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As emoções segundo Aristóteles

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Introdução

Os trechos abaixo, provenientes dos livros Retórica e Ética a Nicômaco de Aristóteles, apresentam uma exploração das emoções humanas e suas implicações éticas e retóricas.

No trecho da Retórica, o filósofo discute como as emoções afetam o processo de tomada de decisão e julgamento. Ele observa que as emoções podem distorcer nossa percepção da realidade, fazendo com que julguemos as mesmas situações de maneiras radicalmente diferentes, dependendo do nosso estado emocional. Por exemplo, quando estamos irritados, podemos ver um ato como malicioso, que de outra forma poderíamos ver como insignificante. Este entendimento é crucial para a retórica, pois sugere que alterar o estado emocional de uma audiência pode ser uma maneira eficaz de influenciar seu julgamento.

Por outro lado, no trecho da Ética a Nicômaco”, Aristóteles expande sua análise para incluir uma classificação das respostas emocionais humanas e como elas se relacionam com as virtudes éticas. Ele distingue entre paixões, faculdades e disposições, explicando que as paixões incluem emoções como medo e raiva, que são acompanhadas por prazer ou sofrimento. As faculdades são as capacidades de sentir essas paixões, enquanto as disposições determinam como respondemos às paixões de maneira boa ou má. Aristóteles argumenta que as virtudes morais envolvem a disposição correta em relação às paixões, o que implica uma moderação que não é nem excessiva nem deficiente. Este texto é central para a ética de Aristóteles, pois ele vincula a moralidade não apenas ao comportamento, mas também ao controle e moderação emocionais.

Textos de Aristóteles

Texto 1

Quando as pessoas se sentem tolerantes e amigáveis pensam de um modo, quando se sentem irritadas ou hostis, pensam algo totalmente diferente, ou a mesma coisa com uma intensidade diferente. Quando as pessoas têm sentimentos favoráveis ao sujeito que lhes é apresentado para julgamento, elas o veem como autor de um mal pequeno, se tanto. Mas quando têm sentimentos de hostilidade, formam uma opinião oposta. Do mesmo modo, se as pessoas estão ansiosas e alimentam grandes esperanças em relação a algo que lhes será agradável, elas pensam que isso certamente vai acontecer e seus efeitos serão bons. Mas quando elas estão indiferentes ou aborrecidas, não pensam assim.

Emoções são os movimentos da alma, sempre acompanhados por [graus variados de] sofrimento ou prazer, que afetam os homens, alterando seus julgamentos. Assim acontece quando eles estão zangados, com pena de alguém, ou com medo.

ARISTÓTELES. Retórica, Livro 11, 2, 1378a e seguintes.

Trecho da Ética a Nicômacos

(…) na alma se encontram três espécies de coisas — paixões, faculdades e disposições (…).

Por paixões quero significar os apetites, a cólera, o medo, a audácia, a inveja, a alegria, a amizade, o ódio, o desejo, a emulação, a compaixão, e de um modo geral os sentimentos que são acompanhados de prazer ou sofrimento; por faculdades quero significar aquelas coisas em razão das quais dizemos que somos capazes de sentir as paixões — a saber a faculdade de nos encolerizarmos, magoar-nos ou compadecer-nos —; por disposições, as coisas em razão das quais nossa posição em relação às paixões é boa ou má. Por exemplo, em relação à cólera, nossa posição é má se a sentimos de modo violento ou de modo muito fraco, e boa se a sentimos moderadamente; e da mesma maneira no que se relaciona com as outras paixões.

Ora, nem as virtudes nem as deficiências morais são paixões, pois não somos chamados bons ou maus por causa de nossas paixões e sim por causa das nossas virtudes ou vícios; e não somos louvados ou censurados por causa de nossas paixões (um homem não é louvado por sentir medo ou cólera, nem é censurado por simplesmente estar encolerizado, mas sim por estar encolerizado de certa maneira); mas somos louvados ou censurados por nossas virtudes ou vícios.

Além disso, sentimos cólera e medo sem nenhuma escolha de nossa parte, mas as virtudes são certos modos de escolha ou envolvem escolha. E mais, com respeito às paixões se diz que somos movidos, mas com relação às virtudes e aos vícios não se diz que somos movidos, e sim que temos esta ou aquela disposição.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, Livro 11, 5, 1105b19-1106a6.