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Áreas da filosofia

- 9 min leitura

O que é filosofia? Uma forma de responder essa questão é através de uma visão geral das suas principais áreas de estudo – metafísica, epistemologia, ética, estética, filosofia política, lógica – e dos vários problemas abordados em cada uma delas.

Conhecer isso permite ter uma noção global do que essa disciplina trabalha. Para usar uma analogia, imagine que é um turista explorando uma nova cidade. Você olha o mapa para ter uma visão geral, conhecer algumas avenidas principais e onde estão os pontos de seu interesse, os lugares que deseja visitar.

Conhecer as áreas de estudo e problemas da filosofia é como olhar um mapa: você terá uma visão geral da disciplina e, assim, saberá, em certo sentido, o que ela é e poderá identificar os temas e problemas que deseja conhecer.

Metafísica

A palavra “metafísica” é a junção das palavras gregas “meta”, que significa “depois de” ou “além de” e “physis”, que significa “natureza” ou “física”. Ou seja, “metafísica” seria aquilo que está “além da natureza” ou “além da física”. Para entender de fato essa expressão, precisamos parar para examinar o que é essa “natureza” ou “física” e o que seria algo que está além dela.

A natureza ou física nesse caso é entendida como tudo aquilo que está à nossa volta, os fenômenos e objetos naturais. Isso inclui desde as partículas subatômicas e as ondas eletromagnéticas até os planetas, estrelas e galáxias que compõem o universo. Inclui fenômenos como o movimento dos corpos celestes no espaço, a formação de nuvens e ocorrência de fenômenos climáticos, como tempestades e tornados. Mas também inclui coisas produzidas pelos seres humanos: desde um foguete que vai para a lua até um prédio ou livro. Todas essas são coisas ou fenômenos “físicos” ou “naturais”.

Mas se a física é tudo isso, o que poderia estar “além” da física? Muitos filósofos acreditam que existe uma realidade que está “além da física”. Um deles foi o grego Aristóteles (384 a.C – 322 a.C). Ele pensava que para entender a realidade, entender porque existe alguma coisa em vez de nada, era necessário ir além da física e perguntar o que deu origem a tudo e faz com que as coisas permaneçam em movimento. Esse ser, pensava o filósofo, não é algo material e que com o tempo deixa de existir, como todas as coisas físicas. Ao contrário, ele é imaterial e eterno. 

Assim, chegamos ao seguinte quadro: 

  • coisas físicas ou naturais: feitas de matéria e que se transformam constantemente no tempo.
  • coisas não físicas: não são feitas de matéria e não mudam.

Portanto, a metafísica, discute sobre isso que não é físico. E sua primeira questão, não poderia deixar de ser, é se existe algo que não é físico. Por exemplo, será que existe mesmo um deus, eterno e imaterial, que criou o universo e tudo isso que chamamos de natureza? 

Entre as várias perguntas metafísicas estão:

Considerando essas questões, podemos ver que a metafísica coloca perguntas fundamentais sobre a realidade que de uma forma ou de outra já paramos para pensar sobre.

Epistemologia

Uma segunda área de estudo da filosofia é a epistemologia.

A palavra “epistemologia” é a junção de duas palavras gregas: “episteme” que significa “conhecimento” e “logos” que significa “teoria” ou “estudo”. Literalmente, então, “epistemologia” significa “estudo do conhecimento” ou “teoria do conhecimento”. De maneira geral, essa área da filosofia discute sobre conhecimento humano, procura definir o que ele é, se é possível conhecermos alguma coisa, além de abordar tipos específicos de conhecimento, como a ciência.

Essas são algumas das questões abordadas pela epistemologia:

Note a diferença entre esses dois tipos de questões: 

  • Deus existe?
  • É possível saber se Deus existe?

A primeira é uma questão metafísica, pergunta pela existência ou não de determinado ser. A segunda, uma questão epistemológica, pergunta pelo conhecimento e suas possibilidades.

Ética ou filosofia moral

A palavra “ética” vem do grego “ethos”, que significa “modo de ser”, “caráter” de uma pessoa. Pense em alguns exemplos como ser bondoso, persistente, corajoso etc. Já a palavra “moral” vem do latim “morus” e significa os usos e costumes de uma sociedade. Por exemplo, o que a sociedade entende por respeito aos idosos e como pratica isso, ou o que considera honestidade, justiça, igualdade, respeito pela vida etc.

