Aristóteles: vida, principais livros e conceitos

Filosofia na Escola
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Busto de Aristóteles.
Busto de Aristóteles.

Aristóteles nasceu em 384 a.C. na cidade de Estagira, uma colônia grega situada na região da Macedônia. Seu pai, Nicômaco, era médico do rei Amintas III da Macedônia. Desde jovem, Aristóteles teve contato com a cultura grega e a educação formal da época.

Aos 18 anos, em 366 a. C., mudou-se para Atenas para estudar na Academia de Platão, um dos centros intelectuais mais importantes da Grécia Antiga. Durante 20 anos, ele foi aluno e depois professor na escola, absorvendo e debatendo as ideias platônicas. No entanto, ele não concordava inteiramente com Platão, especialmente no que dizia respeito à teoria das ideias. Ele acreditava que o conhecimento não deveria se basear apenas em conceitos abstratos, mas também na observação do mundo real. Essa diferença marcaria sua filosofia posterior.

Detalhe do afresco A Escola de Atenas, de Rafael (1509–1511). Platão (à esquerda) aponta para o alto, representando sua ênfase no mundo das ideias. Aristóteles (à direita) gesticula com a palma voltada para baixo, indicando sua atenção ao mundo sensível e empírico. Cada um segura um livro com suas principais obras: Platão com o Timeu e Aristóteles com a Ética. A imagem simboliza a diferença fundamental entre suas filosofias.
Detalhe do afresco A Escola de Atenas, de Rafael (1509–1511). Platão (à esquerda) aponta para o alto, representando sua ênfase no mundo das ideias. Aristóteles (à direita) gesticula com a palma voltada para baixo, indicando sua atenção ao mundo sensível e empírico. Cada um segura um livro com suas principais obras: Platão com o Timeu e Aristóteles com a Ética. A imagem simboliza a diferença fundamental entre suas filosofias.

Após a morte de Platão, no ano de 347 a. C., Aristóteles deixou Atenas e foi convidado pelo rei Filipe II da Macedônia para ser tutor de seu filho, Alexandre. Durante alguns anos, educou Alexandre, ensinando-lhe filosofia, retórica e ciências. Embora não se saiba exatamente quanto da filosofia aristotélica influenciou Alexandre em suas conquistas, a relação entre os dois foi importante o suficiente para garantir apoio macedônio ao Liceu anos depois.

Gravura criada por Charles Laplante em 1866, representando Aristóteles (à direita) instruindo o jovem Alexandre em Mieza, na Macedônia.

Após a ascensão de Alexandre ao trono, Aristóteles retornou a Atenas e fundou sua própria escola, o Liceu. Diferente da Academia, o Liceu incentivava a observação e a pesquisa empírica. Ele e seus alunos caminhavam enquanto discutiam filosofia, o que levou à alcunha de peripatéticos (do grego peripatos, que significa "caminhar").

O Liceu tornou-se um importante centro de estudo, reunindo informações sobre biologia, política, lógica e ética. Muitos dos escritos de Aristóteles são, na verdade, anotações de suas aulas e investigações feitas por seus discípulos.

Após a morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C., o clima político em Atenas tornou-se hostil aos macedônios e seus aliados. Como o filósofo tinha ligações com a corte macedônica, acabou sendo acusado de impiedade, assim como Sócrates antes dele. Para evitar um destino semelhante, ele fugiu para a cidade de Cálcis, na ilha de Eubeia, onde morreu no ano seguinte, em 322 a.C., aos 62 anos.

Apesar das adversidades que enfrentou nos últimos anos de sua vida, o impacto de suas ideias na filosofia e nas ciências foi imenso. Seu pensamento dominou o conhecimento ocidental por mais de mil anos, sendo redescoberto na Idade Média pelos escolásticos, como Tomás de Aquino. Além disso, sua influência pode ser vista em diversas áreas, como lógica, política, biologia e ética, sendo um dos filósofos mais estudados até os dias de hoje.

Livros e conceitos de Aristóteles

Aristóteles escreveu sobre uma impressionante variedade de temas, que vão muito além do que hoje se considera filosofia. Apesar de vários percalços históricos — como a dispersão de seus manuscritos após sua morte e o longo período em que suas ideias ficaram esquecidas —, muitas de suas obras foram preservadas graças ao trabalho de seus discípulos e à posterior recuperação feita por filósofos árabes e medievais. Isso permitiu que seus textos chegassem até nós. Na lista abaixo, você encontra alguns de seus principais livros.

A física

Para o filósofo, a física era o estudo da natureza (physis), ou seja, de tudo aquilo que se move, muda e se transforma. Isso incluía não apenas o que hoje chamamos de física, mas também áreas como a biologia. Ele acreditava que entender o mundo natural exigia observar os fenômenos e buscar as causas por trás deles.

Mas o que Aristóteles queria dizer com "movimento"? Para ele, o movimento não era apenas deslocamento, mas qualquer tipo de mudança: uma semente que vira árvore, a madeira que se transforma em móvel, ou um aluno que aprende algo novo. Todo movimento, segundo ele, parte de um estado de potência (algo que pode ser) e vai em direção a um estado de ato (algo que é).

Um dos conceitos mais marcantes da sua física é o de que tudo na natureza tende a um fim, a um propósito. Por exemplo, a pedra tende a cair, o fogo tende a subir, a planta tende a crescer. Para explicar o porquê disso, ele desenvolveu a teoria das quatro causas: material (do que é feito), formal (a forma que assume), eficiente (quem ou o que faz) e final (para que serve ou a que tende).

