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Felicidade e virtude segundo Aristóteles

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A felicidade é fim da vida humana

Aristóteles foi um filósofo grego, nascido em 384 a.c. em Estagira, que tinha várias ideias interessantes sobre o que é uma vida boa. Ele dizia algo que concordaríamos: queremos várias coisas boas na vida, desde uma cama confortável para dormir até uma viagem para a praia. Mas ao fim de tudo, o que realmente queremos, é a felicidade. A própria praia ou a cama confortável nós queremos porque nos deixa feliz. Sendo assim, o maior bem da vida humana é a felicidade ou o bem supremo. 

Ele escreveu

“Se há um fim das nossas ações que queremos por ele mesmo, quanto os outros os queremos só em vista daquele, e não desejamos nada em vista de outra coisa particular (assim, de fato, iríamos ao infinito, de modo que nossa tendência seria vazia e inútil), é claro que esse deve ser o bem e o bem supremo.”

Aristóteles era grego então ele não falava em felicidade, mas eudaimonia. E essa palavra pode ser traduzida de formas diferentes. Podemos chamar ela de felicidade, uma vida bem sucedida ou simplesmente de sucesso. 

Ele disse

“Quanto ao seu nome, a maioria está praticamente de acordo: felicidade o chama, tanto o vulgo como as pessoas cultas, supondo que ser feliz consiste em viver bem e em ter sucesso.”

Mas já adianto que vida de sucesso ou feliz para o Aristóteles não tem nada a ver com sucesso ou felicidade  no sentido atual.

Ele dizia que uma andorinha só não faz verão. Com isso, queria dizer que, para provar que o verão chegou é necessário mais do que uma andorinha ou um dia quente. Da mesma forma, para uma vida feliz não bastam alguns momentos prazerosos.

Surpreendentemente, ele acreditava que as crianças não podiam ser felizes, o que parece ser um absurdo. Se as crianças não podem ser felizes, quem pode? Isso revela o quanto sua concepção de felicidade era diferente da nossa. As crianças estão apenas começando a viver, por isso não tiveram uma vida plena, completa. A verdadeira felicidade, argumentava Aristóteles, exigia uma vida longa.

Então, se felicidade não é ir à festas ou à praia, ouvir música ou maratonar séries, ou seja, ter alguns momentos de prazer, o que pode ser?  

A virtude é o meio termo entre extremos

Para chegar ao final da vida e dizer que ela foi feliz, pensava Aristóteles, é necessário nos treinarmos ou habituarmos a praticar ações virtuosas. E isso significa algo bem específico para ele. Ele dizia que agir de forma virtuosa é, nas diferentes situações, adotar o meio termo entre extremos. 

Vamos pensar em alguns exemplos do que Aristóteles pensava ser a virtude. 

Quando o assunto é direção, temos diferentes tipos de motoristas. Tem aqueles que são extremamente medrosos e que sequer conseguem dirigir um veículo. Uma pessoa assim, diria Aristóteles, pode estar se privando de coisas importantes na vida por falta de coragem e poderia ter uma vida melhor se não fosse tão medrosa. 

No outro extremo, há pessoas que são imprudentes no trânsito. São motoristas que colocam em risco a própria vida, a vida da família e outros desnecessariamente. Talvez isso resulte em mortes ou pessoas feridas. Esse também é um caso extremo em que a pessoa não está agindo de maneira virtuosa no trânsito, talvez por excesso de coragem. 

Por fim, há aquela pessoa que tem a coragem necessária para dirigir em qualquer situação, mas conhece todos os riscos envolvidos e dirige de forma prudente. Essa pessoa, não erra por falta nem por excesso, é alguém que Aristóteles chamaria de virtuoso no trânsito.

Vamos considerar mais um exemplo. Imagine, em um extremo, uma pessoa que em um relacionamento amoroso é incapaz de dizer não. Tudo o que o parceiro pede ou propõe a pessoa aceita, mesmo que nem sempre seja esse seu desejo. 

No outro extremo, podemos pensar em uma pessoa que quase sempre diz não. Se trata de uma pessoa que não presta atenção nos desejos alheios e é incapaz de dizer sim para o outro. Apenas seus desejos importam. 

Esses dois casos são extremos de comportamentos não virtuosos pensava Aristóteles. A virtude nos relacionamentos está no meio termo entre esses dois extremos. Na capacidade de perceber os desejos da outra pessoa e dizer sim algumas vezes, mas também na capacidade fazer os próprios desejos valerem ao dizer para aquilo que não se quer.

Enfim, para Aristóteles, uma vida boa deve ser longa, deve ter sido vivida com virtude, ou seja, a pessoa deve ter sido capaz de encontrar o equilíbrio entre os extremos nas mais diferentes situações. Apenas ao conseguir isso uma pessoa poderá dizer que foi bem sucedida e conquistou a chamada eudaimonia. 

Referência

Reale, Giovanni. Aristóteles. São Paulo: Edições Loyola, 1994.