um computador.
Essa teoria é chamada de IA forte, em resumo, seus defensores acreditam que:
um computador apropriadamente programado, que passe o teste de Turing, terá necessariamente uma mente.
Mas há filósofos que discordam completamente dessa abordagem. Searle, por exemplo, defende o que chama de IA fraca. Sua ideia central é que
um computador apropriadamente programado pode simular processos mentais e nos ajudar a compreender a mente, mas isso não significa que tenha uma mente, mesmo que passe o teste de Turing.
Então, Searle defende que um computador será capaz apenas de simular processos mentais, não ter uma mente de fato. Afirma isso porque, através de um experimento mental chamado Quarto Chinês, mostrou que computadores não têm intencionalidade. Ou seja, seus “pensamento” não se referem a nada que seja externo ao próprio pensamento. Quando o computador, por exemplo, usa a palavra “cão”, ela não tem qualquer referência ao mundo real, como acontece quando seres humanos usam.
Referências e leitura adicional
Eric Matthews. Mente: conceitos chave em filosofia. Porto Alegre: Artmed: 2007.