Apelo às consequências ou argumentum ad consequentiam
Apelo às consequências é uma falácia cometida quando se afirma que uma proposição é verdadeira porque isso gera consequências benéficas ou que é falsa porque gera consequências prejudiciais. Seu nome latino é argumentum ad consequentiam.
Observe a imagem abaixo
Nela a proposição “as emissões de gases do efeito estufa do gado estão matando o planeta” é considerada falsa. A razão para isso não são evidências de que os gases emitidos pelo gado contribuem para o efeito estuga. Mas o simples fato de que, admitir isso e deixar de usar o gado como de transporte fará com que seja necessário caminhar. Portanto, uma consequência prejudicial. Ou seja, a proposição “as emissões do gado estão matando o planeta” é considerada falsa porque gera consequências prejudiciais ou indesejável.
Um apelo às consequências é um argumento falacioso porque não podemos concluir uma afirmação é falsa ou verdadeira porque gostamos ou não dela. O mundo é indiferente diante de nossas vontades. Não gostamos de andar a pé ou fazer esforço pedalando uma bicicleta, mas isso não é razão para acreditar que uma proposição como “as emissões dos carros prejudicam o meio ambiente” é falsa.
Podemos pensar em um caso bem irreal para percebermos como um apelo às consequências é falacioso. Imagine uma pessoa que argumente da seguinte forma: “Papai Noel existe, porque ficaria muito triste se não existisse”. Nesse caso, uma crença é dita verdadeira porque se fosse falsa iria gerar uma consequência prejudicial para a pessoa. No entanto, como o mundo não está nem aí para o que queremos ou deixamos de querer que seja real, essa é uma crença falsa.
Exemplo 1
Considere o primeiro exemplo
Deus deve existir. Se ele não existisse não haveria qualquer razão para agirmos de forma correta e evitarmos ações incorretas, como mentir por exemplo. Afinal, imagine uma pessoa que passa toda sua vida mentindo e jamais é descoberta. Se Deus não existisse, ela ficaria totalmente impune. Mas se ele existir, a justiça será feita depois de sua morte e ele será punido. Assim, somente a existência de Deus pode assegurar que exista justiça no mundo. Então ele deve existir.
A conclusão do argumento é que a afirmação “Deus existe” é verdadeira porque isso gera consequência benéficas: a justiça no mundo. O problema com esse argumento, como todo apelo às consequências, é que o fato de ser ruim ou bom para o ser humano não é uma evidência para a verdade ou falsidade de uma afirmação.
A natureza é indiferente aos nossos desejos. Não gostamos da ideia de que o mundo não é justo, por exemplo, mas isso não nos autoriza a postular uma entidade responsável por fazer justiça e garantir que nossas vontades sejam realizadas.
Exemplo 2
Imagine o seguinte diálogo. Miriam e Felícia acabaram de sair da aula de biologia, que foi sobre a teoria da evolução, de Darwin, e estão discutindo sobre o que aprenderam
Miriam – O que você achou da teoria da evolução do Darwin?Felícia – Me parece uma explicação bastante engenhosa e plausível sobre o surgimento e desenvolvimento da vida no planeta Terra.
Miriam – Não sei…
Felícia – Mas como assim? Se você parar para pensar, de fato podemos observar a evolução ocorrendo hoje vários seres vivos. Também há os inúmeros fósseis que mostram transições graduais de espécie para espécie…
Miriam – Mas você parou para pensar nas consequências dessa ideia? Se ela for verdadeira, nós humanos teremos evoluído de um macaco. Seremos considerados animais como outros animais. Não posso acreditar nisso. Essa teoria deve ser falsa.
Na discussão acima, um dos interlocutores afirma que “a teoria da evolução é falsa” porque não gosta da ideia de ter evoluído do macaco. Ou seja, porque isso teria uma consequência ruim, indesejável. Faz assim um apelo às consequências.
Referências sobre falácias
Para conhecer mais, veja nossa lista de falácias com dezenas de textos didáticos abordando esse tema. Para uma análise mais aprofunda, sugerimos a leitura de Lógica Informal, um livro de Douglas Walton. Esse é o livro mais abrangente em português sobre o assunto.
Almossawi, Ali. O livro ilustrado dos maus argumentos. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.
Walton, Douglas N. Lógica Informal: manual de argumentação crítica. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.