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Questões do ENEM sobre racionalismo e empirismo

Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém, todas as tentativas para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento, malogravam-se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento. KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado).

O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que
refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas recusadas por Kant.
apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos.
revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão filosófica.
defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo.
assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento.

Quando analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos e sublimes que sejam, sempre descobrimos que se resolvem em ideias simples que são cópias de uma sensação ou sentimento anterior. Mesmo as ideias que, à primeira vista, parecem mais afastadas dessa origem mostram, a um exame mais atento, ser derivadas dela. HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

Depreende-se deste excerto da obra de Hume que o conhecimento tem a sua gênese na
percepção dos sentidos.
elaboração do intelecto.
realidade trascendental.
dimensão apriorística.
convicção inata.

TEXTO I

Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável. DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado). TEXTO II

É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida. SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).

A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do conhecimento, deve-se
questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções.
buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados.
investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos.
retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade.
encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados.

Adão, ainda que supuséssemos que suas faculdades racionais fossem inteiramente perfeitas desde o início, não poderia ter inferido da fluidez e transparência da água que ela o sufocaria, nem da luminosidade e calor do fogo que este poderia consumi-lo. Nenhum objeto jamais revela, pelas qualidade que aparecem aos sentidos, nem as causas que o produziram, nem os efeitos que dele provirão; e tampouco nossa razão é capaz de extrair, sem auxílio da experiência, qualquer conclusão referente à existência efetiva de coisas ou questões de fato. HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Unesp, 2003.

Segundo o autor, qual é a origem do conhecimento humano?
A potência inata da mente.
O desenvolvimento do raciocínio abstrato.
A vivência dos fenômenos do mundo.
O estudo das tradições filosóficas.
A revelação da inspiração divina.

É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida. SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).

Apesar de questionar os conceitos da tradição, a dúvida radical da filosofia cartesiana tem caráter positivo por contribuir para o (a):
exaltação do pensamento clássico.
surgimento do conhecimento inabalável.
dissolução do saber científico.
fortalecimento dos preconceitos religiosos.
recuperação dos antigos juízos.

Após ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a concebo em meu espírito. DESCARTES, R. Meditações. Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

A proposição “eu sou, eu existo” corresponde a um dos momentos mais importantes na ruptura da filosofia do século XVII com os padrões da reflexão medieval, por:
utilizar silogismos linguísticos como prova ontológica.
estabelecer um princípio indubitável para o conhecimento.
inaugurar a posição teórica conhecida como empirismo.
questionar a relação entre a filosofia e o tema da existência de Deus.
estabelecer o ceticismo como opção legítima.

TEXTO I

Os meus pensamento são todos sensações.

Penso com os olhos e com os ouvidos

E com as mãos e os pés

E com o nariz e a boca. PESSOA, F. O guardados de rebanhos - IX. In: GOLHOZ, M. A. (Org.). Obras poéticas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999 (fragmento). TEXTO II

Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999 (adaptado).

Os textos mostram-se alinhados a um entendimento acerca da ideia de conhecimento, numa perspectiva que ampara a
anterioridade da razão no domínio cognitivo.
possibilidade de contemplação de verdades atemporais.
verificabilidade de proposições no campo da lógica.
valorização do corpo na apreensão da realidade.
confirmação da existência de saberes inatos.

Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e a experiência. Quando pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais do que juntar duas ideias consistentes, ouro e montanha, que já conhecíamos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimento, e podemos unir a isso a figura e a forma de um cavalo, animal que nos é familiar. HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.

Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao considerar que
as ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados são colhidos na empiria.
o espírito é capaz de classificar os dados da percepção sensível.
os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação.
as ideias fracas resultam de experiências sensoriais determinadas pelo acaso.
os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser processados na memória.

Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias. DESCARTES, R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Em busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico, como resultado da
imposição de valores ortodoxos.
autonomia do sujeito pensante.
retomada da tradição intelectual.
liberdade do agente moral.
investigação da natureza empírica.

TEXTO I

Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez. DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979. TEXTO II

Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita. HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).

Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume
entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica.
são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento.
concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos.
defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo.
atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento.

Pode-se admitir que a experiência passada dá somente uma informação direta e segura sobre determinados objetos em determinados períodos do tempo, dos quais ela teve conhecimento. Todavia, é esta a principal questão sobre a qual gostaria de insistir: por que esta experiência tem de ser estendida a tempos futuros e a outros objetos que, pelo que sabemos, unicamente são similares em aparência. O pão que outrora comi alimentou-me, isto é, um corpo dotado de tais qualidades sensíveis estava, a este tempo, dotado de tais poderes desconhecidos. Mas, segue-se daí que este outro pão deve também alimentar-me como ocorreu na outra vez, e que qualidades sensíveis semelhantes devem sempre ser acompanhadas de poderes ocultos semelhantes? A consequência não parece de nenhum modo necessária.

HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.

O problema descrito no texto tem como consequência a
correspondência entre afirmações singulares e afirmações universais.
normatividade das teorias científicas que se valem da experiência.
universalidade do conjunto das proposições de observação.
dificuldade de se fundamentar as leis científicas bases empíricas.
inviabilidade de se considerar a experiência na construção da ciência.

Na primeira meditação, eu exponho as razões pelas quais nós podemos duvidar de todas as coisas e, particularmente das coisas materiais, pelo menos enquanto não tivermos outros fundamentos nas ciências além dos que tivemos até o presente. Na segunda meditação, o espírito reconhece entretanto que é absolutamente impossível que ele mesmo, o espírito, não exista. DESCARTES, R. Meditações metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).

O instrumento intelectual empregado por Descartes para analisar os seus próprios pensamentos tem como objetivo
investigar totalidades estruturadas para dotá-las de significação.
observar os eventos particulares para a formação de um entendimento universal.
estabelecer uma base cognitiva para assegurar a valorização da memória.
identificar um ponto de partida para a consolidação de um conhecimento seguro.
analisar as necessidades humanas para a construção de um saber empírico.

Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado).

O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação?
Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão.
Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis.
Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não.
Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles.
Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas.

TEXTO I

Considero apropriado deter-me algum tempo na contemplação deste Deus todo perfeito, ponderar totalmente à vontade seus maravilhosos atributos, considerar, admirar e adorar a incomparável beleza dessa imensa luz. DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1980. TEXTO II

Qual será a forma mais razoável de entender como é o mundo? Existirá alguma boa razão para acreditar que o mundo foi criado por uma divindade todo-poderosa? Não podemos dizer que a crença em Deus é “apenas” uma questão de fé. RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.

Os textos abordam um questionamento da construção da modernidade que defende um modelo:
configurado na percepção etnocêntrica.
focado na legitimação contratualista.
fundamentado na ordenação imanentista.
baseado na explicação mitológica.
centrado na razão humana.