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Tábula rasa: a mente é uma folha em branco

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Filósofos racionalistas, como Descartes, acreditavam que a razão por si só era capaz de revelar como o mundo é. Isso porque a razão humana já possui algumas ideias inatas, ou seja, ideias que já nascem com a pessoa. Empiristas como Locke, por outro lado, acreditam que não podemos descobrir como o mundo é simplesmente raciocinando sobre ele. Todo conhecimento sobre o mundo deve passar pela experiência.

Locke atacou a noção de ideias inatas. Em contraste com a teoria dos racionalistas de que a mente naturalmente contém certas ideias, Locke propõe que a mente humana ao nascer é uma tábula rasa, uma expressão latina que significa “folha em branco”. Ao longo do tempo, a partir da sensação, a pessoa vai adquirindo uma quantidade muito grande de ideias. Em outras palavras, sem experiência, a mente não teria conteúdo.

Entretanto, uma vez que tenhamos algumas experiências, a razão pode processar esses materiais compondo, relacionando e abstraindo nossas ideias para produzir ideias mais complexas. Portanto, a razão por si só não pode nos dar conhecimento além da experiência.

Uma disputa importante entre os racionalistas e empiristas diz respeito à origem de nossas ideias. Ambos concordariam que nossa ideia de “banana” tinha que vir da experiência com bananas. No entanto, e a nossa ideia de perfeição? Os racionalistas pensam que a ideia de perfeição é inata dentro da mente e, a partir dessa ideia fundamental, derivamos a ideia de imperfeição. Um dos argumentos de Descartes para a existência de Deus foi baseado na noção de que a ideia de perfeição tinha que ser plantada na mente por um ser perfeito, uma vez que não poderia ter vindo da experiência.

No entanto, Locke diz que chegamos primeiro ao conceito de imperfeição a partir das coisas que experimentamos e depois removemos imaginativamente essas imperfeições até formarmos o conceito de perfeição. Por exemplo, estou ciente que meu conhecimento de computadores é limitado. Mas meu entendimento está crescendo continuamente à medida que minha ignorância é substituída por conhecimento. Assim, posso imaginar um ser cujo conhecimento não tenha nenhuma das lacunas que o meu possui, e essa imagem seria o conceito de conhecimento perfeito. Assim, a partir de nossa experiência, podemos raciocinar sobre coisas que não experimentamos.

Os empiristas pensam que a nossa ideia de infinitude, semelhante à nossa ideia de perfeição, pode começar com a nossa ideia do finito (tirado da nossa própria experiência limitada), da qual derivamos a ideia do infinito. Alcançamos esse conceito, diz Locke, repetindo imaginativamente e compondo nossas experiências de espaço, duração e número limitados, continuando esse processo de pensamento sem fim. Da mesma forma, podemos derivar a ideia de Deus imaginando-nos repetindo e infinitamente compondo nossas experiências finitas de existência, duração, conhecimento, poder, sabedoria e todas as outras qualidades positivas até chegarmos à nossa complexa ideia de Deus. Locke acreditava na existência de Deus, mas quando procura demonstrar que Ele existe, Locke recorre à evidência empírica tradicional presente no argumento cosmológico e no argumento do design inteligente.

Finalmente, Locke pensa que a ética pode ser colocada em uma base empírica. Como não temos sensações diretas que correspondam aos conceitos de bem e mal, devemos encontrar algumas outras sensações das quais essas noções podem ser derivadas. Como é típico das teorias morais empiristas, a teoria de Locke começa com nossas experiências de dor e prazer. Ele diz que chamamos de “bom” o que tende a nos causar prazer e “mal” qualquer coisa que tende a produzir dor. Desta forma, a experiência pode nos ensinar que certos tipos de comportamento são moralmente bons (como manter promessas e prevenir danos), porque levam aos resultados mais satisfatórios.

Locke afirma que, apesar de todas as diferenças culturais, os códigos morais da maioria das culturas têm um grande número de semelhanças. Essa semelhança existe porque a moralidade consiste na sabedoria derivada da experiência coletiva da raça humana. A experiência nos ensina que uma sociedade baseada na traição e no engano não será um lugar muito agradável para se viver, nem é provável que ela sobreviva por muito tempo. Mesmo que pensasse que a experiência pode nos ensinar o que precisamos saber sobre a moralidade, Locke tentou tornar essa visão consistente com suas crenças cristãs. Ele acreditava que Deus fez a experiência humana de modo que viver em conformidade com a lei divina produzirá as experiências mais satisfatórias a longo prazo, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade.