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Plano de aula sobre emoções

- 13 min leitura

Autor: Sérgio Adas, Propostas de trabalho e ensino de filosofia: especificidade das habilidades; eixos temáticos-históricos e transversalidade.

Introdução

O tema das emoções (ou paixões) recebeu tratamento relevante na obra de vários filósofos, como Aristóteles, Descartes, Pascal, Spinoza, Hume, Schopenhauer, Scheller e Heidegger. De modo recorrente, além de estar presente nos textos primários da tradição filosófica, é foco de pesquisas incessantes em distintos campos do conhecimento: nas ciências cognitivas na ética, nos modelos da complexidade (“leitura fina”).

No que tange à Educação, autores como Paulo Freire insistiram na necessidade de que a educação passe a temperar melhor o constante exercício do raciocínio lógico e das abstrações científicas com o exercício do cultivo e do tratamento das emoções e dos sentimentos.

De maneira geral, quando dirigimos um rápido olhar para as grades curriculares de Filosofia, organizadas nas escolas por professores, duas posições extremas parecem prevalecer: de um lado, aquela que chama os alunos para um esforço intelectual pouco equilibrado entre a leitura de textos clássicos de Filosofia, a observação e a expressão dos sentimentos; de outro, a que negligencia a especificidade da tradição e do trabalho com textos e conceitos, fazendo das aulas de Filosofia apenas uma arena equivocada para a discussão de opiniões sobre as questões existenciais dos alunos.

A meio caminho entre uma e outra orientação, oportuno seria edificar um currículo e uma prática de ensino de Filosofia abrindo-se espaço para a leitura de clássicos, como o Livro II da Retórica de Aristóteles, o Tratado das Paixões de Descartes, ou o Livro III da Ética de Spinoza. Neste são descritas mais de 50 emoções ou afetos, como o autor as denomina.

Nesta proposta de trabalho, organizada em quatro aulas para se trabalhar o tema das emoções com os alunos, propomos inicialmente seguir uma abordagem fenomenológica, com base no livro Formas da Sensibilidade, do psicólogo Emilio Romero. Em seus desdobramentos, fragmentos das obras dos filósofos mencionados serão incorporados com vistas a conceituar emoções consideradas essenciais para os alunos.

Deve-se levar em conta que parte importante do percurso de aprendizagem delineado poderá ser realizada em parceria com os professores de Artes e/ ou de Literatura (segunda e terceira aulas). A depender da qualidade do contato com esses colegas de ensino, diversos tipos de trabalho poderão ser articulados em conjunto ou no âmbito daquelas disciplinas. No campo da disciplina Filosofia, o objetivo dessa parceria é abrir espaço, ao menos inicialmente, para unia expressão intuitiva e criativa no universo das emoções, antes de trabalhá-las conceitualmente com o auxílio de textos da tradição.

Aula 1

Passo 1 – Introdução

Sugerimos escrever na lousa a frase de Hegel: “[…] nada grande se realizou no mundo sem paixão”. Em seguida, seria válido explorar, em rápidas palavras, a importância das emoções.

Passo 2 – Exercício de mapa mental

  1. Realizar um mapa mental (ver anexos sobre mapa mental) sobre as emoções e sentimentos que os alunos conhecem ou ouviram falar. Após explicar como se faz um mapa mental, o (a) professor(a) poderá marcar alguns minutos para a sua execução.
  2. Muito possivelmente a depender de conhecimentos prévios — nesta primeira abordagem os alunos terão confundido e misturado emoções e ideias. Cabe, então, antes de prosseguir, um esclarecimento provisório sobre as diferenças básicas entre emoções e pensamentos. Valeria ponderar, por exemplo, que ambos podem ser considerados como experiências internas à pessoa, fatos de nossa mente (ou de nossa alma, como alguns preferem dizer), e podem ocorrer juntos ou se misturar facilmente. Então, com base nos textos 1 e 2 de Aristóteles, fornecidos nessa proposta de trabalho, e também com auxílio do Dicionário da Filosofia de Nicola Abbagnano ou outro, após colher duas ou três opiniões dos alunos sobre qual seria a diferença entre emoção e pensamento, entre sentimento e ideia, o professor poderia complementar e esclarecer que as emoções são reações espontâneas de nosso ser quando somos afetados por um objeto, uma pessoa ou um acontecimento. Pensamentos, por outro lado, são ideias ou imagens deliberadas pelo intelecto para entender o que acontece, dentro ou fora de nós. Emoções são imediatas, ocorrem antes ou durante a atividade de pensar, e constituem um julgamento às vezes instintivo sobre as coisas. Pensamentos são ponderações racionais, e constituem um cálculo ou reflexão sobre as implicações e as consequências dos acontecimentos. Animais têm emoções, não têm pensamentos. Aristóteles observou bem que nas emoções nós somos passivos, elas ocorrem sem depender de nossa vontade, e nos pensamentos somos ativos, eles têm que ser produzidos.
  3. Com um lápis de cor diferente, e trocando ideias com um ou dois colegas, os alunos devem, em seguida, interligar, no mapa mental, as emoções que têm a ver umas com as outras. Por exemplo: ódio tem a ver com raiva, ou amor tem a ver com carinho etc.
  4. Continuando a conversar com um colega, os alunos devem completar juntos seus mapas, lembrando outros sentimentos ou emoções, e fazendo as respectivas interligações.
  5. Por fim, os alunos, organizados em duplas ou trios, devem passar o seu mapa para outro papel (um para cada grupo), mas agora tentando organizar, sempre na forma de redes (característica da técnica do mapa mental), conjuntos de emoções e sentimentos em tomo de alguns poucos que são os mais importantes ou fundamentais, e que serão colocados mais no centro da folha de papel.
  6. Solicitar às duplas ou trios que leiam quais são as emoções ou sentimentos mais importantes. O professor anota-as, para poder passá-las na lousa.
  7. Escolher de seis a dez entre as emoções citadas — incluindo a alegria e a tristeza como contribuição do professor, caso não tenham sido mencionadas anotando-as em diferentes lugares da lousa.
  8. Pedir para os alunos virem, um de cada dupla ou trio, completar na lousa todas as emoções registradas em seus mapas mentais, em torno daquelas registradas pelo(a) professor(a). Caso uma delas já tenha sido anotada, os alunos devem sublinhá-la, de modo a se saber quantas vezes aquela emoção foi lembrada pelas duplas. No fim do exercício, espera-se que o (a) professor(a) tenha na lousa seis a dez grupos de emoções, colocadas em forma de rede em torno das principais.

Passo 3 – Reflexão

Levando os alunos a se consultarem mutuamente, solicite que redijam em seus cadernos uma curta definição inicial, empírica, acerca das emoções principais e sobre algumas outras, de sua livre escolha. Chame a atenção para algumas emoções que têm uma relação polarizada (como alegria/ tristeza ou amor / ódio). Eles devem pensar em tentar responder diretamente: “o que é amor?” (ou alegria, raiva, medo etc.).

Passo 4 – Lição de casa

  1. Peça para os alunos passarem a limpo o mapa mental (um para cada dupla ou trio), criando desenhos e tentando acrescentar o máximo de nomes de emoções e sentimentos, sempre interligados em rede.
  2. Solicite que escolham algumas músicas, imagens, fotos ou poemas que expressem emoções, com o objetivo de se montar uma exposição.

Aula 2

No início da aula, reunir os mapas mentais lado a lado numa parede ou varal. Assim começa a se “preparar o espírito” para a exposição. Comentar, rapidamente, os trabalhos.

Passo 1 – Preleção

Caso o (a) professor(a) julgue pertinente, poderá explicar a formação das emoções básicas que todos os seres vivos, em alguma medida, experimentam (ver texto anexo sobre emoções básicas).

Com base no mesmo texto, explicar a diferença entre emoção, paixão, sentimento e estado de ânimo.

Passo 2 – Exercício

A partir da articulação realizada com os(as) professores(as) de Artes e/ou Literatura, preparar uma exposição de músicas, fotos, imagens, poesias e textos sobre algumas emoções.

A realização da exposição poderá ocupar ainda uma aula de artes ou literatura, a depender da combinação com os(as) outros(as) professores(as).

Aula 3 e 4

Passo 1 – resgatar e avaliar a exposição

A terceira aula deve começar com as considerações dos alunos sobre a realização da exposição de seus trabalhos e sobre o que aprenderam sobre as emoções. Algumas perguntas e questões irão emergir naturalmente dessa partilha. O(a) professor(a) ficará atento para enfatizá-las e registrá-las.