A ética ou filosofia moral, portanto, discute sobre caráter e costumes com o objetivo central de entender o que é bom e o que é mau ou o que é certo e o que é errado. Por exemplo, é certo que algumas pessoas sejam discriminadas por causa de seu gênero ou cor de pele?

A ética trata tanto de questões que dizem respeito ao indivíduo e sua vida pessoal, quanto de questões sobre ações que envolvem nosso comportamento em sociedade. Entre essas questões, podemos considerar:

Além disso, dentro da ética há a chamada ética prática. Como o nome sugere, se trata de discussões filosóficas sobre problemas práticos presentes nas sociedades contemporâneas. Algumas dessas questões são:

  • Temos o dever moral de fazer caridade?
  • Praticar um aborto é errado?
  • É certo usar animais para alimentação ou pesquisa?
  • É correto praticar a eutanásia?

A ética é sem dúvida a área mais “prática” da filosofia. Dada a presença dessas questões em uma série de circunstâncias em nossa sociedade, a ética filosófica está presente em espaços profissionais como conselho de bioética de instituições relacionadas à saúde ou até mesmo em empresas de tecnologia que trabalham na criação de carros autônomos, por exemplo.

Estética ou filosofia da arte

A palavra “estética” tem sua origem no termo grego “aisthēsis”, que significa “sensação” ou “percepção sensorial”. O filósofo alemão Alexander Baumgarten usou o termo “estética” no século XVIII para se referir à teoria da sensibilidade e do gosto, buscando compreender como os seres humanos criam, apreciam e julgam as obras de arte e os objetos estéticos em geral. 

Embora a palavra “estética” tenha entrado no vocabulário da filosofia no século XVIII, a arte como objeto de reflexão filosófica, seu valor, a natureza do belo, são temas que estiveram presentes desde o início da filosofia. Entre as questões que fazem parte dessa área estão:

  • O que é arte? Será que qualquer coisa é uma obra de arte?
  • O que é a beleza? O que faz com que algo seja belo ou feio?
  • Qual o valor da arte? Para que ela serve? Ela é útil ou inútil, prejudicial ou benéfica?

Filosofia Política

A palavra “política” tem sua origem no termo grego “polis”, que significa “cidade”. Na Grécia antiga, a pólis era a unidade política básica, formada por uma comunidade de cidadãos que compartilhavam uma língua, uma cultura e um território comuns. A “política”, por sua vez, se referia à arte de governar a polis, ou seja, de administrar os assuntos públicos e garantir o bem-estar da comunidade. A partir dessa origem, o termo “política” passou a se referir a todas as atividades relacionadas ao poder e à governança, incluindo a elaboração de leis, a administração pública, a diplomacia, entre outras.

A filosofia política, portanto, pensa sobre questões que surgem quando os seres humanos precisam conviver em sociedades com outras pessoas. Entre essas questões, estão:

Filosofia política e ética se sobrepõem em alguma medida. A penúltima questão dessa lista, por exemplo, sobre justiça, é tanto uma questão moral quanto política. Aliás, como veremos melhor no próximo tópico, as diferentes áreas da filosofia não são isoladas, como territórios de mundos diferentes sem relação entre si. Ao contrário, o que pensamos sobre epistemologia afeta o que pensaremos sobre política e vice-versa. E o mesmo ocorre com as demais áreas da filosofia.

Lógica

Ao longo dessa leitura, você deve ter se dado conta de que muitas questões filosóficas são abordadas em diferentes espaços: desde a conversa de bar, passando pelas religiões, no direito e nos hospitais. 

É justo perguntar, então, o que a filosofia faz de diferente ao abordar essas questões? Como discutir de forma filosófica esses problemas?

Não é nossa intenção dar uma resposta completa aqui, já é bom adiantar. Mas uma pequena parte dessa resposta é a seguinte. 

Uma das características centrais da filosofia é seu caráter argumentativo. Um filósofo deve saber argumentar para justificar o que diz. É por isso que a lógica é tão importante na filosofia. Ela estuda as formas corretas e incorretas de argumentação, permite diferenciar entre bons argumentos e falácias. 

Há ainda uma segunda característica fundamental do pensamento filosófico: seu caráter sistemático. Isso quer dizer que um filósofo, quando pensa, o faz de maneira que seu pensamento forma um todo integrado. Assim, se ele pensar sobre metafísica, política e moral, suas concepções sobre cada um desses temas estarão relacionados. Ao iniciar o estudo da filosofia é importante levar isso em consideração.

