Plano de aula sobre universalismo e relativismo moral
Informações
- Palavras-chave: universalismo moral, relativismo moral, relativismo descritivo, sofistas.
- Ano: Ensino Médio.
- Duração: 6 aulas de 50 minutos.
Breve resumo da unidade
Nessa unidade, os estudantes simularão uma reunião no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas para discutir sobre a abrangência dos Direitos Humanos, como encarar justificativas baseadas em argumentos relativistas para justificar a violação desses direitos e que medidas adotar em relação às sociedades que fazem isso. O produto final desse projeto é a criação de um discurso que será lido e discutido durante a reunião do conselho. Ao longo do processo, os estudantes irão pesquisar e discutir sobre relativismo e universalismo moral e conhecer problemas reais contemporâneos relacionados a esses conceitos.
Possíveis ações interdisciplinares
As competências e habilidades da BNCC usadas como referência para construir essa unidade também podem ser exploradas por outras disciplinas das ciências humanas. Esse planejamento em particular teria muito a ganhar com um trabalho conjunto com a sociologia no qual conceitos como etnocentrismo e relativismo cultural sejam abordados. Além disso, outro conhecimento pressuposto na elaboração do discurso é sobre o funcionamento da ONU, de modo que algumas aulas de geografia sobre o tema irão contribuir para o resultado mais qualificado.
Observações
Esse plano de aula segue uma metodologia de planejamento bem específica, desenvolvida por Grant Wiggins e Jay Mctigue, em um livro chamado Planejamento para a compreensão: alinhando currículo, avaliação e ensino por meio do planejamento reverso. Caso a organização inicial do planejamento seja um pouco difícil de compreender, vá até o estágio 3, aí irá encontrar um passo a passo mais comum e acessível.
Todos os recursos usados no planejamento estão disponíveis ao final do plano, em Materiais, recursos e referências e como links ao longo do texto.
🎯 Estágio 1: identificar os resultados desejados
Competências e habilidades BNCC:
- (EM13CHS101) Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos e culturais.
- (EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, sociais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de diversas naturezas (textos filosóficos e sociológicos, entre outros).
- (EM13CHS104) Analisar objetos e vestígios da cultura material e imaterial de modo a identificar conhecimentos, valores, crenças e práticas que caracterizam a identidade e a diversidade cultural de diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço.
Que perguntas essenciais serão consideradas?
- Existe um certo e errado universais ou isso sempre depende da cultura?
- A Declaração Universal dos Direitos Humanos e as normas morais em geral são universais ou particulares de uma sociedade?
- O que devemos pensar e como agir em relação às nações que desrespeitam os direitos humanos?
Que compreensões são desejadas?
- Compreender que o relativismo e o universalismo são teorias opostas, com respostas incompatíveis para questões filosóficas, mas não necessariamente contrárias na prática.
- Compreender que julgar práticas culturais diferentes das nossas é um processo complexo, que envolve não apenas se posicionar no debate relativismo x universalismo, mas um conhecimento profundo da cultura e dos significados daquilo que se está criticando.
Que conhecimentos-chave e habilidade os alunos irão adquirir como resultado desta unidade?
Os alunos saberão…
- Conceitos-chave: relativismo moral, universalismo, o homem é a medida de todas as coisas, sofistas.
- Fatos centrais sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
- Argumentos a favor e contra o relativismo moral.
- Fatos e interpretações sobre a diversidade cultural no mundo contemporâneo.
Os alunos serão capazes de…
- Identificar as implicações teóricas e práticas de uma concepção moral relativista e universalista.
- Articular fatos, conceitos, argumentos para justificar um posicionamento para participar de debates contemporâneos sobre o tema de maneira informada, ponderada, refletida.
- Reconhecer o quanto suas crenças, sentimentos, intuições morais ou convicções religiosas o inclinam para uma ou outra posição.
🔬 Estágio 2: Determinar evidências aceitáveis
Que compreensões ou objetivos serão avaliados por meio desta tarefa?
Tarefa
- Pesquisa orientada com questões objetivas.
- Diagrama explorando as relações de oposição ou concordância entre relativismo e universalismo e ações, sejam individuais sejam políticas, como tolerar, criticar, usar influência econômica, criar leis para proibir etc. Caso esse plano esteja sendo desenvolvido junto com a sociologia, também pode entrar nesse diagrama comparações entre relativismo moral, relativismo cultural, etnocentrismo e universalismo.
- Discurso para o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
- Meu diário filosófico. Escrever uma entrada no diário analisando qual sua crença sobre o tema, de que forma ela está atrelada a concepções religiosas, morais que você já tem, além de uma avaliação sobre como se modificou ou não suas ideias sobre o tema ao longo das aulas.
Intencionalidade
- Checar incompreensões e familiaridade com os conceitos, detectar algumas incompreensões e oferecer feedback para que sejam superadas.