Passo 2 – exposição dialogada, preleção de textos e exercício de leitura

Embora as investigações sobre as emoções e sentimentos tenham passado, desde meados do século XIX, mais para o campo da Psicologia, a Filosofia a seu turno assentou as bases conceituais para essa ciência, além de participar das pesquisas atuais transdisciplinares. Isso justifica plenamente as explicações (exposição dialogada) e exercícios de leitura propostos na sequência.

Tenha presente que a análise dos textos sugerida demandará mais do que uma única aula, estendendo-se, portanto, para a aula seguinte. Da terceira para a quarta aula o (a) professor(a) poderá indicar uma pesquisa sobre algum filósofo ou preparação de um texto na forma de análise, comentário, interpretação ou crítica (veja subsídios para esse trabalho ao final desta proposta de trabalho).

Uma sugestão seria prosseguir do estudo de algumas emoções para o estudo mais cuidadoso do amor e da amizade, tão importantes para os jovens.

Afora essas possibilidades, a serem exploradas conforme o tempo hábil do(a) professor(a), o essencial a essa altura do trabalho é apresentar, numa exposição dialogada, o ensinamento de alguns filósofos sobre o significado e o modo de se administrar as emoções. Para tanto, o (a) professor(a) poderá escolher alguns dos textos indicados na sequência.

Aristóteles – sobre as emoções

Descartes – sobre as emoções

A análise do texto

Para falar de algo, podemos dizer o que esse algo é ou, em contrário, o que não é. Enumerar características que não correspondem ao que se quer definir, se não esclarece, ao menos pode evitar equívocos ou confusões.

A princípio, dizer que a análise de texto não é uma simples opinião expressa acerca de um texto é, contrariamente, dizer que ela tem de apresentar os motivos que justifiquem determinada leitura na direção proposta e que eles se encontram no próprio texto em análise, ou seja, ela propicia um estudo ordenado do texto em questão e origina-se nele, e não em outras fontes.

Esses motivos que tornam a análise razoável não se embasam em pontos frágeis e ou arbitrários que possam passar, ao leitor, a impressão de “achismos”, mas sim em razões que estão explícitas no texto ou nas suas entrelinhas. Importante se faz apontá-las, respeitando a especificidade do texto, contendo os impulsos analíticos e esclarecendo o texto ao leitor, para melhor compreendê-lo.

Na análise, o estudo detalhado do texto visa mostrar todo o encadeamento das frases e palavras, das relações e implicações entre elas, do transcurso do raciocínio desenvolvido, é condição sine qua non para corroborar com o entendimento que se quer obter de quem a lê. Ou seja, tem de se mostrar o como e o porquê podemos compreender desta maneira confrontando, literalmente, os argumentos e expressões presentes no texto; assim, chegamos às noções-chave devidamente justificadas e à compreensão do que quer transmitir o autor.

Claro que podemos ser mais rigorosos e nos aprofundar na análise estabelecendo um método para ela que responda, ordenadamente, a um maior número de questões relativas ao texto, tais como:

  • quando? (contextualização da obra e do autor);
  • onde? (contexto — meio social, profissional, suporte);
  • o quê? (conteúdo, conceitos-chave);
  • quem? (autor, narrador, enunciador);
  • por quê? (problemática e intenções);
  • como? (forma: tipo, modo de construção, estilo);
  • para quem? (público visado/ receptor, alcance).

E elaborando a análise, em cinco etapas, fazendo:

  1. a contextualização;
  2. a estatística de palavras a sublinhar;
  3. a pesquisa da construção do texto;
  4. o levantamento dos interesses do texto;
  5. a elaboração do plano de análise.

Convém dizer que o papel da análise não deve ser confundido com os do comentário, da interpretação ou da crítica.

Anexos

Mapa Mental

É uma forma de aplicação individual da técnica de brainstorm, criada pelo psicólogo e pedagogo inglês Tony Buzan em 1984. O autor partiu de sua experiência pessoal e da observação de métodos não convencionais de anotação para desenvolver essa técnica que se presta a captar com maior rapidez e eficiência a fluência não linear dos pensamentos espontâneos. Seu livro de instruções é sensacionalista e eminentemente prático, mas os mapas mentais têm sido usados com bons resultados enquanto técnica introdutória para a expressão dos alunos, e técnica inicial para esboçar planos de estudo e de trabalho. Eles têm sido usados igualmente em empresas, especialmente como ferramenta de processos de criação, inovação e organização. Seu procedimento é envolvente e estimulante, despertando interesse e criatividade por parte dos agentes.