Para onde ir agora?

Esse foi um rápido panorama das principais áreas e algumas questões fundamentais da filosofia. Se essas questões convidam você a pensar de alguma forma, irá encontrar companhia na filosofia. Muito foi pensado sobre tudo isso e ainda há muito o que se pensar. Se desejar ir mais a fundo nessa viagem, pode continuar aqui pelo Filosofia na Escola mesmo. Se voltar para a página inicial do site, irá encontrar centenas de artigos organizados por temas e problemas filosóficos.

Ou talvez você queira a companhia de um bom livro. Há vários livros introdutórios sobre filosofia que são fascinantes e acessíveis mesmo para quem ainda está começando. Deixamos aqui algumas sugestões. Se conhece outros, fique à vontade para escrever nos comentários, vou gostar de conhecer novos livros e os leitores também.

Boa leitura! 👇

O Mundo de Sofia

O mundo de Sofia é um romance escrito por Jostein Gaarder. O livro é um sucesso de vendas – um milhão de exemplares só no Brasil, o que pode ser considerado um grande feito se tratando de um livro sobre filosofia. O livro narra a história de Sofia, uma adolescente de que está prestes a completar quinze anos. Na véspera de seu aniversário ele começa a receber algumas cartas bastante misteriosas. As cartas lhe fazem perguntas sobre assuntos que em momento algum havia parado para pensar: de onde veio, para onde vai.

O romance  alia uma história de mistério que prende o leitor, ao mesmo tempo que conhecemos um pouco dos principais filósofos: Tales, Demócrito, Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes, Hume, Kant e muitos outros. O sucesso do livro não é sem motivo. Poucos livros são capazes de transmitir tamanho encanto pelo questionamento, pela reflexão, pelas ideias, pela filosofia.

Uma Breve História da Filosofia

O livro Uma breve história da filosofia, de Nigel Warburton, tem quarenta capítulos, cada um dedicado a um filósofo do pensamento ocidental. A jornada começa com Sócrates e termina com Peter Singer. Cada capítulo explora ideias importantes dos filósofos: a felicidade em Aristóteles, o jardim de Epicuro, a aposta de Pascal, o véu de ignorância de Rawls. O livro é de fácil leitura e Warburton alia uma exposição sobre as ideias e detalhes sobre a vida de seus autores. Lendo o livro você vai conhecer um repertório bastante vasto de ideias filosóficas.

O Pensamento Voa 

O pensamento voa, redescobrindo o prazer da filosofia é um romance de Lucy Eyre. A história é bastante imaginativa. Quando os filósofos morrem, não vão nem para o paraíso, nem para o inferno – vão para o mundo das ideias. E lá quem governa desde sempre é Sócrates, um dos filósofos mais conhecidos da história. Porém, seu reinado é desafiado por um novato, Wittgenstein, um filósofo que viveu no século XX.

Para decidir quem vai continuar no comando do mundo das ideias, fazem uma aposta. Se Sócrates conseguir fazer com que um adolescente da terra seja levado a ver sentido na filosofia, continua no comando. Do contrário, terá que sair do seu cargo. Esse é o ponto de partida da história contada por Lucy Eyre. Junto com sua assistente, Sócrates escolhe Ben para conhecer um pouco da filosofia. E é a partir daí que vamos conhecer uma série de discussões e ideias presentes na filosofia.

Uma Breve Introdução à Filosofia

Thomas Nagel, o autor do livro, é um filósofo contemporâneo ainda vivo. Ele escreveu vários livros técnicos sobre temas filosóficos, mas esse é acessível para qualquer pessoa. Nele você vai encontrar uma introdução à filosofia que vai direto ao ponto: a discussão filosófica. No livro, Nagel discute filosoficamente questões como: possuímos livre-arbítrio? Por que deveríamos agir corretamente? Qual a relação entre nossas mentes e nossos cérebros? Existe vida após a morte? Nossas vidas realmente têm sentido ou tudo não passa de um absurdo? Esse livro é um convite a participar das grandes discussões filosóficas.

Referências

Eyre, Lucy. O Pensamento Voa: Descobrindo o Prazer da Filosofia. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

Gaarder, Jostein.O Mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras: 2012.

Nagel, Thomas. Uma Breve Introdução à Filosofia. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

Warburton, Nigel. Uma Breve História da Filosofia. Porto Alegre: L&PM, 2012