Imagem com logo do site

Demócrito: tudo é átomo e vazio

- 5 min leitura

Demócrito é um filósofo grego que viveu em Abdera, nasceu em 460 a. C. e morreu em 371 a. C. É conhecido sobretudo por ser um dos criadores da ideia de que tudo é formado por átomos. Porém, sua filosofia é muito mais que isso.

Demócrito é geralmente classificado como um filósofo pré-socrático, embora essa classificação seja dúbia. Sócrates nasceu em 471 a. C. e morreu em 399 a.C. Já o filósofo do atomismo nasceu 10 anos depois e morreu quase trinta anos depois de Sócrates. De modo que ele é mais um pós-socrático do que um pré-socrático.

Há uma anedota sobre o momento de sua morte. Já muito velho, sentiu a morte se aproximar. Sua irmã ficou triste porque o período coincidia com a festa das Tesmofórias, de modo que não iria poder prestar o culto adequado à deusa. Vendo isso, Demócrito a animou e pediu para que trouxessem diariamente pães quentes e aproximando-os das narinas, conseguiu sobreviver o tempo necessário. Morreu em seguida, sem qualquer sofrimento.

Outra anedota afirma ainda que em um porto do Mediterrâneo encontrou um carregador particularmente esperto, comprou-o e o transformou em seu secretário. O carregador era Protágoras, um dos filósofos sofistas mais conhecidos.

O filósofo era um grande sábio, conhecedor de uma infinidade de temas. Quando ainda jovem recebeu uma herança e usou para viajar por várias cidades do mediterrâneo. Aí toma conhecimento de várias ideias. Terminada a herança, retorna para casa e passa a desenvolver suas próprias ideias.

Demócrito foi o criador de uma obra extensa. Segundo fonte antiga, Platão teria planejado reunir e queimar seus livros, porém, dois pitagóricos o convenceram de que seria impossível juntar todos os exemplares de sua obra, de tão numerosos. Embora não tenham sobrevivido, a lista de livros de Demócrito chega a setenta, sobre  física, ética, geometria, geografia, matemática e outros assuntos.

Todo é composto de átomos e vazio

Junto com Leucipo, com quem estudou, Demócrito é considerado o criador do atomismo. A preocupação desses filósofos era entender como a natureza é constituída, quais seus elementos mais básicos e por que acontecem as transformações que observamos.

Sua ideia era de que toda a realidade, desde cachorros, seres humanos, planetas e pedras, são constituídos de partículas minúsculas que chamaram de átomos, que em grego significa “o que não pode ser cortado”.

Se pegarmos qualquer coisa, como uma pedra, é possível dividi-la em partes menores, pois ela é constituída por um conjunto de elementos. Porém, chegará um momento em que não será mais possível continuar com essa divisão, porque teremos chegado a partículas que “não podem ser cortadas”, ou seja, teremos chegado aos átomos que constituem a pedra.

Os átomos de Demócrito são invisíveis, indivisíveis, imutáveis, indestrutíveis e incriados. Ou seja, os átomos sempre existiram e sempre irão existir. Não existe um momento na história no qual não havia átomos e passaram e existir e tão pouco existirá um tempo em que deixarão de existir. Os átomos são eternos.

Além de átomos, também existe o vazio, um espaço entre esses que permite seu movimento, que permite que se agreguem e se separem. Caso não existisse vazio, os átomos não poderiam se mover e assim formar tudo o que observamos.

Os átomos se diferenciam um do outro por sua posição e forma. É da combinação de átomos com formas e posições diferentes que surgem todas as coisas que conhecemos. Assim, da combinação de átomos surge, por exemplo, uma ave, que existirá durante um tempo e em seguida morrerá. Vida e morte, existência e não-existência, significa agregação e separação de átomos para Demócrito. Assim, nada deixa de existir realmente, apenas uma combinação particular de elementos minúsculos.

Tudo é por acaso

É comum ouvirmos que “nada é por acaso”. Não há nada mais distante do pensamento de Demócrito, que pensava não existir qualquer causa inteligente por trás dos fenômenos naturais.

Se observarmos uma flor, veremos certa ordem na disposição de seus elementos. O caule fica num determinado lugar, as folhas em outro e a flor em outro ainda. Alterando essa ordem, vira uma bagunça sem sentido. O universo é o maior exemplo de ordem que conhecemos, tal sua grandeza e organização, tanto que os gregos o chamavam de cosmos, por ser bem-ordenado, harmonioso e, por isso, belo.

Como é possível que algo tão organizado venha a existir? Algumas pessoas explicam esse fato, assim como tudo o que acontece, como o resultado de uma inteligência que tem um determinado propósito. Ela é a responsável por ordenar tudo.

Demócrito, tirando as consequências lógicas de seu atomismo, pensava diferente. Tudo surge da auto-organização dos átomos, que se agregam, não por vontade ou sob o comando de uma inteligência, em combinações as mais diversas. A inteligência não vem antes para organizar, ela é o resultado de uma determinada combinação de certos tipos átomos.

A mente, a alma e a morte

Demócrito acreditava que a alma e a mente eram a mesma coisa, e ambas eram constituídas de átomos “lisos e esféricos”.

Portanto, para o filósofo não existe imortalidade da alma. Um ser humano existe enquanto os átomos persistem agrupados numa determinada organização. Com a morte, esses átomos se separam para formar novos seres. Os átomos que uma vez formaram a mente de um indivíduo irão se separar e formar novos seres, como pedras e árvores ou estrelas.

Demócrito era um materialista que acreditava que a realidade era constituída apenas de átomos. Portanto, não existe uma alma humana imaterial que seja capaz de viver eternamente. Tudo o que há de eterno no cosmos são os átomos. As combinações de átomos que forma tudo o que percebemos é passageira e está condenada a se desfazer para dar lugar a novas combinações. O ser humano e seus pensamento também. Com a morte, é o fim do indivíduo.

Citações

Quem jamais foi tão sábio? Quem produziu uma obra tão vasta quanto a dos onisciente Demócrito? A morte esteve presente em sua casa durante três dias, e ele a tratou como hóspede amiga com o cálido odor dos pães fumegantes.

Diógenes Laércio – Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres

Todo país da terra está aberto ao homem sábio, porque a pátria do homem virtuoso é o universo inteiro.

Demócrito

Referências consultadas

Diógenes Laércio. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1988, pp 262- 265.

Giovanni Reale. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus Editora, 1990, pp. 65-68

Michel Onfray. Contra-história da filosofia: as sabedorias antigas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008, pp. 48-71.