Um relato sobre a aplicação de mapas mentais na educação espanhola pode ser visto no livro Aprender com Mapas Mentais, de A. Ontoria, A. de Luque e J. P. R. Gómez, editado em 2003 em Madrid, e no ano seguinte publicado em São Paulo pela Editora Madras.

As instruções para a realização de um mapa mental, adaptado aos propósitos desta aula, podem ser assim resumidas:

  1. Escolher uma palavra que resuma um tema e escrevê-la no centro de uma folha de papel em branco, não pautado, em posição “paisagem” A palavra central deve ser enfatizada com um círculo.
  2. Depois de alguns momentos de conversa ou divagação sobre o tema, começar a lançar no papel, fora de ordem e de alinhamentos (uma palavra num canto da página, outra no outro etc.), todas as ideias que ocorrerem sobre o assunto, resumindo-as apenas em palavras significativas. A concisão da escrita deve permitir o registro rápido, capaz de acompanhar a velocidade em que os pensamentos ocorrem, conforme a técnica tradicional de brainstorm.
  3. Permanecer escrevendo ou desenhando incessantemente, por três a quatro minutos, registrando livremente toda e qualquer ideia, lembrança, sensação, associação, imagem etc. que ocorrer, mesmo que não tenha a ver com o tema central. Nesse momento a técnica se torna de fato um “mapa” do que ocorre na mente. Mas procurar sempre retornar ao tema enfatizado no centro da página.
  4. O objetivo gráfico é preencher toda a folha, sempre fora de alinhamentos, com dezenas de palavras, esgotando todas as impressões, intuições e associações iniciais que o tema possa sugerir.
  5. Encerrada essa primeira etapa, com tempo marcado, a segunda etapa consiste em conectar com traços de diversas cores as ideias que apresentam relações significativas entre si, gerando a distinção de alguns grupos de ideias. terceira etapa é reordenar esses grupos em es conceituais distintas, conectadas ao centro comum.

A técnica comporta diversas variações e propósitos, como se acha descrito nos livros do autor e no relato acima mencionados.

Emoções básicas

Todo organismo, para sua sobrevivência, precisa identificar em seu ambiente as circunstâncias favoráveis, indiferentes ou hostis. Mesmo os organismos mais simples têm alguma capacidade de monitorar o ambiente e selecionar seus movimentos em função de indícios de provável satisfação ou insatisfação.

Os animais, dotados de estruturas sensoriais sofisticadas, também desenvolveram as emoções — reações fisiológicas e neurológicas que avaliam a qualidade de detalhes do ambiente, em função do nível de bem ou mal-estar que podem proporcionar.

Podemos visualizar esse relacionamento mediante a seguinte tabela que divide as reações a um ambiente favorável ou hostil:

BenéficasAmeaçadoras
AdequaçãoDificuldade
RelaxamentoTensão
PrazerDor
AtraçãoAversão

Um ambiente favorável incentiva a aproximação, gerando a reação básica de atração. Por outro lado, lugares hostis trazem a expectativa de sofrimento e são evitados, gerando diferentes graus de aversão. Existem ainda espaços ou momentos neutros que provocam estados de indiferença, geralmente após serem saciados os apetites.

A ocorrência de um dano, seja físico ou psíquico, provoca a sensação de dor ou mal-estar. A eminência do dano é indicada pela emoção da ansiedade. Se houver condições de evitar a experiência dolorosa, por meio de afastamento ou fuga, o indivíduo sente medo. Mas se a ameaça não puder ser evitada, forma-se a emoção da raiva e a atitude agressiva.

A ocorrência de uma satisfação provoca a sensação de prazer. A eminência do prazer gera a emoção da alegria. A possibilidade do prazer gera a curiosidade e a esperança.

A dor e a aversão, de um lado, o prazer e a atração, do outro, são sensações e emoções básicas de todos os animais. Elas surgiram na evolução logo que o movimento físico permitiu graus de aproximação ou distanciamento em relação a ambientes com qualidades definidas.

Pela memória dos eventos agradáveis e desagradáveis o indivíduo pode discriminar uma grande variedade de características do ambiente.

As emoções expressam o amplo espectro das necessidades de sobrevivência e vitalidade. Nelas se articula o somático e o psíquico: não há emoção sem comoção orgânica. Cada uma das emoções básicas se caracteriza por expressões corporais típicas.