- O resultado desse diagrama é um bom indício das relações que os estudantes estão fazendo entre os conceitos e, portanto, de sua compreensão. A partir dessas informações, o professor tem uma nova oportunidade de intervir para auxiliar no que não foi compreendido.
- Observando o discurso será possível identificar se os estudantes atingiram as habilidades 1 e 2, objetivos centrais desse planejamento.
- Através desse exercício de autoconhecimento será possível observar a habilidade 3.
Por meio de que tarefa de desempenho autêntica os alunos demonstrarão compreensão?
Em 1945, logo depois do fim da Segunda Guerra Mundial, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de estabelecer a cooperação entre os países e evitar conflitos como o que acabava de acontecer. Poucos anos depois, em 1948, foi feita pela ONU a Declaração Universal dos Direitos Humanos com o objetivo oferecer um norte para o respeito aos seres humanos em qualquer país do planeta e evitar que eventos como o Holocausto e outras violações de direitos humanos acontecessem.
Dentro da ONU há o Conselho de Direitos Humanos, formado por 48 países e responsável por discutir a situação dos direitos humanos no mundo e encaminhar ações.
Imagine que no próximo encontro do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, um dos temas debatidos será a abrangência dos direitos humanos. Existem alguns países que se apoiam no relativismo moral para defender práticas que violam direitos humanos. Seguindo esse raciocínio, alegam que impor a compreensão ocidental de direitos humanos ao mundo todo é uma prática imperialista, semelhante ao que a Europa fez no passado com a cultura dos povos indígenas que viviam na América no século XV. O debate, portanto, é se os direitos humanos são universais, deveriam prevalecer em todos os lugares, ou se são particulares, válidos apenas para nações ocidentais nas quais fazem parte da cultura e valores morais dessas sociedades.
Afinal, há valores e normas morais, como os direitos humanos, que podem razoavelmente ser considerados universais?
Durante a próxima reunião do Conselho você terá oportunidade de falar. Por isso, escreva um discurso adotando a posição que julgar mais razoável nesse debate. É fundamental que esteja atento à complexidade do debate e não caia em posições ingênuas e simplistas, afinal você zela pela imagem do seu país.
Que qualidades o aluno deve demonstrar para significar que as expectativas de aprendizagem foram atingidas?
- Compreensão profunda dos conceitos de relativismo e universalismo, sem associações simplistas e automáticas como universalismo = obrigar os outros a ser como a gente, relativismo = ser tolerante e respeitoso.
- Posicionamento ponderado, com nuances, e discurso com argumentos, referências à conceitos filosóficos mas também conhecimentos sobre práticas de outras culturas e seus significados.
Meu diário filosófico
Algumas questões que você pode considerar ao refletir sobre o que aprendemos:
- O que eu senti ao conhecer práticas, formas de vida tão diferentes das nossas? Eu realmente compreendi por que as pessoas fazem aquilo ou só julguei?
- O que influenciou minhas opiniões?
- Que opiniões eu tinha antes de participar desse projeto? Alguma coisa mudou?
- O conhecimento que adquiri foi suficiente para fazer um julgamento? Sinto que precisaria saber mais coisas sobre a outra cultura?
🗺️ Estágio 3: Planejar experiências de aprendizagem
Atividades de aprendizagem
Que experiências de aprendizagem e ensino possibilitarão que os alunos alcancem os alunos alcancem os resultados desejados? Como o planejamento irá
- O= Ajudar os alunos a saber para onde a unidade está indo ou O que se espera? Ajudar o professor a saber de Onde os estudantes estão vindo (conhecimento prévio, interesses)?
- P = Prender a atenção dos alunos e mantê-los interessados?
- E = Equipar os estudantes, ajudá-los a Experimentar as ideias-chave e Explorar questões?
- R = Oferecer oportunidades de Repensar e Rever suas compreensões e trabalho?
- A = Permitir que os alunos Avaliem o próprio trabalho e suas implicações.
- A = Adaptar-se às diferentes necessidades, interesses e capacidades dos alunos?
- O = Organizar-se para maximizar o envolvimento inicial, bem como a aprendizagem efetiva?