Pode parecer estranho hoje pensar que as coisas têm uma "finalidade natural", mas essa ideia influenciou profundamente a ciência durante milênios. Foi apenas no século XVII, com Galileu e depois com Newton, que essa visão foi questionada. Galileu, por exemplo, propôs que o movimento podia ser descrito matematicamente sem recorrer a propósitos ou "fins naturais". Newton foi ainda mais longe, formulando leis do movimento baseadas em forças, e não em finalidades.

A metafísica

A metafísica ou "filosofia primeira" é o estudo do ser enquanto ser. Em outras palavras, Aristóteles queria entender o que é a realidade mais profunda das coisas. Há algo que permanece imutável nas coisas apesar de todas as mudanças? E qual é a causa da existência disso tudo?

Para responder a essas questões, ele desenvolve o conceito de substância. Substância é aquilo que existe por si, que serve de base para as mudanças sem deixar de ser o que é. Por exemplo, uma pessoa pode mudar de aparência, de ideias ou de sentimentos ao longo do tempo, mas ainda assim continuar sendo ela mesma. O que permanece ao longo dessas mudanças é a sua substância. Esse conceito é central na metafísica aristotélica porque permite explicar como algo pode mudar sem deixar de ser o que é.

Dando continuidade à reflexão sobre o movimento já tratada na física, Aristóteles se pergunta: se tudo o que existe está em constante mudança, qual é a origem de todo esse movimento? Ele argumenta que, se tudo que se move é movido por algo, então deve haver um primeiro princípio que dê início ao movimento sem ter sido movido. Assim, ele chega à ideia de um motor imóvel: um ser eterno e imutável, que causa o movimento do universo não por contato físico, mas por ser o fim último, o objeto de desejo e atração de todas as coisas. Essa concepção foi extremamente influente e dialoga com ideias posteriores de Deus como causa primeira do mundo.

A lógica

A lógica aristotélica é uma ferramenta para pensar com clareza. No conjunto de obras conhecido como Organon, Aristóteles ensina como organizar argumentos e evitar contradições. O centro de sua proposta é o silogismo, um tipo de raciocínio em que, a partir de duas premissas, chega a uma conclusão necessária. Por exemplo: "Todos os humanos são mortais. Sócrates é humano. Logo, Sócrates é mortal."

Com isso, ele buscava formas de garantir conclusões verdadeiras a partir de princípios racionais. Sua lógica foi por muito tempo o principal modelo de pensamento dedutivo.

A ética a Nicômaco

Como viver bem? Essa é a pergunta central da Ética a Nicômaco. Para Aristóteles, o bem maior da vida humana é a felicidade (eudaimonia), entendida não como prazer passageiro, mas como a realização plena das capacidades humanas. Essa felicidade é atingida por meio da virtude, que não é um dom, mas um hábito que se constrói com a prática.

Um conceito importante aqui é o da justa medida: a virtude está no meio-termo entre dois extremos. A coragem, por exemplo, é o meio-termo entre a covardia e a imprudência. A pessoa virtuosa é aquela que, com razão e equilíbrio, age de acordo com sua natureza racional.

A política

Em Política, ele dá continuidade às reflexões da Ética, examinando como a vida coletiva pode favorecer a realização humana. Ele parte da ideia de que o ser humano é um animal político, ou seja, só se desenvolve plenamente vivendo em comunidade. Para ele, a cidade (pólis) não existe apenas para garantir a sobrevivência, mas para promover a vida boa.

Além disso, analisa diferentes formas de governo, como a monarquia, a aristocracia e a democracia, identificando suas virtudes e riscos. Defende uma forma de governo mista, que combine elementos positivos das diferentes formas para garantir estabilidade, justiça e participação dos cidadãos.

A retórica

Em Retórica, Aristóteles investiga o que torna um discurso persuasivo. Em vez de ver a comunicação apenas como transmissão de ideias, ele mostra que convencer alguém envolve também quem fala e como o público se sente. Para isso, ele identifica três recursos principais:

  • Logos: o apelo à razão, ou seja, apresentar argumentos bem estruturados, exemplos e dados;
  • Ethos: a credibilidade do orador, que precisa parecer confiável, íntegro e competente;
  • Pathos: a capacidade de mobilizar as emoções do público, despertando empatia, indignação, esperança etc.

Esses elementos não funcionam isoladamente. Um bom discurso, segundo o filósofo, equilibra lógica, caráter e emoção.

A poética

Na Poética, Aristóteles analisa o funcionamento da tragédia, o gênero teatral mais valorizado de sua época. Ele argumenta que a tragédia desperta no público sentimentos de piedade e terror, levando à catarse, ou seja, a uma purificação emocional. A arte, para ele, imita a realidade (“mimesis”), mas faz isso de modo organizado, revelando aspectos profundos da condição humana.

A Poética é uma das primeiras tentativas de entender a arte como objeto de estudo racional. Seus conceitos ainda são usados na literatura, no teatro e no cinema.

Referências

HUMPHREYS, Justin. Aristotle | Internet Encyclopedia of Philosophy. [S. l.], 2023. Disponível em: https://iep.utm.edu/aristotle/. Acesso em: 27 mar. 2025.

PHILOSOPHERS: their lives and works. Nova York: DK Publishing, 2019.

REALE, Giovanni. Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2007.