Como a etimologia indica, e-moção é um movimento para fora. É a expressão de uma reação vital a condições ou a eventos que nos envolvem e nos afetam. Indicam, portanto, qualidades de nossa relação com o mundo e constituem uma condição fundamental de ser, da qual o sujeito pode estar consciente ou não.

Não existe concordância entre os principais autores sobre quais seriam as emoções básicas do ser humano. Na sequência, encontram-se reunidas e resumidas várias propostas, traçando um arco desde o ambiente ou os relacionamentos melhores até o ambiente ou relacionamentos piores, passando por um centro de repouso emocional:

  • Afeição, com seus diversos graus de simpatia, estima e atração até o apaixonamento.
  • Alegria, que vai do bem-estar até o êxtase, incluindo contentamento, felicidade, euforia.
  • Curiosidade, denotando todos os graus de interesse,
  • Saciedade, reação voltada para o interior do próprio organismo, gerando aquietamento e repouso.
  • Ansiedade, no sentido de alerta e expectativa, chegando até o susto, devido a uma mudança rápida e inesperada.
  • Aversão, desde o desgosto e o aborrecimento até a repugnância.
  • Medo, com sua escala que vai do receio ao pavor e ao pânico.
  • Raiva (ou ira), com sua progressão que vai da irritação e rejeição até o ódio, a cólera e a fúria.

A vida afetiva acontece dentro de quatro forma básicas. Seus limites não são rígidos, o que significa que às vezes elas se misturam e combinam:

  • Emoções são reações psicossomáticas que revelam o modo como a pessoa é atingida e envolvida por alguns acontecimentos. Emocionar-se é sentir-se impactado pelos eventos externos ou internos. Sua intensidade é variável e geralmente passageira. As emoções têm sua raiz na constituição biológica da espécie, e não podem ser erradicadas, apenas administradas.
  • Paixões são um arrebatamento, um mergulho, uma completa focalização da pessoa sobre um determinado objeto, o qual absorve sua ação de modo especialmente intenso, durante um certo período de tempo.
  • Sentimentos expressam uma forma de vinculação afetiva do sujeito com os objetos, situações e pessoas do seu ambiente. Eles expressam a qualidade dos laços principais de conexão da pessoa com o mundo, os modos como a pessoa assimila suas experiências, criando disposições afetivas duradouras, positivas ou negativas. Os sentimentos são formas existenciais aprendidas culturalmente, portanto podem se transformar e até cessar. Nem todas as pessoas experimentam os mesmos tipos de sentimentos. Sentimentos podem influenciar as emoções. Emoções repetidas, por sua vez, podem se tornar sentimentos, prolongando-se como constantes afetivas ou estados de ânimo.
  • Estados de ânimo revelam a sintonia predominante da pessoa com o mundo. Essa forma de estar no mundo cria uma disposição que se consolida na estrutura da sensibilidade da pessoa e passa a fazer parte de sua personalidade. Cada pessoa forma, assim, um clima anímico em seu espaço vivencial, que se revela como predisposição vital constante, como traços de caráter.

Toda vida afetiva tem ao menos três elementos que estão presentes na sua vivência concreta. Esses mudam as características das emoções e dos sentimentos:

  1. A ressonância subjetiva. Cada pessoa responde de um modo variável a certo tipo de situação. Isso depende de sua sensibilidade, do significado que é pessoalmente ou culturalmente atribuído à situação, e das condições específicas do acontecimento.
  2. O caráter cromático, dramático ou até mágico que os sentimentos trazem para as situações. Sentimentos trazem uma cor, um perfume, uma tonalidade para a vida. E também são tomados como partes do drama, da comédia ou da tragédia da vida. Pelos sentimentos e pelas emoções, determinados acontecimentos se tornam maravilhosos ou encantadores. Eles adquirem vitalidade, e até as coisas parecem ser dotadas de uma alma. Eles têm algo de sagrado, poderoso, divino.
  3. Todos os sentimentos representam juízos de valor, que se expressam em comportamentos e atitudes. Toda modalidade afetiva implica, de modo sutil ou marcante, uma forma de valorização ou desvalorização. Assim, e somente para ilustrar, Max Scheller toma as emoções como base para seu estudo dos valores, ou Axiologia. Essa questão também é criteriosamente estudada por Yves de La Taille, na obra citada em nota no início dessa proposta de trabalho.