Primeira aula (50 min) |
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1 – A unidade pode começar com a apresentação desse pequeno vídeo com um relato da Glória Maria sobre algo que lhe ocorreu na Índia e em seguida o professor pode introduzir as questões centrais da unidade. [O, P] |
2 – Em seguida, apresente a âncora e questão motriz do projeto. Sempre faço isso a partir de uma página como essa, que será usada como referência para os estudantes ao longo de todo o projeto. Discuta com a turma o que eles já sabem ou ainda precisam aprender para concluir o projeto com êxito. Você pode fazer duas colunas no quadro e convidar os alunos a pensarem no que o projeto exige deles em termos de habilidades e conhecimento são necessários e o que precisam ou já possuem. Registre essas informações com uma foto ao final da aula, pois serão úteis para ajustar o planejamento para a turma. [O, A] |
3 – Divida a turma em grupos. Esse não é um projeto com um produto final que exija a colaboração de muitas pessoas, então o indicado é usar grupos pequenos, com 3 ou 4 integrantes. Além disso, essa é uma boa oportunidade para organizar equipes de trabalho a partir de critérios que vão possibilitar uma maior aprendizagem de todos os integrantes. [O] |
Segunda aula (50 min) |
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4 – A ideia inicial é apresentar os conceitos de relativismo e universalismo através de uma pesquisa orientada como essa. Disponibilize cerca de 30 minutos para os estudantes fazerem a atividade. A pesquisa possui vídeos, textos e questões objetivas e dissertativas. O grupo pode discutir certas questões ou discutir com o professor. É natural que várias dúvidas surjam nesse estágio e é o espaço para que elas sejam analisadas com um apoio mais individualizado do professor. O formulário também possui espaço para registro de dúvidas, então mesmo os mais tímidos poderão fazer isso. Essas questões podem ser discutidas depois que a turma concluir a pesquisa inicial. Os estudantes que concluírem em menos tempo podem ser orientados a pesquisar outras informações que são necessárias no projeto. [E, R] |
Terceira aula (50 min) |
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5 – Nessa aula, os estudantes, nos grupos, irão elaborar um diagrama explorando as relações entre os conceitos de relativismo e universalismo (se esse projeto for realizado com a sociologia esse diagrama pode incluir conceitos como etnocentrismo e relativismo cultura) e as relações entre eles e diferentes práticas. Depois que os grupos concluírem, um representante vai na frente da turma, mostra as relações que estabeleceu e explica porque o grupo pensou dessa forma. Caso os diagramas dos grupos tenham várias semelhanças, dois grupos parecidos podem socializar o diagrama ao mesmo tempo. Essa é uma boa oportunidade para a turma discutir e revisar a compreensão dos conceitos, suas relações e implicações. [R, A] |
Quarta aula (50 min) |
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6 – Apresente mais orientações sobre as características do discurso que os grupos devem elaborar. Uma boa forma de fazer isso é disponibilizando para cada grupo a rubrica de avaliação da atividade. Discuta cada um dos descritores de desempenho. Estabeleça um prazo para a conclusão do projeto. |
7 – Oriente os grupos a avaliarem o que ainda precisam saber para concluir o projeto e em seguida disponibilize tempo para pesquisas adicionais. Nesse momento é importante que o grupo divida tarefas para que o trabalho seja concluído a tempo. Ao professor cabe orientar, auxiliar, esclarecer dúvidas. [E, A] |
Quinta aula (50 min) |
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8 – Nessa aula, os estudantes terão tempo para criar e se prepararem para o discurso. Depois de definir o posicionamento do grupo, alguns integrantes podem começar a redigir, outros buscarem ou verificarem informações, inserir referências e o representante do grupo pode ver vídeos com exemplos de discursos de autoridades em reuniões da ONU. Ao professor cabe orientar, auxiliar, esclarecer dúvidas. Oriente os grupos a usarem a rubrica de avaliação para checar a qualidade do texto produzido. [E, A] |
Sexta aula (50 min) |
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9 – Nessa aula ocorrerá a leitura dos discursos. Depois da leitura de cada grupo, abra espaço para discussões, questionamentos e também é o momento para dar um feedback sobre o trabalho produzido pelo grupo. Uma das questões que podem ser consideradas é se o grupo sentiu que o conhecimento que adquiriu foi suficiente para fazer um julgamento informado ou se sente a necessidade de mais conhecimentos. Talvez em alguns casos seja necessário fazer ajustes no trabalho, oriente o grupo nesse sentido. [R, A] |
Sétima aula (50 min) |
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10 – Essa é a aula final do projeto. Proponha aos alunos uma atividade de reflexão individual. A proposta é essa: Escreva uma entrada em um diário analisando qual sua crença sobre o tema, de que forma ela está atrelada a concepções religiosas, morais que você já tem, além de uma avaliação sobre como suas ideias sobre o tema se modificaram ou não ao longo das aulas, fazendo um antes e depois: o que eu pensava e conhecia antes, o que penso e conheço agora. Para encerrar, também pode disponibilizar aos estudantes um formulário de avaliação do projeto. É sempre importante fazer isso para pensar em uma eventual reedição do trabalho. [A, O] |
Materiais, recursos e referências
Rachels, James. Os Elementos da filosofia Moral. São Paulo: AMGH, 2013.
Wiggins, Grant. Planejamento para a compreensão: alinhando currículo, avaliação e ensino por meio do planejamento reverso. Porto Alegre: Penso, 2019.
Site com material e orientações para o projeto.
Rubrica de avaliação do discurso.
Pesquisa orientada – link para cópia do material. (Para fazer isso você precisa ter um email Gmail e logar em sua conta).