Apelo ao ridículo
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O apelo ao ridículo é uma falácia de relevância que ocorre quando uma ideia é considerada falsa porque soa ridícula.
Um argumento é falacioso quando viola alguma das regras de um bom argumento. O apelo ao ridículo viola a exigência de que argumentos bons devem ter premissas que sejam relevantes para mostrar que a conclusão é verdadeira. Ou seja, a premissa do argumento deve contribuir, o mínimo que seja, para mostrar que a conclusão é aceitável. Dizer que uma ideia é ridícula não contribui para isso.
Que o apelo ao ridículo é irrelevante fica claro se considerarmos um exemplo. Imagine qual foi a reação das pessoas no século XIX ao ouvirem pela primeira vez a teoria da evolução de Darwin, em particular a consequência de que os homens evoluíram do macaco.
A julgar pelas caricaturas da época, muitas pessoas pensaram que isso não passava de um disparate.
Se o critério para avaliar se uma ideia é verdadeira ou não fosse não ser ridícula, teorias inovadoras jamais seriam aceitas, pois em geral o que não é familiar provoca risos ou outras reações emocionais.
Uma falácia de apelo ao ridículo tem a seguinte forma:
Todo ponto de vista que parece ridículo é falso.
Esse ponto de vista é ridículo.
Portanto, é falso.
Observando assim, fica claro que não é um argumento válido.
Humor e argumentação
No entanto, há situações nas quais humor e argumentação aparecem ligados de várias formas, e nem sempre são falaciosas.
Uma possibilidade é que o ridículo seja o efeito de um argumento não falacioso chamado de reductio ad absurdum ou redução ao absurdo.
Para usar esse argumento você deve assumir que a teoria que está tentando criticar é verdadeira e retirar dela consequências contraditórias ou inaceitáveis por alguma outra razão. O efeito desse tipo de argumento pode ser revelar que a teoria original é ridícula.
Um exemplo desse tipo de argumento é o seguinte:
Se Deus fosse onipotente, ele poderia fazer qualquer coisa, inclusive uma pedra tão pesada que ele mesmo não poderia levantar. No entanto, se ele é incapaz de levantar a pedra, então ele não é onipotente. A ideia de um ser onipotente, portanto, parece ser uma contradição lógica.
Para algumas pessoas, a reação ao argumento pode ser “mas que ridícula a ideia de um ser onipotente”. No entanto, não há nenhuma falácia nesse caso, pois a conclusão está sendo defendida através de um re reductio ad absurdum e não de um apelo ao ridículo. A diferença é que ideia é ridícula porque falsa, e não falsa porque ridícula.
Referências e leitura adicional
Para conhecer mais, veja nossa lista de falácias com dezenas de textos didáticos abordando esse tema. Para uma análise mais aprofundada, sugerimos a leitura de Lógica Informal, um livro de Douglas Walton. Esse é o material mais abrangente em português sobre o assunto. Para mais referências, veja o artigo 7 Livros sobre Falácias.