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Os 3 tipos de amizade segundo Aristóteles

- 4 min leitura

Você já parou para pensar sobre o que realmente significa ser amigo de alguém? Por que algumas amizades duram uma vida inteira, enquanto outras desaparecem assim que as circunstâncias mudam? Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., dedicou-se a explorar a natureza da amizade e identificou três tipos distintos de relações amigáveis que ainda hoje nos ajudam a entender essas questões.

3 tipos de amizade

Em seu livro Ética a Nicômaco, Aristóteles diferencia três tipos de amizade. O critério que ele usa para estabelecer essa distinção é a motivação que está por trás da relação.

Imagine que você tem um colega de classe com quem estuda para as provas. Vocês se ajudam mutuamente, trocam anotações e se encontram apenas para estudar. A relação não vai muito além disso, embora vocês tenham consideração e um certo afeto um pelo outro. No entanto, assim que o ano letivo termina, vocês raramente se falam. Esta é uma amizade baseada na utilidade. Ambas as partes se beneficiam de alguma maneira, mas a relação não é profunda.

Agora considere uma segunda situação. Pense em um grupo de amigos que se reúne apenas para jogar futebol nos finais de semana. Eles se divertem juntos, compartilham risadas e bons momentos, mas fora do campo, eles não têm muita conexão. Esta é uma amizade baseada no prazer.

Aristóteles observou que esse esse tipo de amizade está especialmente presente na vida dos jovens:

a amizade dos jovens, parece visar ao prazer, pois eles são guiados pela emoção e buscam acima de tudo o que lhes é agradável e o que têm imediatamente diante dos olhos; mas com o correr dos anos os seus prazeres tornam-se diferentes. E por isso que fazem e desfazem amizades rapidamente: sua amizade muda com o objeto que lhes parece agradável, e tal prazer se altera bem depressa.

O filósofo acreditava que esses dois tipos de amizade estão vinculadas à circunstâncias passageiras e são pouco duradouras. No caso da utilidade, na medida em que as provas acabam, a amizade se desfaz. No caso do prazer, mudanças nos gostos pessoais ou até mesmo encontrar outro grupo com quem jogar faz com a amizade tenha fim. Nos dois casos, a amizade não está baseada nas características ou caráter das pessoas de quem se é amigo.

Afirma o filósofo:

Essas amizades são circunstanciais, pois que o amigo não é amado por ser a pessoa que é, mas pelo que fornece de vantagem ou prazer, conforme o caso. Tais amizades são de fato muito passíveis de dissolução se as partes não permanecem iguais, isto é, os outros cessam de ter amizade por eles quando deixam de ser agradáveis ou úteis. Ora, a natureza da utilidade não é de permanência, mas de constante variação. Assim, quando o motivo que os tornou amigos desaparece, a amizade também se dissolve; pois que existia apenas em relação àquelas circunstâncias.

Por fim, imagine um amigo que está com você em altos e baixos, que conhece seus defeitos e virtudes e o ama pelo que você é. Vocês compartilham valores, apoiam-se mutuamente e desejam o bem um do outro sem necessariamente quererem algo em troca. Esta é a amizade baseada no caráter. Você é amigo da pessoa pelo que ela é, e não pelo que tem a oferecer de momentos prazerosos ou alguma utilidade. Nesse caso, mesmo em maus momentos, em que a relação pode não ser prazerosa ou útil, mantemos a amizade porque queremos o bem da pessoa incondicionalmente. Esse tipo de amizade é mais duradoura, segundo o nosso filósofo.

E como fazer para cultivar amizades baseadas no caráter? Aristóteles dizia que esse tipo de amizade é um tanto rara. De acordo com ele, amizades verdadeiras, aquelas baseadas no caráter e na virtude, são infrequentes porque pessoas de caráter íntegro e virtuoso são raras. Além disso, ele enfatiza que tais amizades não se formam rapidamente. Requerem tempo e familiaridade. Como ilustrado pelo provérbio grego que ele cita, as pessoas não podem realmente se conhecer até que tenham “provado sal juntos”, uma metáfora que destaca a necessidade de experiências compartilhadas e tempo para construir uma relação genuína.

Aristóteles também nos adverte sobre a diferença entre o desejo de amizade e a amizade verdadeira. Pode ser fácil e rápido desejar ser amigo de alguém, mas a verdadeira amizade só se forma quando ambas as partes se vêem como estimáveis e confiáveis. Em outras palavras, a amizade genuína não é apenas sobre querer ser amigo; é sobre conhecer e valorizar o caráter do outro, e isso só pode ser alcançado através do tempo e da experiência compartilhada.

Conclusão

Agora podemos voltar às questões iniciais: o que significa ser amigo? Por que algumas amizades duram tempo e outras são passageiras?

Ao olhar para o que Aristóteles disse, fica fácil entender que amizade pode ser de diferentes tipos. Ela pode começar por várias razões e cada uma tem um jeito e uma duração.

As amizades baseadas no que se ganha ou no divertimento são boas, mas geralmente não duram muito. Acontecem porque há algo sendo ganho, mas quando isso acaba, a amizade também termina. É como um colega de classe com quem se estuda junto. Quando o ano letivo acaba, quase não se fala mais.

Agora, a amizade baseada no caráter é diferente. Não depende do que se ganha ou do divertimento. Existe porque se gosta da pessoa como ela é, e isso não muda fácil. Esse tipo de amizade demora mais para ser construída, mas também dura muito mais. É o amigo que está presente para qualquer coisa, que conhece os defeitos e qualidades e gosta da pessoa assim mesmo.

Assim, Aristóteles nos mostra que a verdadeira amizade é aquela baseada no que a pessoa é, e não no que ela oferece. Isso nos faz refletir sobre nossas próprias amizades e entender melhor os motivos de suas durações e intensidades variadas.

Referência

Aristóteles. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1991.