Argumento circular ou petição de princípio
Argumento circular é um tipo de falácia que consiste em justificar a conclusão que está sendo defendida usando a própria conclusão, com palavras um pouco diferentes. No argumento circular, nenhuma informação útil é acrescentada para sustentar a conclusão.
Podemos exemplificar a petição de princípio com exemplos como “Matar não é certo, logo matar não é certo”. Mas quando ocorre realmente na argumentação é frequente a conclusão apresentar algumas (por vezes consideráveis) modificações linguísticas, de forma a não parecer uma mera repetição. Por exemplo: “Matar seres humanos não é moralmente certo; logo matar pessoas é eticamente errado” ou “O boxe é um esporte inseguro e arriscado; logo, o boxe é perigoso”.
Trata-se, portanto, de um argumento circular. Se analisarmos as ideias realmente expressas para além dessas variações linguísticas verificamos que a relação que de fato se estabelece numa petição de princípio é P, logo P.
Ora, um argumento da forma P, logo P é válido (pois é impossível a premissa ser verdadeira e a conclusão falsa) e pode até ser sólido (se P representar uma proposição verdadeira). Mas trata-se de uma validade “irrelevante e não informativa”. O argumento – apesar de válido ou mesmo sólido – é falacioso, pois as premissas não são mais plausíveis que a conclusão e não constituem, portanto, razões para aceitá-la.
Exemplo de argumento circular
Mateus – Eu acredito que Deus existe.
Érica – Mas como pode acreditar nisso? Que razões você tem?
Mateus – Ora, você não leu a Bíblia? Está escrito lá. Basta você ler o começo e verá que diz ter sido Deus o criador de todas as coisas…
Ética – Sim, sei muito bem que isso está escrito na Bíblia, mas não vejo porque deveríamos levar a sério o que ela afirma. É possível que tudo o que é dito lá não passe de uma fantasia.
Mateus – Isso não é possível. A Bíblia foi ditada por Deus aos homens e, portanto, tudo o que está escrito ali é verdadeiro.
Nesse caso, Érica poderia legitimamente afirmar que o argumento é circular, porque Mateus pretendia mostrar que Deus existe, mas para isso teve que pressupor sua existência para mostrar que a Bíblia fala a verdade.
Érica não tem nenhuma razão para acreditar que a Bíblia fala a verdade, afinal duvida da existência de Deus. E se não tem razões para acreditar que a Bíblia fala a verdade, também não terá para acreditar na existência de Deus. Por esse motivo estamos diante de um argumento falacioso. Mateus não foi capaz de oferecer uma razão independente para justificar sua afirmação inicial.
Referências e leitura adicional
Para conhecer mais, veja nossa lista de falácias com dezenas de textos didáticos abordando esse tema. Para uma análise mais aprofunda, sugerimos a leitura de Lógica Informal, um livro de Douglas Walton. Esse é o livro mais abrangente em português sobre o assunto.
Douglas Walton. Lógica Informal: manual de argumentação crítica. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.